Dia Nacional da Mamografia: pandemia levou à queda de 84% na busca por exame

A pandemia da Covid-19, que determinou um regime de quarentena sem precedentes pelo mundo, tem apresentado impactos diretos na oncologia e mastologia. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), 70 mil diagnósticos de câncer deixaram de ser realizados no período mais crítico da pandemia em 2020, entre os meses de março e junho. O Sistema Único de Saúde (SUS) indica ainda que entre janeiro e junho de 2019 foram realizados 180.093 exames na rede pública, enquanto no mesmo período de 2020 a quantidade de exames caiu para 131.617. E os reflexos dessa realidade podem a curto e médio prazos desencadear um aumento nos índices de tumores descobertos em fase mais avançada.

No caso específico dos tumores de mama – os mais comuns em mulheres depois do câncer de pele -, números divulgados pelo Ministério da Saúde em outubro mostraram que houve queda de 84% no número de mamografias feitas no país durante a pandemia do novo coronavírus, em comparação ao mesmo período do ano passado. A estimativa foi feita pela Fundação do Câncer, com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS).

Complementarmente, um outro dado, da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) – que representa empresas do segmento de saúde suplementar – aponta uma queda na quantidade de mamografias realizadas na rede privada do país de 46,4% quando comparado o período de março a agosto de 2020 com os mesmos meses de 2019.

Os índices relacionados à diminuição no rastreamento são preocupantes e acendem um sinal de alerta sobre os prejuízos causados por essa realidade na luta contra o câncer de mama. A ocorrência da doença por aqui vem apresentando crescimento constante: são 66.280 novos casos esperados, com um risco estimado de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres por ano para o triênio 2020-2022 – números que ainda estão abaixo da incidência observada em países desenvolvidos, mas cuja tendência de aumento segue em ritmo acelerado, proporcional às taxas de envelhecimento da população.

Para o oncologista Bruno Ferrari, fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas, este cenário exige esforços contínuos no sentido de aumentar a taxa de cobertura da mamografia de rastreamento populacional, assim como o nível de alerta das mulheres para alterações na mama, requerendo atenção dos especialistas para que o câncer de mama seja diagnosticado da forma mais precoce possível.

“As campanhas de conscientização sobre a doença e alerta para que a população esteja munida de informações sobre os impactos positivos da descoberta de tumores logo no início de seu desenvolvimento são primordiais para a redução das taxas de letalidade do câncer de mama. A nossa batalha pelo diagnóstico precoce deve continuar, por ele significar maior número de pacientes curados. No entanto, nos últimos seis meses observamos uma queda na realização da mamografia”, diz o médico.

Ele alerta que se deixarmos de lado a vigilância ativa, no pós pandemia há grandes chances de observarmos um aumento considerável de diagnósticos tardios da doença. O exame de imagem na qual a mama é comprimida permite que sejam identificados tumores menores que 1 cm e lesões em início, sendo determinante para a descoberta do câncer de mama logo no início.

“O câncer de mama é o segundo mais comum entre mulheres no país e eram esperados quase 67 mil novos diagnósticos, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), até o fim deste ano. De forma geral, a mamografia deve ser realizada anualmente por todas as mulheres acima dos 40 anos e a decisão por adiar ou não esse exame só deve ser tomada mediante o aconselhamento médico”, ressalta Max Mano, oncologista clínico e especialista no tratamento do câncer de mama do Grupo Oncoclínicas

As chances de cura chegam a 95% ou mais quando o tumor é descoberto no início, sendo o tratamento menos invasivo, o que melhora, em muito, a qualidade de vida durante e após o tratamento da doença. “Mulheres que tratam ou já tiveram câncer de mama, bem como aquelas com histórico de câncer de mama entre parentes próximas (irmãs, mães) e/ou que têm mutações genéticas hereditárias já identificadas, não devem jamais deixar de fazer os controles sem orientação do especialista”, completa Max Mano.

Redução no número de cirurgias também preocupa

Outro ponto de atenção desencadeado pela pandemia está relacionado ao adiamento ou cancelamento de cirurgias oncológicas. Especificamente nos casos de câncer de mama, um recorte da situação feito pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) nos meses de abril e maio de 2020 mostrou que nos grandes centros hospitalares de oncologia – públicos e privados – houve uma queda de 75% no movimento cirúrgico em comparação aos registros de 2019.

“Isso vai impactar na sobrevida dos nossos pacientes e isso é pior que a própria pandemia. Precisamos manter a população munida de informações relativas aos fluxos seguros que vêm sendo adotados para que eles possam estar confiantes para seguir com as orientações de tratamento devido, de acordo com cada caso”, alerta Bruno Ferrari.

O médico reforça que o câncer faz parte do rol de doenças estabelecido pelo Ministério da Saúde, cujo tratamento não pode ser considerado eletivo. Atualmente, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,3 milhão de brasileiros têm tumores malignos e estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam que são esperados ao menos outros 625 mil novos diagnósticos da doença até o final de 2021.

O Câncer não Espera

Apesar da pandemia e do medo da contaminação pelo Coronavírus, é preciso que as mulheres mantenham seus controles em dia para que o combate ao câncer de mama não seja deixado em segundo plano. Esse é o alerta do movimento “O Câncer Não Espera. Cuide-se Já” à sociedade em geral e que ressalta ainda uma importante informação: busque sempre saber sobre os fluxos seguros implementados pelos centros de referência em atendimento e realização de exames diagnósticos.

Voltado ao alerta aos pacientes oncológicos e a população em geral sobre como atrasos nos cuidados médicos adequados pode comprometer, até irreversivelmente, o sucesso na luta contra o câncer, a iniciativa, liderada pelo Instituto Oncoclínicas, é apoiada por entidades como a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca), Instituto Oncoguia , Movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC) e Rede Inspire Ser.

A mobilização também conquistou o reforço voluntário de personalidades como as atrizes Suzana Vieira, Mariana Rios e Priscila Fantin, os cantores Ivete Sangalo, Elba Ramalho, Bell Marques, Leo Jaime e Tomate, a jornalista Mona Lisa Duperon e o medalhista olímpico com a seleção brasileira de vôlei Maurício Lima.

Empresas, entidades ligadas à área médica ou qualquer cidadão engajado na luta em favor da vida e da saúde dos brasileiros podem aderir à campanha. Os interessados encontram mais informações no site www.ocancernaoespera.com.br.

Redação

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