Um estudo inédito demonstrou que a eficácia da dermatoscopia – método de exame não invasivo de pele, realizado com o dermatoscópio por médicos dermatologistas para a delimitação do carcinoma basocelular (CBC), varia de acordo com o seu subtipo.
A dermatoscopia foi precisa na delimitação das margens em 87% dos casos do subtipo mais comum de CBC, conhecido como nodular. Entretanto, para os outros subtipos como, por exemplo, os esclerodermiformes e os micronodulares, a acurácia da dermatoscopia foi de 20% e 58%, respectivamente. Isso significa que a extensão lateral de certos subtipos de CBC pode ser “invisível” à dermatoscopia.
O carcinoma basocelular é o câncer de pele mais comum no Brasil e no mundo e é classificado em 6 diferentes subtipos, de acordo com a forma que suas células se organizam microscopicamente.
No estudo, foram avaliados 368 casos de pacientes com diferentes tipos de CBC: superficial, nodular, micronodular, infiltrativo, metatípico e esclerodermiforme ou misto. Os tumores analisados estavam localizados na região da cabeça, principalmente na face, e foram removidos com uma margem inicial de 1 a 2 milímetros, conforme o que prevê a cirurgia de Mohs.
O coordenador do estudo, o médico dermatologista Felipe Cerci, conta que a pesquisa foi motivada pelo fato que a dermatoscopia é um método consagrado para auxiliar no diagnóstico do câncer de pele. Porém, não haviam estudos avaliando a capacidade da metodologia para detectar as extensões laterais dos diferentes subtipos de carcinoma.
“Para averiguar a acurácia da dermatoscopia, utilizamos a cirurgia micrográfica de Mohs, técnica que permite examinar no microscópio 100% das margens cirúrgicas imediatamente após a remoção do câncer. Dessa forma, foi possível saber se a marcação dos tumores baseada na dermatoscopia foi precisa ou não”, explica Cerci.
Segundo ele, quando a dermatoscopia não foi precisa, o exame no microscópio mostrou que a margem estava comprometida e, então, um novo fragmento de pele foi retirado logo em seguida para garantir a extração do carcinoma e a cura do paciente. “Apesar de o CBC muito raramente dar metástase (espalhar-se para outros órgãos), ao longo dos anos, ele pode causar destruição no local acometido quando não tratado ou se tratado de forma inadequada. Por isso, em áreas nobres da face, é fundamental que o tumor seja removido por completo para evitar recidivas e complicações futuras”, completa o dermatologista.
A remoção pode ser realizada com a cirurgia de Mohs – que examina 100% das margens durante a cirurgia logo após a sua remoção -, ou através da técnica convencional, que examina entre 1% a 5% das amostras das margens dias após a cirurgia.
Por essa razão, na cirurgia convencional, remove-se uma “margem de segurança” de pelo menos 4 mm ao redor do tumor. Já na cirurgia de Mohs, por outro lado, inicia-se com 1 a 2 mm e, se necessário, remove-se mais tecido apenas no local acometido pelo câncer de pele.
Além de propiciar a taxa de cura mais alta, a retirada apenas do tecico acometido pela doença, preservando pele sadia e gerando menores cicatrizes, é o diferencial da Cirurgia de Mohs, tornando muitas vezes o tratamento de escolha do paciente para a retirada de CBCs localizados em áreas nobres da face como nariz, pálpebras, lábios e orelhas”, relata Cerci.
Dermatoscopia – A dermatoscopia é um método auxiliar na demarcação das margens do CBC, muito superior ao “olho nu”. Entretanto, a técnica não substitui a avaliação microscópica das margens para alguns subtipos do tumor. Por essa razão, quando localizados em áreas nobres do rosto como pálpebras, nariz e ao redor da boca, esses subtipos devem preferencialmente ser removidos através da cirurgia de Mohs, ou através da cirurgia convencional com margens de segurança adequadas.
Inédito – O estudo – que acaba de ser publicado nos Estados Unidos e intitulado “Dermoscopy accuracy for lateral margin assessment of distinct basal cell carcinoma subtypes treated by Mohs micrographic surgery in 368 cases“, em português – “Acurácia da dermatoscopia para avaliação da margem lateral de subtipos distintos de carcinoma basocelular tratados por cirurgia micrográfica de Mohs em 368 casos” – foi coordenado por Felipe Cerci e teve como coautores as colegas paranaenses Elisa Kubo e Betina Werner, e o dermatologista e cirurgião de Mohs Stanislav Tolkachjov, de Dallas, Estados Unidos. O artigo científico foi publicado no International Journal of Dermatology. Cerci é autor/co-autor de 45 publicações científicas, tendo descrito o mapeamento dermatoscópico na cirurgia de Mohs (“DerMohscopy Mapping“), que permitiu correlacionar os achados dermatoscópicos com microscópicos com maior precisão. O artigo foi publicado em janeiro de 2018 no Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology.