Impactos da seletividade alimentar no autismo

Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas no espectro, a Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) elaborou um projeto de atendimento integral de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A University of Massachusetts Medical School pontua que 67% das crianças com TEA apresentam seletividade alimentar. A hipersensibilidade e a inflexibilidade comportamental são duas das principais causas de sua ocorrência.

A seletividade alimentar é um comportamento caracterizado por três aspectos: recusa de alimentos, repertório alimentar limitado e a frequência de ingestão de alimentos únicos.

Esse comportamento acaba sendo uma preocupação de muitos pais durante as refeições de seus filhos.

Quando falamos de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), de acordo com uma pesquisa realizada em 2010 pela University of Massachusetts Medical School, 67% das crianças apresentam seletividade alimentar.

A recusa alimentar no autismo está conectada principalmente a dois fatores: a hipersensibilidade e a inflexibilidade comportamental. A hipersensibilidade é caracterizada pela reação aumentada de algumas experiências sensoriais como, por exemplo, luminosidade, cheiros, sons – diversos estímulos sensoriais são muito mais intensos. Já a inflexibilidade comportamental é algo que compreende todas as áreas da vida de uma pessoa com TEA; trata-se de um padrão rígido de comportamento, com uma rotina “ritualizada” na qual o indivíduo sente a necessidade de comer os mesmos alimentos todos os dias. A descoberta da motivação da seletividade alimentar é o primeiro passo para entender e ajudar a criança que está enfrentando esse problema.

De acordo com a neuropediatra e professora da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR), Mariane Wehmuth, se a restrição acontece por conta da sensibilidade, o tratamento mais adequado é a terapia de integração sensorial, que também pode ajudar com a seletividade alimentar. Em casos em que essa seletividade é causada pela inflexibilidade no comportamento, o ideal é uma terapia comportamental, para que eles possam melhorar da intransigência não apenas em relação à seletividade, mas também em diversos aspectos afetados pelo autismo.

Para além das questões comportamentais e de reeducação alimentar, o chanceler do Mackenzie, Robinson Grangeiro, diz que “seria muito importante a articulação de políticas públicas de saúde e iniciativas de organizações sociais envolvidas ao combate à insegurança alimentar, a fim de proporcionar acesso à alimentação variada, sob supervisão interdisciplinar de médicos, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais”.

Por conta dos altos níveis de incidência, os pais de autistas ficam apavorados ao presenciarem as dificuldades alimentares dos seus filhos e muitas vezes não sabem como ajudar. Para Christiane Silvestre, psicóloga comportamental da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e docente do programa de pós-graduação, a alimentação é algo muito disruptivo. “Quando percebem que o filho tem dificuldade em comer diversos alimentos os pais acabam ficando extremamente preocupados com a saúde dos filhos”.

Christiane também comentou um pouco sobre um dos métodos de dessensibilização na alimentação: “Fazemos um acordo com os pais, escolhemos um alimento em particular que queiram que a criança ingira, que tenha um peso emocional e que seja nutritivo. Depois disso, o filho passa por várias etapas para ir gradualmente se dessensibilizando”.

Esse tratamento envolve desde olhar o alimento, se acostumar com a cor, cheiro, textura, até que finalmente a criança esteja preparada para comer. A partir disso, a família também aprende como fazer o mesmo com outros alimentos. “A criança com autismo vai continuar tendo dificuldade com a invariabilidade, mas os tratamentos podem melhorar a qualidade de vida, a saúde física e emocional, além de melhorar a relação familiar”, afirmou Christiane.

Projeto Wings-Centro de Reabilitação Mackenzie Curitiba

Atualmente, a FEMPAR elabora um projeto que garante o atendimento integral de pessoas com transtorno do espectro autista, incluindo terapia, suporte escolar, familiar e atividades extracurriculares em um só local.

Intitulado de Projeto Wings-Centro de Reabilitação Mackenzie Curitiba, a ação será inaugurada em novembro de 2022 e possui como principais objetivos melhorar a qualidade de vida das pessoas no espectro, respeitando a neurodiversidade, dando suporte às famílias e escolas e melhorando a inserção das pessoas com TEA na sociedade.

O projeto inicialmente aceitará crianças e adolescentes de até 16 anos e separará os jovens por idade e nível de suporte. Aqueles que ainda não possuem o diagnóstico confirmado, mas que apresentam sinais de autismo, também serão aceitos para que seja feita a estimulação precoce – isto é, crianças que apresentam sinais de autismo ou problemas no desenvolvimento.

Gerenciado pelo reverendo Ricardo Cassab e pela doutora Mariane Wehmuth, o Wings pretende acompanhar pessoas com TEA até o início da vida adulta, visando a maior autonomia e inclusão na sociedade e no mercado de trabalho.

A palavra “Wings” que dá nome ao projeto é uma homenagem à médica psiquiatra inglesa Lorna Wing, uma das mais importantes estudiosas sobre o autismo e que também fundou no Reino Unido a National Autistic Society.

Redação

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