Estudo aponta que ainda existem lacunas na saúde pública e privada ao orientar casais sorodiscordantes que buscam a gravidez

Um estudo realizado por especialistas do Lab Saúde Reprodutiva, Clínica VidaBemVinda e Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), aponta que ainda é preciso disseminar na saúde pública e privada o conceito de que soropositivo indetectável é intransmissível. Existe a necessidade de uma orientação sem tabus vinda da comunidade médica, não só para casais sorodiscordantes que querem engravidar naturalmente, como também aos que planejam a reprodução assistida.

O trabalho Persisting Barriers for U=U in Family Planning and Assisted Reproduction of PLHIB, que será apresentado no congresso mundial de AIDS 2020, foi realizado com 110 profissionais de saúde. A maioria dos participantes (87%) é do sexo feminino, com idade média de 35 anos. No geral, 82% são ginecologistas e 53% relataram atendimento rotineiro para casais sorodiscordantes.

Um questionário foi aplicado aos participantes do estudo, onde o caso apresentado descrevia um casal sorodiscordante que planeja ter filhos, sendo um homem com HIV sob tratamento antirretroviral, com boa aderência e carga viral indetectável por um ano ou mais, e parceira saudável, não infectada pelo HIV.

O resultado mostra que a maioria dos especialistas (96%) declarou concordar fortemente que encorajariam o casal sorodiscordante tentar engravidar.

No entanto, apenas 38% declararam que recomendariam a concepção natural. Sendo que 64% indicariam o casal para reprodução assistida, mesmo sem evidência de infertilidade. Destes, 56% declararam que, no caso de reprodução assistida, recomendariam as técnicas de lavagem de espermatozoide, um procedimento que possibilita isolar gametas masculinos não infectados do vírus no líquido seminal.

Um dos autores do estudo, o urologista Conrado Alvarenga, explica que pessoas infectadas pelo vírus HIV são conhecidas como soropositivas, porém, quando a carga viral no organismo é tão baixa que não é detectada nos exames de sangue, é como se este vírus estivesse “dormente” sendo assim considerado intransmissível.

O especialista esclareceu que o paciente deve seguir tratamento recomendado e realizar o exame de carga viral a cada seis meses, podendo conviver com o vírus e levar uma vida sexual saudável, além de realizar o sonho de ter filhos naturalmente.

“A importância de estudos como esse é justamente facilitar a vida dos casais sorodiscordantes, para que muitos evitem tratamentos desnecessários de alta complexidade e possam até engravidar naturalmente. Para isso, esse conceito precisa ser cada vez mais forte de I = I (indetectável é igual a intransmissível). Esperamos com este resultado esclarecer mais a comunidade medida e quebrar tabus relacionados aos sorodiscordantes”, afirma Conrado Alvarenga.

“Para as pessoas que vivem com o HIV, a informação de que eles não transmitem mais o vírus sexualmente e podem conceber um filho naturalmente é uma mudança muito forte em suas vidas” afirma Vivian Avelino, professora na FMUSP e líder do estudo.

Segundo estatísticas Globais de HIV, até o fim de junho de 2019, 24,5 milhões de pessoas vivendo com HIV tinham acesso à terapia antirretroviral.

Autores do estudo: ALVARENGA, Conrado, MD1; AVELINO-SILVA, Vivian I., MD PhD3; YAMAKAMI, Lucas, MD PhD2; TOMIOKA, Renato, MD2; MIYADAHIRA, Eduardo, MD MSc2; DUARTE, Oscar, MD MSc2; MATSUMOTO, Larissa, MD MSc2.

Redação

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