Dia Mundial do Câncer: pandemia agrava realidade da doença

Disseminação do novo Coronavírus atrasa diagnósticos e interfere nas chances de sucesso dos tratamentos

O Dia Mundial do Câncer, celebrado em 4 de fevereiro, tem por finalidade disseminar informações sobre prevenção e controle da doença e levar questões atuais à população em geral.  Dados de levantamentos recentes ratificam a urgência da conscientização sobre o cenário do câncer diante da disseminação do novo Coronavírus pelo mundo. “A pandemia não muda a realidade do câncer. Por medo de se contaminarem, muitos negligenciaram a necessidade de dar continuidade aos exames preventivos e, assim, reduziram as chances de sucesso dos tratamentos”, alerta o médico André de Moraes, do Centro de Oncologia Campinas (COC).

A análise do oncologista do COC se baseia nos pacientes que atende e também em números. Segundo levantamento feito pela Fundação do Câncer, a partir de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), houve queda de 84% no número de mamografias feitas no Brasil nos primeiros nove meses de 2020 na comparação com o mesmo período de 2019. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), cujas associadas respondem por 56% dos exames realizados na saúde suplementar no País, a redução foi de 46,4% no total de mamografias entre março e agosto de 2020 em relação a igual intervalo de 2019.

O atraso na identificação da doença, salienta André de Moraes, tem repercussão negativa nos prognósticos dos pacientes de câncer. “O diagnóstico tardio reduz significativamente as chances de melhores resultados no tratamento”, observa. E exemplifica. “No caso do câncer de intestino, quando a doença é detectada em razão de uma obstrução ou de um sinal mais grave, o paciente tem seis vezes mais chances de vir a óbito na comparação com o paciente cuja doença foi observada a partir do rastreamento regular de diagnóstico.”

As consequências negativas da pandemia no diagnóstico e tratamento do câncer também foram destacadas pela Fundação do Câncer, que citou os relatos do diretor do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, Normam Sharpless, para ilustrar as implicações. Sharpless estimou que a falta de rastreamento e tratamento durante a pandemia elevará em cerca de 1% o número de mortes por câncer naquele país. Observou ainda que, além dos cuidados com a saúde terem ficado em segundo plano, a pandemia desencadeou maior atenção e investimentos para a cura da Covid-19, ao mesmo tempo em que contribuiu para paralisar parcial ou totalmente pesquisas sobre câncer.

“Apesar da pandemia, o câncer continua fazendo parte da realidade e da vida das pessoas. Não se pode permitir que a pandemia restrinja as chances das pessoas de conseguirem um diagnóstico precoce e assim terem maior êxito no tratamento”, observou.

O oncologista reforçou também que os cuidados contra o câncer e contra a pandemia podem caminhar lado a lado. “Protocolos de segurança existem para serem respeitados. É imprescindível buscar cuidados médicos obedecendo as regras de prevenção ao contágio da Covid-19”, orienta.

Aumento de casos de Covid acende alerta para novos impactos no diagnóstico e tratamentos de tumores malignos

Nos últimos dias, diferentes cidades do Brasil voltaram registrar forte aumento no número de casos do novo Coronavírus. Com isso, em muitas localidades, governos não descartam a possibilidade de retomada de medidas mais restritivas de circulação da população caso os índices de contaminação pela Covid-19 sigam atingindo patamares mais elevados. Em São Paulo, o governo estadual decretou que aos finais de semana volte a figurar a fase vermelha e prevê o cancelamento cirurgias eletivas agendadas na rede pública.

Em meio a esse cenário, quem depende de tratamento médico continuado para doenças diversas se preocupa com os impactos dessa nova alta de casos de contaminação pelo Coronavírus e da consequente superlotação de ambientes hospitalares. É o caso de quem enfrenta o câncer, doença que, de acordo com o Centro Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC) – agência especializada da Organização Mundial de Saúde (OMS) – afeta 1,3 milhão de brasileiros e corresponde à realidade de 43,8 milhões de pessoas pelo mundo. Uma estimativa das Sociedades Brasileiras de Patologia (SBP) e de Cirurgia Oncológica (SBCO) apontou que nos primeiros meses da pandemia 70% das cirurgias oncológicas foram adiadas. Além disso, ao menos 70 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer devido a não realização de exames essenciais para identificar a doença.

Para que esses índices preocupantes não sofram ainda mais elevações, é preciso alertar os pacientes oncológicos e a população em geral sobre como atrasos nos cuidados médicos adequados pode comprometer, até irreversivelmente, o sucesso na luta contra o câncer. E é com esse objetivo que o Instituto Oncoclínicas – em parceria com sociedades de especialidades médicas, entidades não governamentais de suporte a pacientes oncológicos, instituições de saúde e farmacêuticas – criou movimento O Câncer Não Espera.

