O dia 12 de junho, lembrado como o Dia Nacional de Conscientização das Cardiopatias Congênitas, pôs luz sobre uma importante demanda da área da saúde: o tratamento de doenças cardíacas em crianças. Essas alterações na estrutura do coração presentes antes mesmo do nascimento atingem 8 em cada 1.000 nascidos vivos, segundo a literatura internacional.
No Rio Grande do Sul, dos cerca de 140 mil nascidos por ano, 1.540 apresentam alteração no coração. Destes, 50% não sobrevivem antes de completar 1 ano e 80% morrem antes dos 5 anos de idade se não tratados. Atualmente, apenas dois serviços de referência se dedicam ao atendimento integral às crianças com cardiopatias congênitas, e não conseguem suprir a demanda existente no Estado.
Com o objetivo de reduzir estes índices e auxiliar no atendimento aos pacientes, que acabam buscando serviços em hospitais de excelência de São Paulo e do exterior, o Hospital Moinhos de Vento inaugura o novo Núcleo de Cardiopatias Congênitas. A unidade foi apresentada durante a edição mensal do Grand Round realizada na sexta-feira (15) no anfiteatro da instituição.
Na abertura do evento, o superintendente Médico Luiz Antonio Nasi ressaltou que a instituição tem dado seguimento ao objetivo de dar crescimento ao Serviço de Pediatria e a alta complexidade. Já o coordenador do Núcleo de Cardiopatias Congênitas do Serviço de Pediatria do Hospital Moinhos de Vento, Dr. Renato Abdala Karam Kalil, destacou que poucos centros conseguem contar com a estrutura complexa necessária para prestar este atendimento. “Para oferecer os tratamentos e acompanhamentos adequados para esta patologia, é preciso ter uma organização complexa, profissionais experientes e equipes bem treinadas”, disse.
Tais doenças podem ser tratadas por cirurgia aberta ou por intervenções percutâneas utilizando cateteres, procedimentos que estão disponíveis no Hospital Moinhos. O suporte pós-operatório na recuperação das crianças depende de uma UTI Pediátrica de qualidade, como a do hospital, onde tanto a equipe médica quanto assistencial tem se preparado para dar suporte a complexidade que esses pacientes exigem. O atendimento inclui uma equipe formada por cirurgiões cardíacos e cardiologistas, especialistas em UTI pediátrica, intensivistas e da hemodinâmica. Além disso, o Núcleo confere segurança aos recém-nascidos na maternidade da instituição, assegurando tratamento imediato e adequado para os casos de cardiopatias.
O evento contou com a participação do médico Marcelo Biscegli Jatene, diretor da Unidade de Cirurgia Cardíaca Pediátrica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Filho de Adib Jatene, criador da cirurgia homônima realizada pela primeira vez em 1975, que permitiu tratar uma cardiopatia congênita conhecida como transposição dos grandes vasos, o convidado abordou o panorama da cirurgia cardíaca. Dados apresentados pelo médico revelam que dos 130 milhões nascidos no mundo, 1 milhão apresentam este quadro.
“Até a década de 1970, a figura central era o cirurgião e o cenário era de poucos casos e especialistas na área. Dez anos depois, surgiram as primeiras unidades cardiológicas pediátricas, até evoluirmos para um programa nacional de assistência a esses pacientes estabelecido pelo Ministério da Saúde nos anos 2000. Porém, o índice de crianças que nascem com necessidade de tratamento é superior aos centros oferecidos no Brasil e no mundo”, disse Jatene.
A correção cirúrgica permite a sobrevida ou mesmo a cura das cardiopatias menos complexas. Com repercussão na vida adulta, hoje a expectativa é que esses pacientes sejam acompanhados para avaliação.