Diretrizes nacionais para manejo de potenciais doadores de órgãos em morte encefálica

A perda de potenciais doadores de órgãos por parada cardíaca é uma grande fragilidade do processo de doação de órgãos no Brasil. Isso porque quando o coração para de bater, todos os órgãos morrem, impossibilitando a doação. Nesse contexto, o manejo do paciente com morte encefálica impacta diretamente na oferta de órgãos disponíveis.

Visando auxiliar profissionais de saúde na mitigação dos principais riscos envolvidos na perda de potenciais doadores, foi publicado um guia chamado ‘Diretrizes brasileiras para o manejo de potenciais doadores de órgãos em morte encefálica’. O documento atualiza as principais recomendações clínicas, elaboradas por um conjunto de especialistas a partir das evidências científicas mais recentes disponíveis na literatura médica.

No final de 2020, o documento foi publicado na revista Annals of Intensive Care Medicine. Com o objetivo de ampliar o acesso aos profissionais brasileiros, uma versão em língua portuguesa acaba de ser publicada na Revista Brasileira de Terapia Intensiva (RBTI), uma das principais publicações da área.

A iniciativa é do Projeto DONORS, executado pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), via PROADI-SUS, e contou com uma força-tarefa composta pelas Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), Brazilian Research in Critical Care Network (BRICNet) e Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes (CGSNT).

O desenvolvimento do documento visou, primeiramente, a realização do Estudo DONORS, outra ação do Projeto. O investigador principal, Glauco Westphal, ressalta que a atualização das Diretrizes baseou a elaboração do checklist que foi avaliado no Estudo DONORS. “O escopo do estudo contempla a implementação de um checklist baseado em evidências composto por metas clínicas direcionadas à manutenção da estabilidade hemodinâmica do potencial doador e da integridade dos órgãos, como por exemplo, o controle de pressão arterial, da temperatura, dos eletrólitos e o uso de parâmetros ventilatórios protetores”.

Estudo DONORS é o maior ensaio clínico randomizado com doadores de órgãos no mundo, que avalia se o uso do checklist baseado nessas Diretrizes pode contribuir com a redução das perdas de potenciais doadores. Ao todo, foram incluídos 1.535 pacientes em 19 estados e Distrito Federal, provenientes de 63 hospitais¹.

Além disso, Westphal destaca que o documento deve auxiliar a reduzir a heterogeneidade das condutas e embasar as rotinas de cuidado desses pacientes nas Unidades de Terapia Intensiva. “As Diretrizes possibilitam guiar o cuidado não só nos hospitais que fizeram parte do Estudo DONORS, mas também servir como instrumento norteador para as Centrais de Estaduais de Transplante para qualificação profissional. Além disso, com uma publicação internacional que antecedeu a versão brasileira, entende-se que isso venha a ser uma contribuição à toda comunidade de médicos intensivistas”.

A líder operacional do projeto no Hospital Moinhos de Vento, Caroline Robinson, destaca que, apesar de uma Diretriz já ter sido publicada em 2011, a revisão sistemática da literatura e a reunião de diversas instituições para a construção do documento foi essencial para manter as recomendações atualizadas.

Com a chegada da pandemia, houve uma queda de 12,7% na taxa de doadores efetivos no Brasil em 2020, segundo dados da ABTO² (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos).

projeto DONORS

O projeto DONORS – Estratégias para otimizar a assistência a potenciais doadores – é um projeto realizado pelo Hospital Moinhos de Vento via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS). O propósito da iniciativa é contribuir com a Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes, para aumentar o número de doação de órgãos no Brasil. A iniciativa contempla um estudo que avalia se a utilização de um checklist baseado nas recomendações mais atuais para o cuidado clínico do potencial doador pode contribuir com a redução das perdas de potenciais doadores. Além disso, qualifica profissionais da saúde que atuam no processo de doação de órgãos, por meio de cursos presenciais e online sobre a comunicação com a família do potencial doador.

Referências:

PROADI-SUS

O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde, PROADI-SUS, foi criado em 2009 com o propósito de apoiar e aprimorar o SUS por meio de projetos de capacitação de recursos humanos, pesquisa, avaliação e incorporação de tecnologias, gestão e assistência especializada demandados pelo Ministério da Saúde. Hoje, o programa reúne seis hospitais sem fins lucrativos que são referência em qualidade médico-assistencial e gestão: Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, HCor, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Moinhos de Vento e Hospital Sírio-Libanês. Os recursos do PROADI-SUS advém da imunidade fiscal dos hospitais participantes. Os projetos levam à população a expertise dos hospitais em iniciativas que atendem necessidades do SUS. Entre os principais benefícios do PROADI-SUS, destacam-se a redução de filas de espera; qualificação de profissionais; pesquisas do interesse da saúde pública para necessidades atuais da população brasileira; gestão do cuidado apoiada por inteligência artificial e melhoria da gestão de hospitais públicos e filantrópicos em todo o Brasil. Para mais informações sobre o Programa e projetos vigentes no atual triênio, acesse: hospitais.proadi-sus.org.br

Redação

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