Aberta à participação de empresas, entidades ligadas à área médica ou qualquer cidadão engajado na luta em favor da vida e da saúde dos brasileiros, a mobilização tem por objetivo alertar a sociedade brasileira para os riscos do adiamento de diagnósticos, exames, cirurgias e tratamentos contra o câncer em função do temor relacionado ao Covid-19.

“Tivemos vários aprendizados nesses dez meses e nessa nova etapa da pandemia precisamos reafirmar aos nossos pacientes a importância de não descuidar dos tratamentos. O câncer antes da pandemia já ocupava o segundo lugar no ranking das principais causas de morte no Brasil e só mudaremos essa realidade se mantivermos a vigilância ativa para que o diagnóstico de tumores malignos seja feito no início e as condutas terapêuticas essenciais sigam sendo realizados”, afirma um dos idealizadores da campanha, o oncologista Bruno Ferrari.

Para ele, que é também fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas, é imperativo que o combate ao câncer não fique em segundo plano. “A OMS afirmou que, mesmo durante a pandemia, o câncer é considerado uma doença de emergência. O câncer não negocia prazos”, alerta.

Assim como a continuidade do tratamento, o médico lembra que a atenção para que a doença seja detectada precocemente não pode ser descuidada. “É imprescindível garantir a segurança dos que precisam ir a laboratórios, clínicas e aos hospitais, com sistemas ainda mais rigorosos para evitar o contágio de Covid-19. Nossa intenção, a partir desse movimento, é alertar o público sobre a necessidade de preservarmos os fluxos essenciais para a manutenção da linha de cuidado oncológico e propor uma reflexão para que a pandemia não gere outros reflexos negativos para a saúde dos brasileiros”, completa Bruno Ferrari.

Para quem tem o diagnóstico de câncer, o oncologista lembra que é importante a população estar ciente de seus direitos com relação ao acesso às terapias de controle da doença. No caso daqueles que optaram diretamente por adiar suas condutas de cuidado oncológico, ele frisa que manter o contato com o médico responsável é sempre a melhor alternativa antes de qualquer definição.

A percepção do médico é reforçada por um estudo publicado no fim do ano passado pelo The British Medical Journal. A análise mostra que, a cada quatro semanas de atraso no tratamento do câncer, o risco de morte dos pacientes aumenta até 13%. “É essencial avaliar cada paciente oncológico de forma individualizada. Converse com o especialista responsável pelo cuidado para saber da real necessidade de ir ao hospital/clínica. Isso garantirá mais segurança na tomada de decisão sobre como proceder. Mantenham sua rotina de terapias e compartilhem dúvidas e anseios com os profissionais responsáveis por sua linha de cuidado”, explica Bruno Ferrari.

Telemedicina e novas alternativas de tratamento podem assegurar fluxos

Diante das incertezas sobre os avanços do novo vírus entre a população e enquanto a vacinação ainda não está disponível a todos, Bruno Ferrari acredita que a telemedicina segue sendo ferramenta que pode ajudar muito em casos de pacientes que não necessitam de atendimento presencial, ou como pré-triagem até mesmo na avaliação de necessidade do deslocamento, sendo um suporte relevante. “Seguindo a legislação vigente, podemos proporcionar o acompanhamento de pacientes, tanto para um primeiro atendimento quanto para casos em seguimento, por meio dessa plataforma. Essa possibilidade de contato virtual segue, obviamente, critérios que o médico avaliará caso a caso”, diz.

Outra possibilidade que, adicionalmente, vem sendo discutida entre a comunidade médica e o poder público é a ampliação do uso de medicações orais em situações em substituição à quimioterapia endovenosa, que depende de deslocamentos até um hospital ou clínica para ser realizada. A proposta, aprovada pelo Senado Federal em junho de 2020, ainda aguarda a votação pela Câmara dos Deputados. Ainda sem data certa para ser transformada em Lei, essa linha de medicamentos, quando aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), passaria também a constar automaticamente no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e permitiria que pacientes com plano de saúde tenham acesso a esses remédios avançados de controle do câncer.

“Demos um passo importante para facilitar o acesso dos pacientes oncológicos às melhores terapias disponíveis no mercado. Agora é essencial que seja dada celeridade à votação na Câmara dos Deputados para que este projeto seja sancionado como lei pelo Governo Federal. Essa disponibilidade deveria se estender ao sistema público de saúde. É um direito de todos os pacientes. É um tema que precisa ser tratado em caráter de emergência”, pontua o fundador do Grupo Oncoclínicas.

Em tempos de Covid-19, ele reforça que é essencial entender as especificidades da linha de cuidado oncológico e conferir o olhar humanizado. “Os pacientes precisam se sentir, acima de tudo, assistidos em suas individualidades”, finaliza Bruno Ferrari.

