Hospital Leforte faz 1º transplante renal pareado do país em pacientes hipersensibilizados

Um procedimento inédito no Brasil, feito a partir do cruzamento de duplas de doadores e receptores de rins, abre novas perspectivas para o tratamento de pacientes com necessidade de diálise. No Hospital Leforte, pertencente à Dasa, rede de saúde integrada, duas receptoras e dois doadores passaram por transplantes renais pareados realizados pela primeira vez em pacientes hipersensibilizados.

A hipersensibilização é caracterizada pela grande quantidade de anticorpos no sangue, decorrente de transfusões, gestações ou transplantes prévios, o que dificulta a identificação de um doador compatível para o transplante. Um indivíduo é considerado hipersensibilizado quando apresenta exame de Painel acima de 80%. Este exame é feito na inscrição da fila de transplantes. Um resultado de 80% significa que o paciente terá anticorpos contra 80% da população, sendo compatível apenas com os 20% restantes.

Atualmente, cerca de 5 mil dos mais de 32 mil pacientes que estão na fila a espera de um rim encontram-se neste estado de hipersensibilização. Muitas dessas pessoas já tentaram um ou mais doadores vivos, incluindo parentes ou pessoas próximas, que se mostraram incompatíveis. Uma minoria deles chega ao transplante de doador falecido devido a esta dificuldade. Mais grave, a mortalidade de pacientes em diálise, aguardando por um transplante, é de 20% ao ano no Brasil, sendo ainda maior para os pacientes hipersensibilizados.

A dificuldade e a complexidade destes transplantes pareados podem ser medidas pela condição de uma das receptoras, que apresentava exame de Painel de 92%, isto é, possuía anticorpos sanguíneos contra 92% da população – entre 100 doadores, apenas 8 seriam compatíveis. A paciente já estava há 3 anos na fila de espera para um rim de doador falecido e nunca recebeu oferta de um órgão compatível.

Os procedimentos realizados no Hospital Leforte foram feitos de forma simultânea e exigiram a participação de mais de 40 profissionais, distribuídos em quatro salas cirúrgicas, sob a liderança do Dr. Marcelo Perosa, diretor do programa de transplantes de rim e pâncreas da instituição.

Isso foi possível em função do Projeto de Transplante Renal para Doação Pareada, iniciado há oito anos e autorizado pelos Comitês de Ética e devidamente registrado na Plataforma Brasil, com o objetivo de implementar a doação renal pareada no país. Já foram incluídas, durante esse período, 85 duplas incompatíveis entre si, o que permitiu o início dos cruzamentos entre doadores e receptores.

“De agora em diante, estes pacientes com doadores incompatíveis têm mais uma alternativa para chegar ao transplante renal. Além de conseguir um rim através desta troca de doadores vivos, os pacientes ainda ajudam outra pessoa, uma vez que dois pacientes sempre serão envolvidos ao mesmo tempo”, afirma o Dr. Marcelo Perosa.

Mas o que vem a ser doação renal pareada?

Pacientes com insuficiência renal crônica têm a necessidade de hemodiálise três vezes por semana, em sessões que podem durar até 4 horas, ligados a uma máquina para filtrar o sangue, uma vez que o rim não exerce mais esta função. Para essa pessoa, o melhor tratamento é o transplante renal, que pode ser de doador vivo ou falecido.

Um a cada três pacientes com doador vivo que procuram a equipe para transplante intervivos tem o seu doador descartado por incompatibilidade. Com a doação pareada, os dados clínicos e genéticos do paciente e de seu doador vivo incompatível são incluídos em um avançado banco de dados, que faz a procura e o cruzamento de informações para encontrar doadores de outras duplas na mesma condição e que sejam compatíveis de forma cruzada.

“Foi o que ocorreu com os dois pacientes e seus respectivos doadores vivos. Uma vez que a compatibilidade cruzada entre estas duplas foi confirmada, os doadores foram notificados e aceitaram seguir em frente com a doação pareada. Desta forma, doadores e receptores foram trocados entre estas duplas e dois transplantes renais intervivos foram realizados simultaneamente, possibilitando a ambos interromper a diálise e voltar a ter uma vida normal”, completa o Dr. Perosa.

Com o sucesso do primeiro procedimento, todo paciente renal crônico que tenha um doador vivo já estudado e previamente descartado por incompatibilidade pode encontrar na doação renal pareada uma nova alternativa para o transplante.

Redação

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