Uma comunicação assertiva entre médico e paciente é a chave para o tratamento eficaz da dor – principalmente, quando se trata de pacientes oncológicos. Afinal, uma dor não controlada causa sofrimento e piora na qualidade de vida dos pacientes; resulta no sentimento de culpa dos familiares, que sentem raiva da equipe assistencial; bem como contribui para o risco de burnout da própria equipe assistencial.
Essa é uma das questões levantadas pela médica paliativista do Hospital Santa Rosa, em Cuiabá (MT), Paula Lorite Marochio, durante palestra sobre “Manejo da Dor em Cuidados Paliativos”. A atividade fez parte da programação especial em consonância com “Mês Mundial de Cuidados Paliativos” (data celebrada oficialmente no segundo sábado de outubro), que encerrou nesta quinta-feira (24).
“Cerca de 70% dos pacientes oncológicos em final de vida têm dor. E o que constatamos é que a dor é subtratada: há relato de dor em 50% dos pacientes conscientes em pelo menos metade do tempo de internação. Logo, precisamos fazer uma avaliação multidimensional da dor para estabelecer um diagnóstico correto das causas da dor. Reconhecer o mecanismo fisiopatológico e o modelo psicossocial da dor, assim como traçar um plano de tratamento individualizado”, ponderou.
A médica paliativista complementou o subtratamento da dor em pacientes oncológicos envolve diversas causas. “Existem fatores relacionados ao paciente e familiares; falhas na formação acadêmica de profissionais no que se refere aos métodos de alívio da dor; dificuldade demonstrada pelo profissional em acreditar na queixa do paciente; medo por parte dos profissionais em administrar analgésicos e opioides. Juntos, esses fatores podem trazer sofrimento desnecessário”.
Paula relembrou o conceito de “dor” pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, em inglês). “‘É uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada à lesão tecidual presente ou potencial, ou descrita em termos de tal lesão’. Isto é: a dor é subjetiva e pessoal. Tanto que o profissional precisa acreditar no paciente (a maior autoridade na sua dor), tratar a causa, avaliar adequadamente, valorizar os fatores psicológicos e as limitações funcionais, entre outros fatores”, alertou.
PANORAMA – Segundo estimativas da organização internacional não governamental The Worldwide Hospice Palliative Care Alliance (WHPCA), cerca de 40 milhões de pessoas em todo o mundo precisam de cuidados paliativos todos os anos, sendo que 20 milhões estão no fim da vida. A entidade aponta também que 18 milhões de pessoas no mundo morrem com dores e angústias evitáveis.