Ida de meninos ao urologista é cerca de 18 vezes menor que a das meninas ao ginecologista

Levantamento inédito realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com dados do Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde, aponta que o número de atendimentos de adolescentes meninos de 12 a 18 anos ao urologista é 18 vezes menor que o de atendimentos de meninas ao ginecologista da mesma faixa etária.

A SBU realiza em setembro, pelo quinto ano consecutivo, a campanha #VemProUro, que este ano enfatiza a importância de o menino também cuidar da sua saúde genital e reprodutora e se engaja ainda na luta contra os cânceres provocados pelo HPV, conclamando os responsáveis a levarem seus adolescentes para serem vacinados.

“Essa campanha é importante para chamar a atenção dos pais quanto a necessidade de acompanhar e levar o filho ao urologista desde cedo, junto ou após o seguimento com o pediatra. Assim como a menina que vai ao ginecologista de forma recorrente, o garoto também precisa passar com o especialista em todas as fases da vida para identificar possíveis anormalidades, além de incentivar a prevenção precoce. Identificar situações de agravo à saúde destes jovens e a possibilidade de orientá-los e tratá-los de forma correta para promover saúde e evitar a doença.”, alerta Dr. Leonardo Seligra Lopes, urologista e andrologista, Diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia Secção SP.

Os dados de atendimentos gerais dos adolescentes ao Sistema Único de Saúde corroboram essa análise de que os jovens meninos não cuidam da saúde. Números de 2020 Sistema de Informação Ambulatorial (SIA) do Ministério da Saúde, mostravam que o acesso das meninas entre 12 e 19 anos ao SUS foi quase 2,5 vezes maior que o dos meninos: 10.096.778 de meninas, contra 4.066.710 de meninos.

Dados do Ministério da Saúde, obtidos com exclusividade pela SBU, mostram que em 2021 foram registrados 189.943 atendimentos femininos por ginecologistas na faixa etária de 12 a 18 anos, contra 10.673 atendimentos masculinos por urologista nessa mesma faixa etária, o equivalente a cerca de 18 vezes a menos. Em 2020 foram 165.925 atendimentos femininos por ginecologistas e 7.358 atendimentos de meninos por urologistas.

Atendimentos femininos realizados pelo ginecologista

Idade 2.020 2.021 2.022 (até junho)
12 anos 3.513 4.019 1.474
13 anos 4.919 6.572 2.649
14 anos 11.565 13.265 5.099
15 anos 19.857 23.893 9.184
16 anos 31.057 35.558 13.856
17 anos 41.438 46.380 18.167
18 anos 53.576 60.256 24.164
Total 165.925 189.943 74.593

 

Atendimentos masculinos realizados pelo urologista

Idade 2.020 2.021 2.022* (até junho)
12 anos 738 2.344 1.581
13 anos 656 893 1.468
14 anos 1.172 892 340
15 anos 1.333 1.348 332
16 anos 1.057 1.632 921
17 anos 1.363 1.919 484
18 anos 1.039 1.645 508
Total 7.358 10.673 5.634

 

ISTs entre jovens

Entre as ISTs mais comuns estão sífilis, herpes simples, cancro mole, HPV, linfogranuloma venéreo, gonorreia, tricomoníase, hepatite B e C e HIV. “É cada vez mais comum atendermos, em consultório ou no serviço público de saúde, adolescentes com ISTs, o que nos preocupa bastante. Daí pensarmos em focar a campanha deste ano em prevenção de ISTs, incluindo a vacinação por HPV”, afirma Dr. José Murillo Bastos Netto, coordenador do Departamento de Urologia do Adolescente.

Pesquisa realizada pela SBU em 2020 com adolescentes constatou que 44% dos entrevistados não usaram preservativo na primeira relação sexual e 35% não usam ou usam raramente o preservativo. Já 38,57% dos meninos disseram não saber sequer colocar o preservativo.

E pesquisa divulgada pelo IBGE, em julho de 2022, reafirmou os dados da SBU, mostrando que a educação sexual do jovem no país está deficitária. Os dados mostram que de 2009 a 2019 o percentual de escolares que usaram camisinha na última relação sexual caiu de 72,5% para 59%. Entre as meninas, a queda foi de 69,1% para 53,5% enquanto entre os meninos, de 74,1% para 62,8%.

Vacina contra o HPV

O HPV está associado ao câncer de colo de útero, de pênis, de ânus e de orofaringe. O vírus tem uma prevalência mundial estimada em 11,7% e a faixa etária de maior prevalência é nos menores de 25 anos. Por ser uma doença na maioria das vezes assintomática e com remissão espontânea em até dois anos, muitas pessoas não descobrem ter o problema e transmitem a seus parceiros.

A vacina contra o HPV é ofertada gratuitamente no SUS para meninas entre 9 e 14 anos, desde 2014, e meninos entre 11 e 14 anos, desde 2017. Embora já se saiba a importância da imunização, a cobertura vacinal dos meninos ainda é muito baixa. Dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI) revelam baixas coberturas vacinais de HPV com as duas doses para ambos os sexos. Enquanto as meninas com duas doses somam 56,2%, os meninos, 36%.

Ações de promoção de saúde

Ao longo do mês de setembro, a SBU vai realizar ações on-line de esclarecimento como lives e vídeos no seu perfil nas redes sociais do Portal da Urologia (@portaldaurologia). Também haverá palestras on-line de urologistas em escolas para adolescentes. E em seu site (www.portaldaurologia.org.br) conteúdo com temas voltados para os adolescentes.

“Desde 2018, ano da primeira campanha #VemProUro, abordamos os mais variados aspectos da saúde dos meninos, mas sempre com ênfase em algum assunto específico. Neste ano abordaremos as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e em especial o HPV e a importância da vacinação já no período inicial da adolescência, antes da primeira relação sexual. O HPV é a principal causa de câncer de colo do útero e também está associado ao câncer de pênis. Dados do Ministério da Saúde apontam que menos de 40% dos adolescentes masculinos têm as duas doses da vacina do HPV. A cada ano que passa percebe-se um maior engajamento dos colegas urologistas e um maior alcance da população de adolescentes masculinos e seus pais. Acredito que com o passar do tempo essa campanha contribuirá decisivamente para uma mudança de cultura de cuidados à saúde dos nossos meninos, equiparando ao que vemos hoje nos cuidados à saúde das meninas adolescentes”, ressalta o urologista Dr. Daniel Suslik Zylbersztejn, coordenador da campanha.

O que o menino vai saber em uma consulta?

A consulta ao médico nessa idade é importante para avaliação de vários quesitos, como o desenvolvimento físico e a nutrição, condições gerais de saúde, noções sobre a higiene correta do corpo e dos órgãos genitais, identificação e medidas preventivas para o desenvolvimento de doenças futuras como os fatores hereditários e comportamentais, exame testicular e orientações sobre o autoexame para detecção de anormalidades como varicocele (veias dilatadas nos testículos que podem levar à infertilidade), hérnias, testículos mal descidos e tumores no órgão (cuja idade de maior risco começa por volta dos 14 a 15 anos), orientações sobre ISTs, paternidade responsável e prevenção de gravidez indesejada, uso correto do preservativo, fimose, excesso de pele no pênis, dúvidas sobre sexualidade e desenvolvimento genital como o tamanho peniano (um questionamento frequente), avaliação da caderneta de vacinação, orientações a respeito do início da vida sexual etc.

Redação

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