Em um caso considerado raro no Brasil, duas gêmeas nasceram em dias diferentes no Hospital Santa Cruz, em Curitiba (PR). As bebês nasceram prematuramente, com 24 semanas de gestação, sendo a primeira por parto normal e a segunda por cesariana, com dois dias de diferença. Após quatro meses na UTI Neonatal, no início de outubro, as irmãs Camila e Gabriela receberam alta e puderam ir para casa com seus pais.
A diferença de tempo entre um parto e outro só foi possível porque as meninas eram dicoriônicas. “Ou seja, bebês geradas de dois óvulos, que se desenvolvem em bolsas e placentas diferentes”, explica o obstetra do Hospital Santa Cruz e da Paraná Clínicas, Dr. Diego Esteves dos Santos, médico responsável pelo caso.
A mãe, Roberta Minas, professora, conta que a gestação correu normalmente até a chegada do trabalho de parto prematuro, com quase seis meses de gravidez. “O acompanhamento no pré-natal foi tranquilo. A gestação era considerada de alto risco por ser gemelar e pelo meu histórico de cirurgia do colo do útero, mas eu estava super bem”. Até que uma dor de garganta acabou acelerando o processo. “Uma infecção de vias aéreas desencadeou o trabalho de parto prematuro, antecipando o rompimento da bolsa da primeira gemelar e as contrações”, explica o médico.
Gabriela nasceu no dia 7 de junho, de parto normal, com 29 centímetros e pesando 600g e foi encaminhada para a UTI Neonatal, por ser uma prematura extrema. “Com a retirada do primeiro bebê, a paciente deixou de sentir contrações. Assim, avaliamos que o melhor seria controlar a infecção e manter o segundo bebê no útero”, explica.
Roberta permaneceu internada no Hospital Santa Cruz em observação e repouso absoluto. Dois dias depois, as contrações voltaram, acompanhadas de uma hemorragia. Com a gravidade do quadro, optou-se for realizar a cesariana. No dia 9 de junho nasceu Camila, com 30,5 cm e 650 gramas. “Neste curto período foi possível administrar medicações para melhora do quadro pulmonar, proteção do sistema nervoso e antibióticos. Então, o segundo bebê teve mais chance de responder melhor durante a evolução na UTI Neonatal”, explica o Dr. Diego.
Recuperação
Até completarem a idade gestacional e peso adequados, as gêmeas foram alimentadas via sonda a cada três horas, com o leite esgotado pela mãe. Depois de quatro meses de internamento e três cirurgias, no início de outubro, as irmãs Camila e Gabriela finalmente receberam alta. “Tudo o que aconteceu até agora foi uma vitória. Apesar das dificuldades acabou dando tudo certo”, explica Dinival. “O dia a dia é cansativo, é angustiante, porque a gente não sabia o que podia acontecer. A cada visita era uma novidade” explica Roberta. “Mas fomos otimistas e estamos muito felizes com a evolução das meninas”, completa.
Segundo o coordenador da UTI Neonatal do Hospital Santa Cruz e pediatra da Paraná Clínicas, Dr. Ênio Torricillas, cada dia a mais no útero na mãe foi fundamental para o desenvolvimento do bebê. “Pela diferença de tamanho entre as duas bebês – 1,5 cm – já podemos perceber o quanto esses dois dias a mais favoreceram o amadurecimento da segunda irmã, que teve menos complicações de saúde”, explica.
Experiência
Durante todo o período de internação das bebês na UTI Neonatal, os pais receberam o suporte da equipe multidisciplinar, formada por enfermeiras, psicóloga e fonoaudióloga. “Costumamos dizer que a Roberta passou por várias experiências em uma só: gestação de alto risco, gemelar, parto normal, cesárea e prematuridade”, explica a psicóloga do Hospital Santa Cruz, Patrícia Rosário Ferrari. Em licença maternidade, Roberta visitava as filhas todos os dias, em três horários para poder acompanhar o desenvolvimento das meninas. “O apoio da equipe do Hospital fez toda a diferença para encararmos o dia a dia e as expectativas”, finaliza Roberta.