Cobertura mamográfica no Brasil e os governos: não há motivo para comemorar

Em meio à crise política que o país viveu, com uma polarização jamais vista desde a redemocratização do país, e as consequências provenientes da Covid-19 que culminou numa grave crise sanitária, ficou notório também os impactos no rastreamento de câncer de mama, represando uma demanda tanto no rastreamento quanto no tratamento das pacientes. No intuito de avaliar não só esse cenário, mas toda a linha histórica do rastreamento mamográfico no país, o Dr. Ruffo de Freitas Junior, membro e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, coordenou estudo com a equipe da Rede Brasileira de pesquisa em Mastologia, revelando que as taxas médias de cobertura se mantiveram baixas nas últimas décadas, das quais não tiveram pandemia e houveram alternância no poder, o que comprova uma falta de maior eficácia nas políticas públicas para o combate dessa doença que é a segunda maior causa de morte da mulher brasileira.

De acordo com mastologista, o estudo calculou o número de mamografias realizadas e divididas pelo número de anos dos quais cada presidente governou. Os resultados apontaram que a cobertura em mulheres de idade entre 50 a 69 anos, usuárias do sistema público de saúde, foram as seguintes: 20,7% no Governo Lula (2008-2010), 29,6% Governo Dilma (2011-2014), 30% Governo Dilma (2015- 2016), 30% Governo Temer (2016-2018), 28,1% Governo Bolsonaro (2019). Os dados de 2020 e 2021 foram desconsiderados por conta do grande impacto negativo da Pandemia.

Ruffo de Freitas Júnior ressalta que a média foi parecida, deixando o país sempre abaixo do que é preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “A cobertura de rastreamento do câncer de mama é claramente baixa, independentemente de quem está governando o país, mantendo-se bem abaixo dos 70% recomendados pela OMS. E isso é preocupante, pois cada vez mais nos deparamos com diagnósticos avançados da doenças”, alerta.

Segundo ele, a falta de investimento do governo para aumentar a cobertura de rastreamento do câncer é um dos principais motivos. Ele considera que já tenha legislação suficiente para os processos andarem de forma melhor e mais abrangente, porém falta investimento, tanto no fator financeiro, mas de tempo e atenção para a estruturação de políticas direcionadas. “O cenário é extremamente preocupante, já que o câncer de mama representa 30,3% de todos os novos casos de câncer diagnosticado em mulheres no Brasil. Precisamos de políticas de estado que sejam levadas a sério e seguidas, independente das alternâncias de governo. O orçamento precisa garantir essa navegação das pacientes do câncer de mama”, afirma o mastologista.

O médico lembra que entre 2007 e 2020, o governo federal publicou diversas leis relacionadas ao câncer de mama no Brasil, dos quais 64% foram emitidas no primeiro mandato do governo Dilma. “Esta iniciativa pode justificar parcialmente o tímido aumento da cobertura de rastreamento observada nos anos subsequentes, embora outros fatores também possam estar envolvidos”, pontuou o doutor.

Para finalizar, o médico alerta que o câncer de mama é um problema de saúde pública e deve ser tratado como tal pelas autoridades. “Entendemos a complexa situação em outras áreas da Saúde neste país e nos chamou a atenção a falta de debate efetivo entre os candidatos presidenciais da última eleição sobre as perspectivas futuras do Sistema público de Saúde.

Passado o pleito nos cabe perguntar: o resultado das eleições finalmente reverbera em andamento na detecção de câncer de mama? Ou seja, a reflexão é de que os esforços para consolidar a triagem do câncer de mama e controle devem certamente sobrepor as diferenças políticas e ideológicas dos governantes.

Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Dr. Augusto Tufi Hassan, reforça que há leis o suficiente, porém é preciso maior fiscalização para que sejam cumpridas. “Definitivamente, falta potencializarmos o acesso das mulheres à prevenção e ao tratamento do câncer de mama no país. O Câncer não espera”, conclui.

Redação

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