Fake news afetam execução plena da política de saúde no Brasil

Por Carol Gonçalves

Com certeza você já deve ter recebido mensagens que dizem que vacinas causam autismo ou qualquer outro mal à saúde, que usar celular no escuro provoca “câncer no olho” ou que a fenilpropalamina (proibida há 17 anos) ainda está presente em 22 medicamentos. O que talvez muita gente ainda não saiba é que todas essas informações são falsas, ou seja, não passam de fake news.

“Utilizando variações de estudos científicos reais ou simulando formato técnico com informações inventadas, divulgadas principalmente através das mídias sociais, aproveita-se da fragilidade e da ignorância da população”, comenta Ruy Baumer, diretor titular do ComSaúde – Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde e Biotecnologia da Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Segundo o Ministério da Saúde, uma notícia falsa é criada por dia contra medicamentos e tratamentos cientificamente comprovados. “Elas normalmente chegam às pessoas com grande apelo emocional, carregadas de sentimentos diversos, da esperança à raiva. E isso faz com que sejam compartilhadas com mais vigor do que as notícias verdadeiras. São perigosas justamente por esse poder de se espalhar rapidamente em minutos”, continua Baumer.

No ambiente da saúde são inúmeras as consequências negativas do compartilhamento indiscriminado de notícias falsas. “Por exemplo, o caso da fosfoetanolamina, chamada de ‘pílula do câncer’, causou uma grande movimentação dentro do SUS, gerando falsas esperanças em uma população alarmada, bem como novos processos de judicialização, com enormes prejuízos financeiros ao sistema”, observa.

Além disso, há o risco de expor a população a um medicamento que não passou por todos os testes para ter sua eficácia comprovada, sem falar na redução da credibilidade nas classes médicas e científicas. “No caso da ‘pílula do câncer’, gerou-se uma teoria da conspiração envolvendo todo o sistema de saúde brasileiro, que foi acusado de negar o tratamento revolucionário por interesses da indústria farmacêutica”, continua Baumer.

Uma das armas de combate é investir na conscientização da população. “O ComSaude/Fiesp, por exemplo, organiza o + Saúde, um programa de prevenção e educação. Por meio dele são realizadas ações esporádicas na avenida Paulista, em São Paulo, para aproximar a população paulistana de temas que são indispensáveis para a saúde e a qualidade de vida”, comenta.

Recentemente, o comitê realizou campanhas sobre parada respiratória, doação de órgãos e baixa visão. “Nós, que temos conhecimento e acesso a informações diretamente das melhores fontes, devemos atuar como canais confiáveis para que todos possam receber as notícias corretas e, assim, ter a oportunidade de agir da melhor maneira possível mediante tantos fatos que ocorrem no dia a dia”, complementa.

Ações do MS

O assunto é tão sério que o Ministério da Saúde passou a monitorar os boatos em março desde ano e, em seis meses, identificou 185 focos de fake news relacionados ao setor.

Uma das ações contra essa propagação é a divulgação de vídeos enfatizando a importância da vacinação e combatendo a disseminação de notícias falsas sobre o tema. Esse tipo de informação gera insegurança na população, que não participa das campanhas de vacinação e possibilita o retorno de doenças já erradicadas no país.

Em agosto, o MS abriu um canal de comunicação com a população através do WhatsApp. Qualquer cidadão brasileiro poderá mandar mensagens para o número (61) 99289-4640 e saber se as notícias recebidas são falsas ou verdadeiras. Em um mês, já foram feitas cerca de 1.600 consultas, sendo 310 fake news.

“As fake news são uma praga da modernidade. Vêm sendo usadas de toda forma para manipular, enganar, iludir, prejudicar. No caso da saúde, é muito mais grave, porque a notícia falsa mata. Então, o novo canal chega para servir como uma nova e poderosa camada de segurança na informação sobre saúde pública, com a vantagem de ter sido criada especificamente para o WhatsApp, que é o principal veículo de transmissão das notícias falsas”, explica o diretor de comunicação social do Ministério da Saúde, Ugo Braga.

O projeto “Saúde Sem Fake News” é organizado pela equipe multimídia da Pasta. A partir dos recebimentos das mensagens, o conteúdo é apurado junto às áreas técnicas do órgão e devolvido ao cidadão com um carimbo que informa se é fake news ou não. Dessa maneira, é possível compartilhar a informação de forma segura. As notícias analisadas pela equipe também estarão disponíveis no endereço saude.gov.br/fakenews e nos perfis do Ministério da Saúde nas redes sociais.

Vale lembrar que o CDC – Centro de Controle de Doenças, nos Estados Unidos, tem investido em ações semelhantes para combater as informações falsas com rapidez.

Conteúdo originalmente publicado na Revista Hospitais Brasil edição 93, de setembro/outubro de 2018. Para vê-la no original, acesse: portalhospitaisbrasil.com.br/edicao-93-revista-hospitais-brasil

Redação

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