“A vacinação é uma medida importante para conter a pandemia do novo Coronavírus, ou seja, evitar a transmissão da Covid-19 e o aparecimento de novas cepas”, explica Dra. Brianna Nicoletti Imunologista pela USP.
Além disso, segundo o pediatra Dr. Paulo Telles (da Sociedade Brasileira de Pediatria), a função mais importante das vacinas é conter os números de óbitos e as complicações decorrentes do contágio de todas as doenças.
“Seguimos na luta contra a Covid-19; a pandemia não terminou. A doença que matou mais de 600 mil brasileiros, levou, entre eles, 2.453 crianças. Se isso não comove os pais e avós indecisos, quero trazer uma reflexão sobre o tema para ajudar na decisão de vacinar ou não seus filhos e netos”, argumenta Dr. Paulo.
O pediatra alerta que, mesmo diante de uma variante mais tênue, como a Ômicron, não há dúvidas de que “a nossa melhor arma contra a doença segue sendo a vacina”.
Ele explica que a função mais importante de todas as vacinas não é só evitar a circulação do vírus, mas reduzir complicações e óbitos. “Por isso, não se deixe enganar com a informação de que vacinados seguem se infectando. Sim, isso é verdade. Porém, as pessoas se infectam menos e, o mais importante, internam e morrem muito, muito menos”, elucida o médico.
A preocupação dos médicos é que a doença afeta mais os não vacinados, ou seja, nesse grupo, infelizmente, ainda estão todas as crianças brasileiras.
“Dados norte-americanos mostram que internações de crianças seguem subindo de forma preocupante naquele país, porém as internações e óbitos em crianças e adolescentes têm sido praticamente exclusivas de pacientes não vacinados ou com vacinação incompleta”, informa o pediatra.
Segundo ele, um grande erro, deste o início da pandemia, foi comparar a incidência da doença e dos óbitos entre adultos e crianças, pois, por esse prisma, a doença parece extremamente benigna na faixa etária infantil. “Isso engana e esconde a relevância do vírus também nessa população. No Brasil, foram 34 mil hospitalizações por Covid-19 entre brasileiros com idade entre 0 e 19 anos. Perante as mais de 2.400 mortes, podemos dizer que, a cada 15 crianças hospitalizadas, uma morreu”, indica. Seria pouco se fosse o seu filho?
A vacina é perigosa?
Dra. Ana Loch Infectologista Pediátrica pela USP explica que a vacina contra Covid-19 já foi aprovada, e sua eficácia e segurança comprovadas. “Temos que pensar nas complicações que essa doença pode trazer e no número de crianças que perderam suas vidas quando ainda não existia a chance da vacina.” Reforça a médica.
A infectologista destaca que nos EUA já foram aplicadas mais de 5 milhões de doses da vacina em crianças de 5-11 anos, com efeitos e segurança dentro do esperado. De acordo com dados do CDC com 8 milhões de crianças vacinadas não houve nenhuma morte relacionada à vacina. Por outro lado, o vírus já matou mais de 1100 crianças entre 0-9 anos desde o início da pandemia.
O recado do Dr. Paulo é: “Não se esqueça, caso esteja preocupado com os efeitos a longo prazo da vacina, que a mesma proteína usada na vacina existe na doença. E, em todas as vacinas, sabemos que os efeitos imunológicos da doença são sempre piores que os da vacina. O ‘Covid longo’ (efeitos potenciais da doença a longo prazo) é um risco potencial muito mais real do que riscos possíveis da vacina”.
No Brasil, essa doença é um problema de saúde pública, com taxas de mortalidade 5 a 10 vezes maiores que as registradas no Reino Unido ou nos Estados Unidos. “Casos de síndrome inflamatória sistêmica, no Brasil, também tem desfechos muito piores que nos países citados acima (0,5 a 1% de óbitos contra 6% de óbitos no Brasil)”, especifica.
Para se ter ideia da mortalidade da Covid-19, Dr. Paulo traz dados de outras doenças imunopreveníveis, como influenza, meningite meningocócica e pneumocócica e rotavírus. “A Covid matou mais crianças, no ano passado, do que todas essas outras doenças no ano anterior ao início da vacinação contra essas quatro enfermidades”, divulga.
“Mas a pior pandemia sem dúvidas é a da desinformação. Quando o assunto é vacinar as crianças os ânimos se acirram. As redes sociais e seus pseudo experts inflamam-se em vídeos e textos vazios em evidência científica, mas ricos em persuasão e terror, os quais, para o público leigo, sem dúvidas, acabam fazendo surgir desconfiança e medo”, lamenta o médico. Ele comenta ainda o papel do Ministério da Saúde: “O pior é o próprio Ministério da Saúde, cujo papel seria informar os cidadãos, seguir fazendo um desserviço ao criar uma pesquisa pública sobre esse assunto já avaliado tecnicamente, de forma adequada pela Anvisa, órgão que possui essa função”.
