Humanismo médico na prática. O que muda de um profissional para outro?

A qualidade do relacionamento médico-paciente precisa melhorar. Se, numa ponta, existe uma pessoa que sofre e muitas vezes se mostra insegura e nervosa com a perspectiva do avanço de uma doença, seja ela qual for, do outro lado há um médico que se mostra cada vez menos preparado para lidar com aqueles que dependem de seu diagnóstico, atendimento, atenção. Na opinião da médica Graziela Moreto, diretora da SOBRAMFA – Educação Médica & Humanismo, uma abordagem humanista, do ponto de vista médico, implica num profissional mais sensível ao contexto e aos valores que cada paciente carrega consigo.

“Desde a faculdade, os médicos têm de lidar com muita pressão em termos de tempo, recursos financeiros e materiais, produtividade e demandas acadêmicas. Por mais bem-intencionados que os alunos ingressem numa faculdade de Medicina, ao longo dos seis anos de curso, mais dois ou três de especialização, tudo contribui para que eles se familiarizem com novas tecnologias, novas pesquisas, novas demandas de um mercado de trabalho muitas vezes injusto e altamente competitivo. Na contramão, pouquíssimos cursos ensinam a enxergar com olhos mais generosos a pessoa que está ali na sua frente, precisando de cuidados. Quem é ela? Em que contexto socioeconômico, cultural e religioso ela vive? Seus familiares ou amigos estão envolvidos no tratamento? Estar interessado nessas respostas é parte fundamental de um atendimento humanista”, diz a médica.

É bastante difícil sair desse ciclo vicioso: médicos estão trabalhando grande parte do tempo sob pressão, com praticamente ninguém que olhe por eles, e isso se reflete no atendimento cada vez mais próximo da doença e distante do paciente. “A SOBRAMFA, através de seu congresso anual, do programa de estágio e de tantas outras atividades que promove para pôr em prática uma medicina humanista, procura conhecer mais profundamente os hábitos e atitudes dos jovens médicos, identificando um comportamento humanista que possa ser desenvolvido e ampliado na atuação profissional”, revela Graziela.

Segundo a médica, não é difícil perceber quando um médico se interessa de fato pela vida de seus pacientes, demonstrando curiosidade, ou ainda quando ouve pacientemente a história que o doente quer contar desde o início – às vezes, repetidamente. O problema é que está cada vez mais difícil encontrar um profissional que trata seus pacientes como gostaria de ser tratado. É isso o que precisa mudar. Não se trata apenas do aspecto médico, de tratar uma doença, mas de contribuir para que esse momento não seja tão pesado para o doente.

“O médico humanista pondera constantemente sobre como pode ajudar seus pacientes a ter uma vida mais saudável e equilibrada, ou ainda sobre como atravessar momentos difíceis de uma forma menos dolorosa e mais positiva. Ele busca fazer conexões com seus pacientes e, não raro, com suas famílias – principalmente quando se trata de doenças graves e com prognóstico reservado. E o mais interessante é que todos saem ganhando. Essa relação mais aberta e afável evita muitos casos de burnout (esgotamento físico e mental) entre médicos. Ela contribui substancialmente para que o profissional alcance um equilíbrio entre os deveres da profissão e o prazer de sentir que a vida tem um significado todo especial. O médico humanista, inclusive, se mostra mais realizado em seu trabalho, já que ele mesmo garante um ambiente bem mais positivo e acolhedor”, afirma a diretora da SOBRAMFA.

Redação

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