Sedentarismo, tabagismo, má alimentação e estresse são algumas das causas mais comuns de doenças cardíacas. A mudança dos hábitos é necessária para evitar esses problemas. Mas, e quando o paciente acaba de passar por procedimentos complexos e longas internações, como controlar fatores de risco para evitar um novo evento cardiovascular?
A reabilitação é popularmente conhecida por tratar pacientes após alguma intervenção cirúrgica, eventos graves e até mesmo depois da alta hospitalar. Contudo, ela também pode ser usada durante processos de internação, com objetivo de habilitar o paciente para procedimentos cirúrgicos. Ou seja, o tratamento pode ser feito durante e após a internação, e esse processo completo pode contribuir para uma melhor recuperação de modo geral.
De acordo com Raquel Caserta Eid, coordenadora de fisioterapia do Einstein, a reabilitação de pacientes graves que estão internados em decorrência de eventos cardiovasculares e/ou procedimentos cardíacos têm apresentado excelentes resultados. “Em geral, a prática visa a melhoria da atividade muscular do corpo e, consequentemente, funcionamento do coração com menor esforço”, observa.
Além disso, segundo o Dr. Marcelo Franken, gerente médico da Cardiologia do Einstein, os benefícios também passam por “redução da mortalidade de origem cardiovascular em pacientes que já sofreram um infarto agudo do miocárdio ou portadores de insuficiência cardíaca; aumento da capacidade de exercícios para minimizar o cansaço durante as atividades de rotina; melhora da autoconfiança, ajudando o paciente a reassumir suas atividades interrompidas pelo infarto, cirurgia ou transplante; e redução da ansiedade e prevenção dos estados de depressão comuns nos pacientes acometidos por um evento cardíaco agudo”.
Com base nas informações do Ministério da Saúde, em média, 114 mil brasileiros morrem de infarto por ano, o que equivale a 13 pessoas por hora. E em relação aos transplantes, conforme dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), foram feitas mais de 330 intervenções que envolvem o coração no país. Esses números apontam para o tamanho do impacto que os tratamentos cardíacos podem gerar para o sistema de saúde.
Por outro lado, um estudo desenvolvido nos Estados Unidos demonstrou que a reabilitação cardíaca está associada à redução do risco de readmissão e morte após infarto do miocárdio. A mortalidade preditiva foi de 1,8% para quem participou do programa e 20,5% para não participantes. A reabilitação cardíaca tem classificação I de recomendação do American College of Cardiology Foundation¹.
Apesar dos benefícios, um estudo recente realizado na Coréia apontou que os centros de reabilitação são subutilizados, sendo que apenas 1,5% dos pacientes elegíveis são indicados após a alta hospitalar para continuidade na reabilitação². Sendo assim, é essencial reforçar a importância do atendimento dessas unidades. “Além de todas as melhorias físicas que a reabilitação proporciona ao paciente, esse tipo de assistência também influencia diretamente na otimização de custos para as organizações de saúde, já que, por exemplo, pode diminuir as reinternações. Com isso, os proveitos são perceptíveis e comprovados para todos os envolvidos”, explica Claudia Laselva, diretora da Unidade Hospitalar Morumbi do Einstein.
Novo programa para pacientes graves
Com esse cenário, o Einstein inaugurou, em janeiro deste ano, um programa de reabilitação para pacientes graves internados, que funciona com dois objetivos principais: prepará-los para um melhor desfecho durante as cirurgias e retomar as funções principais após eventos agudos graves.
O programa funciona como um processo de intervenção estruturada, multidisciplinar e abrangente. Todas as etapas permeiam o treinamento físico programado, agregando estratégias para modificação do estilo de vida e controle dos fatores de risco cardiovascular, otimização e adesão à terapêutica médica, sessões de educação, informação e suporte psicológico.
Uma das etapas propostas, por exemplo, inclui a experiência de sair do leito e fazer atividades similares às de seu dia a dia para aproximar o paciente da vida real. “Este momento é muito importante para a reabilitação dos pacientes, pois além de se ver capaz de realizar todas as tarefas com riscos reduzidos, também assegura que ele esteja mais preparado para a realização da cirurgia ou o segmento do tratamento em casa”, observa Raquel.
A iniciativa conta com um espaço físico no Morumbi, dentro da Unidade Coronária, para pacientes em monitorização contínua e/ou dependentes de assistência ventilatória, e utiliza equipamentos, como esteira, bicicleta ergométrica, aparelhos de monitorização e fortalecimento muscular.
De acordo com Laselva, a implantação do programa se soma a outras iniciativas de inovação do Einstein no compromisso de atuar em toda a jornada do paciente. Um outro exemplo de iniciativa da organização é o serviço de cuidados Pós-Covid-19, que possibilita a continuação do tratamento mesmo depois da alta hospitalar. “Buscamos oferecer excelência em saúde em vista de melhores prognósticos e mais qualidade de vida para nossos pacientes com oferta de tratamento integral antes, durante e após o período de internação, prestando assistência para sintomas físicos, sensoriais e até emocionais”, destaca.
Referências:
- Shannon M. Dunlay, Quinn R. Pack, Randal J. Thomas, Jill M. Killian, Véronique L. Roger. Participation in Cardiac Rehabilitation, Readmissions, and Death After Acute Myocardial Infarction. The American Journal of Medicine, Volume 127, Issue 6, 2014, Pages 538-546.
- Sun-Hyung Kim, Jun-soo Ro ,Yoon Kim , Ja-Ho Leigh , Won-Seok Kim. Underutilization of Hospital-based Cardiac Rehabilitation after Acute Myocardial Infarction in Korea. J Korean Med Sci. 2020 Aug 3;35(30):e262.