Hospital Digital: como a transformação digital pode ser peça-chave para a melhoria do atendimento

Aconteceu na semana de 12 a 16 de abril a Digital Health Acceleration Week (DHAW), uma iniciativa promovida pela FOLKS (empresa de consultoria e treinamento especializada em Saúde Digital) que teve como objetivo ser uma semana para capacitar tanto o especialista em Saúde Digital como o gestor digital de instituições de saúde, com um programa de educação intensiva atinente ao assunto.

Muito comentada nos últimos anos pelos médicos e executivos desse ramo pela sua necessidade, a Saúde Digital visa diminuir as ineficiências na prestação de cuidados de saúde, melhorar o acesso, reduzir custos e aumentar a qualidade, tornando a Medicina mais personalizada e precisa.

Diversos assuntos sobre o tema foram abordados. Todavia, destacaram-se três momentos diferentes na semana: as palestras de Luiz de Luca, que é engenheiro, conselheiro, advisor e mentor para instituições de saúde; Evandro Garcia, que é diretor de soluções integradas em saúde da DASA e Francisco Balestrin, que é presidente do CBEXs (Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde) e do SindHosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo) pela maneira com que trataram o tema.

Metodologia Blitzscaling: como utilizá-la no campo da saúde

Luiz de Luca abriu o evento de terça-feira, 13 de abril, discorrendo sobre as healthtechs (startups do segmento de saúde) e como é possível, por meio delas, fazer o funcionamento de um hospital crescer rapidamente neste campo o quanto antes. Usando como base o livro ‘Blitzscaling: o caminho mais rápido para construir negócios extremamente valiosos’, escrito por Reid Hoffman e Chris Yeh, ele mostra que a obra traz um conjunto de técnicas que auxiliam no crescimento mais acelerado, usando disso como uma vantagem competitiva. O conselheiro não deixou de alertar que o Brasil ainda é muito analógico e unitário na saúde: “Quando olhamos um hospital ou um prestador de serviços, o máximo que nós conseguimos pensar é como crescer em número de leitos ou em número de unidades para que possa abranger um segmento ou uma região maior. Esse modelo de 1 para 2 ou 1 para 10 não é uma escalabilidade em que se aplica o Blitzscaling”, definiu ele.

Crescer além das fronteiras comuns é uma diretriz quase que mandatória. Depois de muito afirmar esse pensamento, De Luca trouxe ainda a questão de que no Brasil isso se realiza de maneira diferente, já que por aqui existe o pensamento de ser autossuficiente e pensar só para si próprio, o que atrapalha muito em seu desenvolvimento. Nos outros países, o pensamento é voltado para o mundo (além das fronteiras) e, com isso, contam com a área da saúde mais avançada. “Esse é o conceito do Blitzscaling, ou seja, como se preparar na sua organização para crescer no processo de pessoas. Nós não temos essa estrutura e ferramentas de como fazer esse crescimento. Temos uma dificuldade muito relacionada ao aspecto cultural das organizações no Brasil (principalmente na saúde) e que seja mais difícil perpetuar visões de crescimento como a Amazon possui, por exemplo.”

Como fazer para interligar e crescer? De Luca assegurou que o processo passa por dois passos, utilizando a metodologia Blitzscaling: o primeiro é conseguir olhar e pensar em mercados diferentes, buscar soluções mais velozes e adquirir um processo de empreendedorismo. O segundo é como saber criar um time de alta performance e fazer com que todos entrem no mesmo ritmo. Para o mentor, as visões tradicionalistas acabam também atrasando o progresso: “Nós temos uma visão muito conservadora de como nós podemos crescer, achando que aquisições seriam a única maneira para isso. Mas é possível fazer parcerias e modelos diferentes. Temos, no Brasil, uma dificuldade de compartilhar o poder”, definiu o conselheiro, complementando que é só com a tecnologia que tudo isso irá crescer e consequentemente será mais fácil buscar o “ouro da saúde”, expressão que De Luca utiliza para dados bem tratados.

Dificuldade também para as operadoras

Na sexta-feira, 16 de abril, último dia de evento, o foco foi mostrar o ponto de vista dos executivos da saúde no mundo digital. Evandro Garcia abriu o dia, atentando ao fato de que as dificuldades passam também pelas operadoras. O diretor de soluções integradas em saúde da DASA mostrou que o grande desafio do segmento de saúde suplementar ainda é conectar a proposta de valor da sua oferta, ou seja, interligar os vários diferentes stakeholders (partes interessadas): “Ainda existe uma distância muito grande em como conectar esse consumidor com essa rede que é ofertada e, principalmente, como usar tecnologia a favor, para ter essa visibilidade integral do paciente e do consumidor de saúde nas várias esferas: primária, secundária e terciária”, explanou Evandro.

Evandro afirmou ainda que mesmo a DASA, sendo uma empresa de capital aberto e que tem um enorme volume de dados gerados pelos seus diagnósticos, pela sua rede de hospitais e uma capacidade de fazer saúde populacional por meio dos ativos, também existem dificuldades para realizar essa integração. Ainda assim, o diretor de soluções integradas afirmou que é essa digitalização que entrega uma integração muito melhor, o que o torna bastante otimista: “Estamos bastante tranquilos, porque a estratégia está bem montada. Sabemos das dificuldades, mas a DASA tem um desafio estratégico gigantesco, que é suportar essas transformações por todas as nossas soluções”, concluiu.

Momentos diferentes exigem atitudes diferentes

Com um ponto de vista mais gerencial, Francisco Balestrin debateu com Thiago Constancio (Medportal) o último assunto da semana: os executivos digitais. O presidente do CBEXs (Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde) e presidente do SindHosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo), contou que, para o bem do setor, essa transformação deve ser feita o quanto antes, já que o período é diferente de alguns anos atrás e permite que exista essa modernização: “Era impossível antes pensar em fazer as reformulações todas dentro da instituição sem que junto disso reformulasse também a cabeça dos gestores e daqueles que, de alguma forma, fossem trabalhar dentro dessas instituições”, argumentou ele, citando ainda que essa renovação consegue transformar também as instituições em instituições de pesquisa, já que tudo o que é feito dentro dessa entidade acaba por produzir dados e informações que podem ser capturados, para serem usados em pesquisas técnicas, científicas ou operacionais.

Balestrin lembrou ainda que, além da modernização, a transformação digital também traz competências para empoderar os profissionais de saúde e acabam agregando positivamente outros profissionais dentro do setor, como por exemplo, a entrada de engenheiros para dentro da instituição médica: “Acaba trazendo um desenho com muito mais possibilidades de pessoas focadas no cuidado assistencial que, com certeza, fará aumentar aquilo que todos nós, que somos gestores de saúde, pensamos: melhorar o acesso e a qualidade assistencial”, finalizou.

O uso da tecnologia digital sendo incorporado às soluções de problemas tradicionais na saúde se mostrou eficiente com argumentos concisos dos palestrantes durante a semana. Acelerar a transformação para capacitar o profissional da saúde neste novo modelo, por meio da troca de ideias, foi o foco do último Digital Health Acceleration Week (DHAW), preparando a mudança de mindset para que esse novo desenho seja implantado.

Claudio Giulliano, CEO da FOLKS, já prospecta inclusive os planos para o ano que vem: “Este é um evento que entra no calendário dos eventos de saúde digital, dada a sua profundidade temática. Não é um evento de oba-oba. É um evento que tem um conteúdo técnico mais profundo. Com isso, nós repetiremos a dose no ano que vem e será semipresencial, para que nós possamos voltar a interagir mais de perto”, concluindo.

Redação

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