A importância de cuidar do luto de pacientes com doenças crônicas ameaçadoras da vida e de seus familiares é o mote da campanha pelo Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, celebrado este ano no dia 8 de outubro. Com o tema “Corações e Comunidades Curativas”, a The Worldwide Hospice Palliative Care Alliance (WHPCA), organização internacional não governamental que se concentra no desenvolvimento dos Cuidados Paliativos e Hospices, chama atenção para os benefícios de uma abordagem multidisciplinar, que proporcione bem-estar físico, emocional, social e espiritual ao paciente, mas também aos seus familiares.
De acordo com a entidade, nos últimos dois anos mais de 120 milhões de pessoas morreram no mundo, levando a mais de 1 bilhão de pessoas, entre familiares e cuidadores, a sofrer com a perda de entes queridos. Para especialistas, esse luto poderia ser vivenciado de uma forma mais humana e consciente, mitigando os impactos negativos desse momento. Os Cuidados Paliativos cumprem esse papel ao oferecer o cuidado do paciente e seus familiares, promovendo o controle adequado dos sintomas, mas também respeitando as crenças, valores e outras questões pessoais de cada indivíduo. “Nos Cuidados Paliativos, o paciente é visto por uma equipe multidisciplinar como protagonista do seu cuidado, valorizando tudo aquilo que faz sentido para ele e lhe proporcione bem-estar”, explica Yanne Amorim, médica especialista em Cuidados Paliativos e coordenadora médica da Clínica Florence em Salvador, único Hospital de Transição de Cuidados do Norte/Nordeste, especializado em Cuidados Paliativos de fim de vida – perfil Hospice.
Ela ressalta também que essa abordagem não é restrita ao período que antecede o falecimento, sendo ideal que se comece de forma precoce quando ainda há possibilidade de tratamento capaz de modificar a doença. Essa é uma forma de garantir mais qualidade de vida, conforto e acolhimento ao paciente e seus familiares. “O foco deixa de ser na doença, reforçamos a vida do paciente, quem ele é, o que gosta, o que lhe traz bem-estar. Dessa forma, reafirmamos a vida sem travar uma luta contra a morte, afinal a morte é uma etapa natural da vida”, acrescenta a médica.
Essa abordagem permite que o paciente e seus familiares vivenciem o processo de finitude com mais leveza e consciência, mitigando a dor da despedida. Com câncer de próstata, o pai da assistente social Luciane Silveira recebeu cuidados paliativos de fim de vida durante internamento na Florence, garantindo o convívio com parentes e amigos com mais liberdade. “Foi um processo que proporcionou conforto a ele, que estava sempre acompanhado da família e de pessoas da igreja, além de poder tocar sua gaita. A partida foi construída com ele, o que permitiu uma despedida serena e com muita paz, respeitando os procedimentos que ele queria fazer. Nossa fé nos fortaleceu”, conta Luciane.
Para ela, o apoio e tranquilidade transmitida pela equipe multidisciplinar também foi um diferencial. “Família, clínica e equipe estavam em sintonia. A gente percebia que os profissionais de saúde estavam inseridos no contexto de conforto, respeitando e ouvindo ele e a gente. Isso nos ajudou muito e trouxe alegria ao ver que os profissionais também foram se despedir de meu pai quando chegou o momento da sua partida”.
Para o médico intensivista e paliativista, João Gabriel Ramos, membro do Comitê de Cuidados Paliativos da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e gerente médico da Clínica Florence, esse olhar ao familiar é um diferencial importante dessa abordagem mais completa. “Quando uma pessoa tem uma doença em estágio avançado e sem possibilidade de cura, toda a família e núcleo próximo também sofre. Por isso, os cuidadores também precisam de cuidado, o que é feito com o suporte da equipe multidisciplinar, que engloba psicólogos e assistentes sociais. Desta forma, eles são acolhidos e preparados para viver esse momento sensível da melhor maneira possível”, pontua.