Estudo liderado por Médicos Sem Fronteiras mostra eficiência de novo tratamento contra tuberculose resistente

Um estudo clínico liderado por Médicos Sem Fronteiras (MSF) concluiu que um novo regime de tratamento de seis meses com remédios ingeridos por via oral é mais efetivo e seguro do que as terapias adotadas atualmente para pacientes com tuberculose resistente ao antibiótico rifampicina (TB-RR), um dos medicamentos mais usados contra a doença.

Os resultados dão perspectivas melhores para as pessoas com tuberculose drogarresistente (TBDR), que atualmente passam por tratamentos com até 20 meses de duração, que podem incluir dolorosas injeções, ingestão de até 20 comprimidos diários e severos efeitos colaterais. Mesmo com todo esse esforço, os regimes de tratamento atuais curam apenas 1 em cada 2 pacientes e podem ainda causar sérios impactos sobre sua saúde física e mental, além de consequências financeiras e sociais.

O anúncio dos resultados foi feito esta semana, durante a 52ª Conferência Mundial sobre Saúde Pulmonar da organização Union, que é referência no tema. O trabalho deve ser publicado na íntegra ainda neste ano em uma revista científica que o submeterá previamente à revisão por outros pesquisadores (peer review). MSF também está compartilhando as informações do estudo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para que a entidade possa eventualmente utilizá-las na revisão dos protocolos de tratamento de TB drogarresistente e estimular aprimoramentos nas práticas clínicas de cada país.

O estudo, denominado TB-PRACTECAL, é o primeiro ensaio clínico randomizado e controlado, realizado em vários países, a analisar a eficácia e a segurança de um regime de tratamento de seis meses utilizando somente medicamentos de via oral contra a tuberculose resistente a rifampicina. No estudo, foram testados os medicamentos bedaquilina, pretomanida, linezolida e moxifloxacina (BPaLM) em comparação com os padrões de tratamento adotados localmente. O estudo envolveu 552 pacientes no total, dos quais 301 foram incluídos na análise até esta etapa, e ocorreu em sete cidades dos seguintes países: Belarus, África do Sul e Uzbequistão.

O ensaio clínico de fase II/III aferiu que o novo regime de tratamento mais curto foi muito efetivo contra a TB-RR. Entre os pacientes que receberam o novo tratamento (BPaLM), 89% foram curados, comparados aos 52% no grupo que recebeu os tratamentos-padrão. Infelizmente, quatro pacientes do grupo de controle morreram de tuberculose ou em função de efeitos colaterais do tratamento, enquanto não houve mortes entre os pacientes submetidos ao novo regime. Adicionalmente, resultados do estudo mostram que as novas drogas levaram à redução de efeitos colaterais mais graves, com 80% dos pacientes ficando livres deles em comparação com 40% no grupo de controle.

“Quando embarcamos nessa jornada, há nove anos atrás, pacientes com tuberculose drogarresistente em todo o mundo enfrentavam tratamentos longos, ineficientes e extenuantes que afetavam negativamente suas vidas”, afirmou Bern-Thomas Nyang’wa, diretor médico de MSF e pesquisador-chefe do estudo. “Eles nos relatavam o quão difícil era seguir o tratamento, mas havia poucos avanços na obtenção de alternativas menos agressivas, porque doenças que são prevalentes em países de renda baixa e média não atraem investimentos. Então decidimos nós mesmos buscar novas opções de tratamento”, explicou ele. “Estes resultados dão esperança de um futuro melhor para pacientes, suas famílias e profissionais de saúde de todo o mundo.”

MSF espera que as conclusões do estudo possam contribuir com o grande volume de evidências que indicam a necessidade de atualização das recomendações globais de tratamento da doença, para que passem a incluir um regime terapêutico curto, efetivo e seguro. MSF acredita que estes resultados provem que é o momento de adotar mudanças nas práticas clínicas de combate à doença.

MSF planeja trabalhar junto a programas nacionais de enfrentamento da tuberculose, Ministérios da Saúde e outros atores relevantes para que este tratamento esteja disponível o quanto antes aos pacientes. “No ano passado, nossas equipes ajudaram 13,8 mil pessoas a iniciar seu tratamento de tuberculose, incluindo 2.100 com tuberculose drogarresistente. Como um dos mais importantes provedores não-governamentais de tratamento contra a tuberculose no mundo, estamos animados com as perspectivas abertas por esses resultados para aqueles que sofrem com a tuberculose drogarresistente”, disse o Dr. Christos Christou, presidente internacional de MSF.

Mais informações sobre o estudo podem ser obtidas em: Pragmatic Clinical Trial for a More Effective Concise and Less Toxic MDR-TB Treatment Regimen(s) – Full Text View – ClinicalTrials.gov.

Redação

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