Vacinação

De acordo com o Plano Nacional de Vacinação divulgado até o momento pelo Ministério da Saúde, o câncer consta como critério de qualificação para imunização no grupo prioritário que considera uma grande lista de comorbidades e outros perfis que devem ser imunizados dentro de um bloco que contemplaria 77 milhões de brasileiros. Além das doenças oncológicas, a relação de condições de saúde que fazem parte dessa etapa inclui doenças crônicas como diabetes, hipertensão grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme e obesidade grave. Eles seriam contemplados em uma futura segunda etapa da vacinação, mas o escalonamento para aplicação das doses do imunizante se dará conforme a disponibilidade das doses de vacina, após liberação pela Anvisa, segundo o governo federal.

Para esse público, portanto, não há datas de início e término da distribuição das doses estipuladas. Os critérios específicos para inclusão de quem tem câncer da mesma forma permanente indefinidos, tais como documentos a serem apresentados para possível pré-cadastro ou ainda se se haverá alguma restrição relacionada ao estadiamento da doença, tipo de tratamento adotado no combate ao tumor ou ainda grau de risco à saúde por conta de uma possível contaminação pela Covid-19.

De acordo com a comunidade médica, de toda forma, pacientes oncológicos em geral devem ser vacinados o quanto antes. Possíveis restrições podem ser adotadas caso a equipe envolvida diretamente na linha de cuidado considere pertinente, cabendo a estes responsáveis orientar cada indivíduo de forma mais específica.

Interessados em participar e conhecer mais detalhes sobre o movimento O Câncer não Espera podem encontrar mais informações no www.cancernaoespera.com.br.

O papel da medicina preventiva na cura e prevenção à doença

Segundo dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer), publicados na “Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil”, a incidência e a mortalidade por câncer é o principal problema de saúde pública no mundo, sendo a doença um dos quatro principais motivos de morte antes dos 70 anos de idade na maioria dos países.

Criado por uma iniciativa global da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) – e com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) -, o Dia Mundial de Combate ao Câncer, comemorado em 4 de fevereiro, surgiu como uma forma de conscientizar sobre a importância do diagnóstico precoce desta doença, assim como incentivar um modo de vida saudável e preventivo.

Em 2018, a mais recente estimativa mundial – também apontada no relatório do INCA -, mostrou que ocorreram 18 milhões de novos casos de câncer no mundo, sendo que 9,6 milhões foram a óbito. Um dos motivos para esse índice de chance de cura ser menor que 50%, segundo a oncologista Camila Guerra, do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI), é a falta de tratamento médico preventivo, que além de evitar o surgimento da doença, proporciona o diagnóstico precoce que facilita a cura.

“Um dos papéis da medicina preventiva é ajudar a evitar que procedimentos mais invasivos ocorram no tratamento das doenças e isso também se enquadra na prevenção e detecção do câncer. Além da prevenção primária, o paciente oncológico precisa buscar formas de impedir o avanço do seu quadro clínico, e esse também é um dos papéis que desempenhamos no tratamento destes pacientes nos Centros de Medicina Preventiva do GNDI”, explica a médica, que atua nos programas específicos de oncologia nas Unidades de Medicina Preventiva do Grupo, pioneiro há mais de 25 anos neste tipo de tratamento.

Hoje, os dados do INCA também apontam que o tipo de câncer mais incidente no mundo é o de pulmão, juntamente com o de mama, seguido pelo câncer de cólon, reto e próstata. O câncer também tem incidência maior em homens, representando 53% dos novos casos no mundo em 2018, e 47% em mulheres. Para a Dra. Camila, a busca por tratamentos preventivos é mais comum por pessoas do sexo feminino que, normalmente, recebem o diagnóstico precoce e ganham mais longevidade e chances de cura.

O movimento da medicina preventiva surgiu entre o período de 1920 e 1950 na Inglaterra, EUA e Canadá, e foi incorporado no GNDI em 1982, sendo o grupo a primeira empresa e a principal referência do assunto no País. Nos tratamentos preventivos de oncologia, a rede conta com equipes multidisciplinares especializadas nas Unidades de Medicina Preventiva, que apresentam infraestrutura adequada para a realização de atendimento médico multiprofissional, grupos de apoio e centro de infusão quimioterápico. Com a incorporação destes programas, os diagnósticos precoces aumentaram, interferindo em queda nas internações. No ano passado, ano do início da pandemia, o Grupo conseguiu dar suporte aos pacientes através da telemedicina e central telefônica de monitoramento, ajustando medicações e intensificando cuidados.

“A prevenção do câncer no paciente oncológico proporcionará maior chance de cura, porém, se a doença já estiver diagnosticada, precisamos oferecer a medicação certa no tempo adequado. Hoje, contamos com centros de Oncologia com equipes especializadas, tratamentos personalizados com medicamentos inteligentes que atuam diretamente no tumor, além de ambulatórios com equipe multidisciplinar que auxiliam o paciente oncológico nos cuidados além da quimioterapia, como nutricional, psicólogo, dor, entre outros”, explica a Dra. Camila Guerra.

Redação

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