O Instituto do Coração (InCor-HCFMUSP) e a empresa global de tecnologia Dynex anunciaram os primeiros resultados de uma parceria inédita para aplicar a computação quântica na área da saúde.
Ao contrário dos computadores tradicionais, que usam bits (0 ou 1), a computação quântica usa qubits, que podem representar vários valores ao mesmo tempo. Isso permite processar informações de maneira muito rápida e eficiente.
O objetivo é usar essa nova tecnologia para permitir que análises médicas e genéticas sejam realizadas com total privacidade de dados dos pacientes, um passo importante rumo à medicina de precisão no Brasil.
Essa inovação permite que computadores analisem grandes volumes de dados de forma mais eficiente, rápida e com menor consumo de energia. Em um hospital, isso significa cruzar milhões de registros clínicos em poucos segundos, auxiliando médicos e pesquisadores na identificação de padrões, riscos e possíveis complicações com mais agilidade e precisão.
Privacidade e eficiência: os primeiros resultados
Na primeira fase do projeto, o InCor enfrentou um desafio comum em instituições de ensino e pesquisa na área da saúde: proteger informações sensíveis de pacientes, sem limitar o uso científico desses dados.
A solução desenvolvida, com base em computação quântica, permite anonimizar automaticamente prontuários e registros médicos, ou seja, remover nomes e dados pessoais de notas clínicas e demais documentos médicos, sem comprometer o conteúdo desses documentos.
Os resultados preliminares mostram que essa tecnologia processa dados de forma mais rápida e com menor consumo de energia, do que modelos de inteligência artificial (IA) que usam computação tradicional. Na prática, isso significa mais segurança para os pacientes, menor custo operacional e maior agilidade no desenvolvimento de pesquisas.
“A tecnologia permite que possamos realizar nossas pesquisas de forma mais segura, protegendo as informações médicas em conformidade com a legislação vigente, sem limitar o uso científico dos dados. Isso acelera o caminho entre o dado e a decisão clínica”, explica o Diretor do Serviço de Informática do InCor, Prof. Dr. Marco Antonio Gutierrez.
Impacto na rotina hospitalar
Com essa nova tecnologia, hospitais públicos e privados poderão, por exemplo, cruzar automaticamente dados de exames e prontuários de milhares de pacientes para identificar riscos de doenças cardiovasculares, prever complicações em cirurgias ou detectar falhas em protocolos de atendimento.
Outra aplicação importante é o apoio à tomada de decisões clínicas. Usando computação quântica, grandes volumes de informações médicas, como notas clínicas, podem ser analisados rapidamente para resumir casos clínicos, extrair de sintomas e diagnósticos e destacar eventos importantes da história clínica do paciente. Essas tarefas que hoje exigem computadores potentes e muito tempo de processamento, podem ser realizadas com mais velocidade, eficiência e menor custo.
“Estamos falando de uma nova tecnologia com grande potencial para de inovação em Medicina, com aplicação em hospitais, universidades e centros de pesquisa de todo o país”, destaca Gutierrez.
“Com a computação quântica, conseguimos ampliar o acesso à inteligência artificial de ponta, com mais eficiência energética e menor custo”, esclarece o Diretor Executivo do InCor, Dr. Fabio Nakandakare Kawamura.
Parceria estratégica com a Dynex
Os avanços foram possíveis graças a uma parceria inédita com a Dynex, uma empresa global de tecnologia especializada em computação quântica neuromórfica, uma área que combina princípios da física quântica com a inteligência artificial inspirada no cérebro humano.
A colaboração utiliza a plataforma Quantum-as-a-Service (QaaS) da Dynex, que funciona como uma espécie de “nuvem quântica”. Essa estrutura permite aplicar a tecnologia de forma prática em diferentes setores, inclusive na saúde.+
Para o InCor, a iniciativa reforça sua trajetória de quase cinco décadas, unindo ciência, tecnologia e cuidado humanizado. Para a Dynex, representa um passo estratégico para aplicar sua tecnologia em áreas de alto impacto social, como a medicina. As próximas etapas do projeto incluem ampliar os testes para novas aplicações, com o objetivo de integrar a tecnologia à rotina clínica, desde a pesquisa até o atendimento direto aos pacientes.

