Sobrecarga de funcionários, falta de equipamentos e dificuldades operacionais. Foram vários os impactos da pandemia nas instituições de saúde. De acordo com o médico especialista em Segurança do Paciente e diretor-científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), Dr. Lucas Zambon, agora é o momento de recuperação. Dentre os pilares que os gestores de saúde deveriam considerar, ele cita a melhoria da qualidade.
Isso porque, esse foi um dos grandes desafios durante o período, o que contribuiu para que houvesse um acúmulo dos riscos nas unidades. Primeiro, porque o setor da saúde precisou lidar com a incerteza em relação aos tratamentos para combater o vírus da Covid-19. Depois, com a escassez de equipamentos e, por fim, a sobrecarga de trabalho e os crescentes casos de burnout entre os profissionais.
Com isso, a sensação de insegurança tornou-se crescente e os riscos ficaram cada vez maiores. Zambon destacou que ainda não há publicações consistentes sobre os dados da segurança do paciente durante esse período, mas que é nítido que o momento foi de grande dificuldade para garanti-la e contribuiu para a ocorrência de eventos adversos – o que já era uma questão preocupante antes da pandemia e se intensificou no período.
“Uma vez que já não nos encontramos em cenário crítico, é possível retomar o fôlego no sentido de promover mudanças que impactem positivamente os pacientes e o sistema de saúde”, pontuou.
Para obter resultados e contribuir com a recuperação das instituições, Zambon aconselha que é preciso estabelecer estruturas e processos. O primeiro passo é ter profissionais capacitados em Sistemas Complexos, Fatores Humanos, Ciência da Melhoria, Trabalho em Equipe, entre outros. “Esses temas são fundamentais para sustentar um sistema que busca aprender com seus erros e melhorar a segurança do paciente”, explicou.
Dentre as formas de se aprimorar, estão os cursos e treinamentos. O IBSP, por exemplo, oferece um Programa de Qualificação em Segurança do Paciente on-line que aborda os principais pontos necessários para que as instituições possam ter uma força de trabalho capaz de sustentar um sistema de melhoria.
Os benefícios da melhora são múltiplos e vão desde a redução de custos até a redução de mortes. Isso porque, segundo a Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), a carga de danos à saúde, causados por cuidados inseguros, é estimada em 64 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) por ano – taxa semelhante à da HIV/AIDS.
“Uma abordagem de capital humano sugere que eliminar eventos adversos evitáveis poderia impulsionar o crescimento econômico global em mais de 0,7% ao ano. Com isso, soma mais de US$ 29 trilhões, ou cerca de 36% da produção global atual ao longo de uma década”, finalizou Zambon.