Indústrias de dispositivos médicos no pós-pandemia: fortalecidas em sua imagem e combalidas pela falta de investimentos do Estado

Quando se fala em um panorama da indústria de dispositivos médicos após o período da pandemia, as perspectivas são preocupantes. A diretoria da Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios) afirma que sem diálogo com o Estado e sem políticas públicas de incentivo fica difícil vislumbrar um futuro promissor para o setor.

“Para os segmentos que são estratégicos, as ferramentas do Estado – entre elas política fiscal, subsídios, subvenção econômica e poder de compra – devem ser usadas conjuntamente para reerguer esse setor. Nossa indústria sai disso, provavelmente reconhecida como sendo de necessidade estratégica. Se por um lado, fica enfraquecida economicamente, por outro, fortalecida politicamente. Se conseguirmos transformar esse fortalecimento político em ferramentas que deem propulsão a nossa indústria, poderemos abrir um novo caminho na história da indústria de dispositivos médicos no Brasil”, diz o presidente da Abimo, Franco Pallamolla.

“A indústria vai ter que se consolidar de uma maneira muito mais forte na produção local. Não que ela terá que produzir tudo aqui no Brasil, mas ela não vai poder mais centralizar tudo na China. As empresas vão se organizar para cobrar do Estado uma política de desenvolvimento industrial, para sermos competitivos mundialmente e fortes dentro do país”, completa o superintendente da Abimo, Paulo Henrique Fraccaro.

A pandemia do novo coronavírus expôs uma série de deficiências socioeconômicas no país e com a indústria de dispositivos médicos não foi diferente. Diante da explosão da demanda, principalmente por respiradores e ventiladores pulmonares, as empresas tiveram que se adaptar rapidamente a essa nova realidade. Na prática, isso significou aumento de turnos de trabalho para produzir em até 90 dias o que se produzia em um ano.

Com a necessidade crescente de abastecer o mercado de saúde para o combate ao Covid-19, a indústria brasileira de dispositivos médicos precisava de investimentos e de incentivos por parte do Estado. O que se presenciou foi uma política tributária que colocou o mercado em xeque. Ao mesmo tempo que houve isenção de impostos para produtos importados relacionados ao combate da pandemia, por outro as exportações desses mesmos produtos foram proibidas.

“O que estamos fazendo é promover a desindustrialização do parque nacional. A indústria nacional jamais será competitiva nestas condições de total falta de isonomia tributária. Aliás, esta falta de isonomia atinge toda a cadeia de produtos para a saúde.”, explica Fraccaro.

“No Brasil, continuamos discutindo questões tributárias. O fato concreto é que as empresas do setor estão em dificuldades. Muitas delas estão quase paradas: diminuíram seus quadros, colocaram os colaboradores em férias e algumas fizeram a reconversão para atuar dentro da pandemia. O fato é que grande parte delas sairá extremamente fragilizada depois da pandemia”, esclarece Pallamolla.

Em paralelo, muitas indústrias também fizeram reconversão de parte de suas linhas para atender demandas paralelas como EPIs e até produção de álcool em gel. Mesmo assim, apesar de todos os esforços e união do setor, foi perceptível a dependência dos produtos importados, principalmente os chineses. Com o aumento da demanda mundial, criou-se uma disputa acirrada entre os países, na busca por equipamentos e componentes relacionados ao enfrentamento do Covid-19.

“O fato é que isso mostrou que os países estão absolutamente dependentes de tecnologias básicas, médias e complexas da Ásia. A Europa por exemplo ficou sem respiradores, sem EPIs. EPI é básico, não tem uma grande tecnologia envolvida. Porém, por diversos motivos, o mundo centralizou a produção na Ásia. A pandemia evidenciou que não podemos ficar tão subordinados a isso”, reflete Pallamolla, presidente da Abimo.

Redação

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