Era mais um dia de trabalho para a educadora física e proprietária de um Centro de Treinamento e Avaliação de Cachoeiro de Itapemirim (ES), Cintia Schiavini, de 47 anos, quando a empresária teve um mal súbito e desmaiou. Por sorte, havia médicos que se exercitavam no local e que submeteram a empresária a uma reanimação cardiopulmonar até a chegada da equipe de remoção e transferência para o hospital.
O caso ocorreu às 7h15 do dia 13 de julho. Desde então, Cintia Schiavini foi entubada, ficou na Unidade de Terapia Intensiva e permaneceu internada no Hospital Unimed até passar por uma cirurgia para implante de um cardiodesfibrilador interno subcutâneo, na quarta-feira (21). O procedimento, que introduz o aparelho na região do tórax, logo abaixo na pele, ocorreu pela primeira vez no sul do Estado, sendo uma alternativa menos invasiva ao implante endovascular.
O aparelho monitora constantemente o coração e aplica o tratamento de forma automática para corrigir o ritmo cardíaco acelerado quando necessário. De acordo com o cardiologista da Unimed Sul Capixaba, Marcelo Crespo, casos semelhantes ao da paciente Cintia Schiavini, no momento que a parada cardíaca súbita ocorre, a rapidez na identificação do quadro e o socorro ágil, com a massagem cardíaca e as manobras de ressuscitação até a chegada de um desfibrilador com a equipe de remoção, são essenciais para salvar a vida.
A empresária relata que estava sentada quando desmaiou. A partir de então, foram cerca de 40 minutos de atuação na ressuscitação, até que se existisse a segurança para transferi-la ao Hospital Unimed.
O cirurgião cardiovascular Lisandro Azeredo explica que o tempo de atendimento em casos de parada cardíaca deve ser o mais curto possível. “A partir de dez minutos sem atendimento, a chance de lesão cerebral é muito grande”, afirma. Eventos semelhantes ao registrado com a Cintia Schiavini ocorrem de maneira inesperada, podendo ser a primeira manifestação de uma doença cardíaca em uma pessoa aparentemente saudável.
Com as manobras médicas, foi possível abortar o quadro de morte súbita, que é a instalação súbita de uma arritmia grave que leva à morte iminente. Segundo o médico arritmologista da Unimed Sul, Marcelo Maia, com a cirurgia, os pacientes podem levar uma vida normal, evitando apenas atividades esportivas competitivas. “É recomendado uma investigação mais completa, com exames específicos que possam avaliar se há causas genéticas que expliquem a parada cardíaca”, completa.
Em recuperação da cirurgia de implante do cardiodesfibrilador interno subcutâneo, Cintia Schiavini conta que no dia de sua parada cardíaca acordou por volta das 5h30 e não sentiu nada de anormal até o desmaio. Após ser ressuscitada e entubada, ela permaneceu inconsciente até a quarta-feira (14). “Não tenho recordações do momento em que acordei, ainda na UTI. Só retomei a consciência por completo na quinta-feira à tarde”, diz.
A empresária reconhece que ainda não conseguiu assimilar o que aconteceu e que seu caso pode ser considerado um verdadeiro milagre. “Eu fiquei muitos minutos em morte súbita. Por ser educadora física e estudar a área da neurociência, tenho consciência de que tive anjos e que o milagre maior foi eu ter saído disso tudo sem sequelas”, afirma.
Cintia acrescenta que pretende manter a mesma rotina de antes, com atividades físicas e a manutenção de uma vida saudável. “É importante que a sociedade entenda que a morte súbita pode acontecer com qualquer um e em qualquer lugar. Eu tive uma morte súbita sentada e talvez eu ainda esteja aqui porque sou uma pessoa que sempre levou uma vida saudável. Precisamos ter mecanismos para ajudar as pessoas que podem ter o que eu tive, como a presença de um desfibrilador em ambientes com grande volume de pessoas”, completa.
Treinamentos de emergências e presença de desfibrilador externo podem salvar vidas
Embora seja um quadro de difícil identificação, por se tratar de uma parada cardíaca súbita, a diferença entre a vida e a morte em situações como a da empresária Cintia Schiavini pode estar na agilidade com que o atendimento é realizado. A manutenção de um estilo de vida saudável e a avaliação cardiológica anual também podem identificar alterações cardiológicas precoces e prevenir outras situações de paradas cardíacas.
O cirurgião cardiovascular da Unimed Sul capixaba, Lisandro Azeredo, orienta que em ambientes como academias e locais de maior circulação de pessoas, a presença de um Desfibrilador Externo Automático, conhecido como DEA, e de pessoas com treinamento de emergências cardiovasculares básico pode ser crucial para evitar quadros mais graves e mesmo a morte em casos de parada cardíaca súbita.
“O DEA é um aparelho portátil destinado a identificar e reverter uma parada cardiorrespiratória. Qualquer pessoa que receba um treinamento básico sobre o equipamento é capaz de manuseá-lo. Além disso, é importante que se reconheça uma parada cardíaca. O primeiro passo é chamar a pessoa; caso ela não responda, deve-se acionar o socorro. Também é importante fazer a checagem de pulso, iniciando a massagem cardíaca na ausência de movimento. Um treinamento de emergências cardiovasculares básico proporciona essa preparação”, afirma Lisandro Azeredo.