Resposta simples e direta
“A resposta deve ser direta e clara, dirigida a todos: ‘Sim, devemos vacinar nossos pequenos brasileiros’”, comunica o pediatra que enumera outras 7 razões:
- Devemos vacinar porque é seguro. Já são mais de 8 milhões de doses aplicadas em crianças de 5 a 12 anos nos Estados Unidos;
- Os riscos são baixos e os efeitos colaterais são semelhantes aos das as outras vacinas do nosso calendário vacinal;
- O maior medo apregoado na internet, a miocardite, ocorreu em apenas 11 crianças e nenhuma de forma grave. Não há nenhum óbito secundário a vacina registrados nesta faixa etária;
- Todos os estudos para o desenvolvimento das vacinas foram feitos de forma adequada. Acelerada sim, mas não apressada, o que significa que todas as fases foram feitas de forma correta e as evidências foram muito claras;
- A vacina é eficaz porque a resposta imunológica é excelente e robusta nesta faixa etária, tendo conseguido evitar, após as duas doses de 10 mcg, 90% de qualquer forma de infecção;
- A variante Ômicron está circulando de forma assustadora pelo mundo, e não está diferente aqui. Sabemos que ela é mais transmissível, parece causar quadros menos graves, e pode escapar das vacinas do ponto de vista do risco de infecção. Mas, felizmente, as vacinas preservam seu papel primordial de evitar mortes e complicações, em todas as idades, mesmo frente a nova variante;
- Deixar as crianças sem vacina ainda na vigência deste novo surto significa assumir o risco de: explosão do número de casos infantis, maior número de internações, mais casos de “Covid longo” e suas complicações, como a miocardite (que é dezenas de vezes mais frequente pela doença do que no pós-vacina) e, pior, mais óbitos dos indivíduos que não puderam escolher se proteger de forma adequada, pois estão sob a responsabilidade de pais e tutores.
Caso Brasil
“O Brasil, com sua enorme extensão territorial e distribuição desigual da disponibilidade e do acesso à assistência de saúde de alta complexidade, apresentou números muito assustadores em relação à mortalidade geral, infantil e em gestantes, quando comparado aos países mais desenvolvidos”, informa o pediatra.
Por outro lado, Dr. Paulo reconhece que, “felizmente, o Brasil já possui um modelo de extremo sucesso em relação a rede de distribuição e aplicação de vacinas pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”.
Ele finaliza admitindo que não será possível, em curtíssimo prazo, melhorar todos os índices de assistência de saúde para cuidar das crianças brasileiras que ficarem graves após infectadas pelo Coronavírus. “Mas temos, sim, condições de evitar que fiquem graves, através da distribuição e aplicação universal das vacinas. Essa parece a única forma realista de proteger nossas crianças e controlar a gravidade da pandemia no país”, finaliza.
Vacinas contra Covid-19 em crianças: a posição do CEM COVID-19 AMB
A Associação Médica Brasileira (AMB), por meio do Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19, o CEM COVID-19 AMB, vem a público manifestar-se integralmente a favor da vacinação contra a Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos. Empenhamos nossa mensagem tranquilizadora às famílias brasileiras, baseada à luz das melhores evidências científicas.
Destacamos que a autorização da imunização na infância segue o mesmo rigor e normas de eficácia e segurança das demais faixas etárias. Atende de forma plena aos critérios exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, para vacinação de todos os públicos. Critérios estes foram igualmente adotados pela European Medicines Agency, EMA, Food and Drug Administration dos Estados Unidos, FDA, pela Divisão de Alimentos e Produtos para a Saúde do Canadá (HPFB), e outros órgãos similares de vários países de todo o mundo.
Lembramos que a liberação por parte da Anvisa, neste e em quaisquer casos/faixas etárias, somente ocorre após rigorosos estudos clínicos, tendo como voluntários milhares de indivíduos, com o objetivo de garantir a segurança e eficácia.
Especificamente quanto ao público infantil, dados de efetividade, em mundo real, vêm dos Estados Unidos, onde mais de 7 milhões de crianças já receberam a vacina da Pfizer, sendo que 2 milhões delas já receberam a segunda dose.
Infelizmente já registramos cerca de 300 óbitos na faixa etária de 5 e 11 anos desde o início da pandemia: média de 150 ao ano. Novas mortes são absolutamente evitáveis e temos obrigação de trabalhar nesse sentido.
Enfatizamos que crianças podem também serem acometidas pela Síndrome Inflamatória Multissistêmica associada ao SARS-Cov-2; desenvolverem sequelas e Covid Longa. Portanto, a vacinação é essencial para reduzir/evitar sofrimento, hospitalizações e mortes.
