Estima-se que dois a cada cinco médicos possam apresentar a Síndrome de Burnout

Nas últimas décadas, a profissão médica vem passando por rápidas transformações e as pressões de seu trabalho junto com a falta de tempo em suas rotinas para cuidar da própria saúde podem ocasionar cenários de desgastes físicos e emocionais sérios. Isso se deve, em parte, à incorporação de novas tecnologias para diagnóstico e tratamento das doenças e ao aumento da complexidade e da burocracia para a administração dos serviços de saúde.  Nesse cenário, o médico exerce um trabalho no qual é praticamente impossível não passar por algum tipo de situação estressante e onde o tempo é escasso seja no trabalho, seja para realizar as atualizações científicas necessárias, ou ainda para cuidar da própria saúde.

É comum que os médicos se descrevam como esgotados do ponto de vista emocional e físico. Na realidade, muitos deles podem estar apresentando sintomas da Síndrome de Burnout, mesmo não se dando conta disso. “Muitos médicos acabam indo trabalhar mesmo quando não estão bem, pois diferentemente de alguns trabalhos, o deles tem uma recompensa social. Para os médicos pode existir o reconhecimento, o status, outros benefícios além do dinheiro que se ganha. Então abrir mão disso tudo e se afastar é ruim”, explica o Dr. Daniel Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e coordenador médico do Núcleo de Psiquiatria Forense.

A expressão “Síndrome de Burnout” foi criada na década de 1970, para descrever um conjunto de reações de intenso desgaste físico e mental ocasionado pelo trabalho e caracterizado por exaustão, frustração e isolamento. É uma condição reconhecidamente associada com profissões onde o relacionamento pessoal é intenso, mais especificamente, como naquelas que envolvem cuidados com a saúde. O termo em inglês “burnout” é usado para descrever uma sensação de “estar acabado”, de total esgotamento, ou de ter suas energias exauridas por completo.

Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA), dois a cada cinco médicos norte-americanos podem apresentar a Síndrome de Burnout. Entre as manifestações dessa condição incluem-se:

1.       Exaustão emocional (falta de energia e entusiasmo): Fadiga crônica, sensação de cansaço durante o dia e até depois do trabalho, problemas para dormir e incapacidade para manter o foco no trabalho.  A exaustão pode estar associada a sintomas físicos também, como dor nas costas e/ou de cabeça.

2.       Despersonalização (distanciamento/indiferença): Ser muito crítico consigo ou com os colegas ao redor, cinismo, falta de empatia e desilusão.

3.       Sentimento de falha (incompetência): Sentir que não está mais se dedicando e que seu trabalho não é valorizado.

Em partes, esses sintomas, quando intensos, podem ser responsáveis pelas altas taxas de suicídio encontradas entre os médicos, em comparação com as taxas de suicídio da população no geral. Segundo a Fundação Americana de Prevenção ao Suicídio (AFSP, na sigla em inglês), os médicos apresentam uma taxa de suicídio quase duas vezes maior que a população geral. As possíveis explicações para essas diferenças incluem a potencial relutância dos médicos em perceberem que necessitam de algum tipo de ajuda, ou uma possível dificuldade para identificar em si as graves manifestações da Síndrome de Burnout. A falta de identificação dos sintomas da Síndrome impede o adequado manejo da condição, e a persistência desse profissional no mesmo ambiente e nas mesmas condições de trabalho tem o potencial para agravar os sintomas dessa síndrome.

O desequilíbrio entre a atividade profissional e a capacidade do médico em suportar a carga de trabalho, associado à dificuldade do mesmo para repor a energia utilizada no seu dia a dia e que levam às manifestações de esgotamento físico e mental, vem sendo estudados por diversas instituições acadêmicas e serviços médicos ao redor do mundo. O melhor entendimento dessa condição pode gerar tanto benefícios diretos, como um tratamento mais adequado e em uma melhor qualidade de vida do médico, como indiretos, com a melhora do serviço médico prestado, redução do absenteísmo e aumento da efetividade, o que obviamente beneficiaria também ao paciente. Algumas vezes, até mesmo as medidas simples podem trazer resultados interessantes:

“No caso do Burnout, o que parece existir é um desencontro do trabalho com o trabalhador. Esse desencontro acontece por causa de pressões, metas e falta de reconhecimento e autonomia, mas não se resume apenas a isso. Às vezes, medidas simples como um aumento de flexibilidade nas tomadas de decisão que é dada ao trabalhador, no caso o médico, já lhe proporciona uma sensação de autonomia e controle que melhora seu bem-estar”, exemplifica o médico.

Mas ainda existe muito a ser feito para conscientizar o médico sobre a Síndrome de Burnout e sobre a importância de se dar um tempo para que ele possa cuidar de sua saúde física e mental.

No caso do Brasil, A Bayer desenvolve, desde 2017, o projeto “Se cuida, Doutor”, um convite à classe médica, para que os mesmos se cuidem, incentivando a prática de atividade saudáveis, a reflexão sobre como aproveitar os momentos de lazer, como desenvolver técnicas de meditação e como combater o estresse.

“O Projeto “Se Cuida, Doutor” surgiu da iniciativa de médicos da Bayer que se interessaram pelo tema e se voluntariaram para criar uma ferramenta para o médico brasileiro repensar sua atividade profissional e como ele poderia melhorar a sua qualidade de vida. A Bayer tem várias iniciativas de engajamento de paciente e quando parou para avaliar o dia a dia do médico, chegou à seguinte questão: e se o paciente for o médico? Diante desse questionamento, acreditamos que a conscientização sobre como melhorar a sua qualidade de vida e sobre a Síndrome de Burnout seja um passo muito importante. É fundamental que o médico esteja bem para tratar bem aos seus pacientes”, comenta a Dra. Sandra Abrahão, Diretora Médica da Bayer.

No site www.secuidadoutor.com.br é possível encontrar mais informações sobre o projeto, além de depoimentos de médicos e uma área para que instituições de apoio médico possam postar os seus contatos, criando assim uma rede de ajuda aos médicos. “Outro objetivo do projeto é deixar à disposição do médico, por meio do site, endereços e contatos de serviços de apoio, por meio dos quais ele possa encontrar suporte e orientação sempre que precisar, em sua região, cidade ou serviço médico”, salienta Dr. Mauricio de Souza, Gerente Médico da Bayer e coordenador do projeto.

Redação

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