Além disso, a imunização é indispensável para reduzir a transmissão, em particular por enfrentarmos uma doença com ciclos inesperados e o surgimento de novas variantes. Vemos agora novas ondas na Europa e nos Estados Unidos, atingindo, proporcionalmente, muito mais crianças e adolescentes do que há dois anos. Faz-se necessária a urgente aquisição das doses pediátricas pelo Ministério da Saúde.
Pelo exposto, assim como por questões éticas, epidemiológicas e sanitárias, conclamamos todos os pais e/ou responsáveis a, quando as vacinas estiverem disponíveis, vacinarem seus filhos. Vacina é vida, vacinar, um ato de amor!
Nota CEM Covid_AMB sobre a “polemização” da vacina Covid em crianças de 5 a 11 anos:
O Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid_AMB, o CEM Covid da Associação Médica Brasileira, considera inaceitável e absolutamente inadequada a “polemização” incentivada por algumas pessoas sobre a vacina Covid em crianças de 5 a 11 anos.
Fartas evidências científicas comprovam a segurança e a eficácia da imunização nesse público específico. Imunização, aliás, já adotada com sucesso em diversos países do mundo.
É igualmente um desserviço do ponto de vista humano. O Brasil perde tempo na luta contra a Covid (mais uma vez), expõe as futuras gerações a riscos evitáveis e gera insegurança entre os cidadãos, entre outros problemas. Isso em virtude de uma polêmica infundada, negacionista à Ciência e irresponsável socialmente.
Faz cerca de um mês que se alonga um protelamento infrutífero, contraproducente e desnecessário, período durante o qual já poderíamos ter adiantado o processo vacinal das crianças, para um retorno mais tranquilo às atividades escolares inclusive.
É lamentável ver alguns agentes públicos alardeando que não vacinarão filhos seus, enquanto outros deixam de assumir suas responsabilidades por questões que, certamente, fogem do foco prioritário: o bem-estar e a saúde dos brasileiros.
São Paulo, 4 de janeiro de 2022
O Brasil deve temer a doença, nunca o remédio!
Diante de comentários de autoridades sobre possíveis riscos decorrentes da imunização de crianças de cinco a 11 anos contra a Covid-19, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) vem a público reiterar aos pais e responsáveis os seguintes pontos:
A população não deve temer a vacina, mas, sim, a doença que ela busca prevenir, bem como suas complicações, como a Covid Longa e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, manifestações que consolidam a necessidade da imunização do público infantil.
O acesso das crianças à vacina contra a Covid-19 é um direito que deve ser assegurado, o qual conta com o apoio da maioria dos brasileiros, conforme expresso em consulta pública realizada sobre o tema pelo Ministério da Saúde.
A vacinação desse público é estratégia importante para reduzir o número de mortes por conta da Covid-19 nessa faixa etária, no Brasil, cujos indicadores são mais expressivos do que em outras nações.
Até o momento, os estudos realizados apontam a eficácia e a segurança da vacina aplicada na população pediátrica, a qual é fundamental no esforço para reduzir as formas graves da Covid-19.
A vacina previne a morte, a dor, sofrimento, emergências e internação em todas as faixas etárias. Negar este benefício às crianças sem evidências científicas sólidas, bem como desestimular a adesão dos pais e dos responsáveis à imunização dos seus filhos, é um ato lamentável e irresponsável, que, infelizmente, pode custar vidas.
Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 2022.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA
Crianças em tratamento oncológico devem ser imunizadas contra a Covid-19, afirma SOBOPE
Após a liberação da vacina Pfizer-BioNTech pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério da Saúde anunciou nesta semana que a imunização das crianças de 5 a 11 anos de idade contra a Covid-19 deve iniciar em janeiro e priorizará grupos com deficiência permanente ou comorbidades. Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), a dose é segura para crianças que estão em tratamento oncológico.
“Não há contraindicação, considerando que essa faixa etária irá receber a vacina com um terço da quantidade da dose adulta. O que vimos ao redor do mundo foi uma taxa de infecção grave pela Covid em aproximadamente 20% das crianças em tratamento oncológico. Por isso, é importantíssimo que elas se vacinem, obedecendo algumas regras”, explica a oncologista pediátrica da SOBOPE, Dra. Maristella Bergamo.
=Para a imunização dos pacientes oncológicos, no entanto, há algumas orientações específicas. “O aconselhado é vacinar-se duas semanas antes da quimioterapia ou uma semana depois, sempre que possível. Outras indicações são não vacinar caso o pequeno esteja internado, com febre ou outro quadro viral associado. Seguindo as recomendações, qualquer criança em tratamento oncológico pode e deve ser vacinada”, ressalta Maristella.
A SOBOPE reforça a importância de todos serem imunizados. “Apesar de as crianças não terem apresentado os piores casos da doença, elas podem contribuir para a transmissibilidade do vírus. Então, se vacinando, estão protegendo não só elas mesmas, como todas as pessoas que vivem ao redor delas, avós, tios, professores, etc”, afirma a oncologista.