Instituição de Minas Gerais economiza R$ 380 mil por ano com projeto da Arto

Por Carol Gonçalves

Repensando o hospital do futuro, o escritório Arto Arquitetura focou em inovação, sustentabilidade e eficiência para reestruturar os mais de 20.000 m² da Santa Casa de Juiz de Fora (MG).

Placas coletoras de energia solar

O destaque é o Sistema de Aquecimento de Água, desenvolvido em parceria com a CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais, que aquece mais de 30 m³, ou 30 mil litros, de água por dia, por meio de 1.270 m² de placas coletoras de energia solar. Além de contribuir para a economia de aproximadamente R$ 380 mil por ano, esse sistema é considerado o maior da América Latina.

Dentro do conceito de sustentabilidade, elementos simples, como o aproveitamento máximo da luz natural, foram levados em consideração e inseridos de forma estratégica na reestruturação da Santa Casa. Indispensável para o bom funcionamento do hospital, já que otimiza os recursos, a luz natural também tem conotação terapêutica para a melhora dos pacientes. “Nesse projeto, trabalhamos com uma matriz de sustentabilidade que envolve o aproveitamento máximo de energia solar, ventilação e luz natural, e redução do consumo de água”, explica a arquiteta e urbanista Moema Loures, sócia da Arto.

Novos painéis escondem os fios dos equipamentos

Outro ponto importante do projeto é oferecer uma experiência melhor para o paciente. Com espaços mais convidativos e soluções inovadoras de humanização, a empresa busca tirar a doença do foco do paciente. Exemplo disso são os novos painéis criados para os quartos, que escondem os fios dos equipamentos e também oferecem mais mobilidade ao paciente. Além disso, essas estruturas são modulares e já pré-fabricadas, o que oferece rapidez na montagem e manutenção.

“Nós mergulhamos a fundo no ambiente para entender as necessidades diárias da equipe, da instituição e, principalmente, dos pacientes. Quando conseguimos fazer essa imersão, projetamos ambientes mais seguros para as pessoas, sustentáveis para o meio ambiente e econômicos para o hospital. Acredito que para se ter um projeto bem-sucedido, não adianta pensar na reforma de um setor de forma isolada, mas sim em todo o espaço, no seu ecossistema”, expõe Moema.

Moema Loures, arquiteta e urbanista

O maior desafio encontrado na reestruturação da Santa Casa foi executar o planejamento, ou seja, fazer obras e gerenciar a logística com o hospital em funcionamento. Assim, para agilizar o processo, foi montada uma unidade do escritório de arquitetura dentro do hospital. “Participamos de todas as etapas, desde as primeiras reuniões de planejamento com os gestores e o corpo clínico até a entrega das obras. Acompanhamos também o pós-obra, avaliando o ciclo de vida dos materiais e a manutenção”, ressalta Moema.

Em paralelo a isso, também houve o desafio de implantar uma cultura de manutenção que se reflita no cuidado com o espaço após a entrega da obra. “Integramos as cadeias de arquitetura, engenharia e construção para planejar a logística e, dessa forma, aumentamos o tempo de planejamento e projeto e reduzimos o tempo de obra. Nossa imersão no canteiro de obras contribui para que possamos vivenciar os bastidores do hospital e estar cada dia mais integrados com sua gestão e a equipe de enfermagem”, conta.

A experiência do paciente

Luz natural é terapêutica

Em um ambiente de recuperação, o espaço pode ajudar a melhorar o sono, reduzir a agitação e ansiedade, bem como aumentar as relações sociais, trazendo benefícios para pacientes, acompanhantes, funcionários e médicos. “Nós voltamos o nosso olhar para a sensibilidade do uso de cores, intensidade de luz, variação de temperatura, orientação visual, sistema de detecção de forma e interação constante de nossos corpos e movimentos dentro do universo hospitalar”, explica a sócia da Arto.

A empresa busca criar espaços que facilitam a orientação do paciente e dos funcionários. O sistema conhecido como Wayfinding design, ou design de sistemas informacionais, é uma interseção de áreas como design gráfico, design de produto, arquitetura, urbanismo e comunicação. O objetivo é informar, orientar, identificar e ambientar espaços, ao mesmo tempo em que libera a imaginação criativa e estimula a recuperação do paciente. “Acreditamos que o ‘detalhe’ pode ser a chave de um projeto de arquitetura. Através dele é possível despertar o lúdico em ambientes de grande rigor e complexidade. A ideia é despertar a curiosidade das pessoas que experimentam a arquitetura”, conta Moema.

Com relação à luz, a Arto busca criar espaços para que ela penetre de forma indireta, criando atmosferas, ambiências. “Arquitetura é especialmente uma experiência espacial. A relação com o exterior para nós é crucial. Estamos sempre interessados na luz, na luz do dia e na incidência da luz sobre as coisas: dá a sensação de que há algo por trás de todo o nosso entendimento”, expõe.

Conceito

Quando se fala em arquitetura, é importante não confundir com decoração, nem com construção. “Atrás de toda boa arquitetura existem muitas ideias e investigações técnicas, teóricas e construtivas. A boa arquitetura sempre foi pensada para o homem. Assim, falar em arquitetura humanizada é quase um pleonasmo”, explica Moema.

No processo arquitetônico voltado a instituições de saúde, é importante pensar em como se está moldando a infraestrutura do futuro, tendo em mente que a saúde está mudando muito rapidamente. “Queremos um hospital que não fique desatualizado dentro de alguns anos, mas no qual, futuramente, novos conceitos e tecnologias possam ser adicionados. Ao mesmo tempo, nosso desafio será sempre uma arquitetura na escala humana, na escala das relações sociais e das percepções sensoriais”, explica Moema.

Segundo ela, no instante vida e morte, de grande fragilidade, a arquitetura pode fazer renascer a esperança e o desejo de vida. “Que nosso amor pela arquitetura e pelas obras tenha o poder de curar sorrisos.”

Não erre!

É sempre mais complicado fazer uma reforma do que construir do zero um hospital seguindo as tendências de sustentabilidade, pois é preciso lidar com condicionantes de infraestrutura já existentes e nem sempre bem projetadas, como observa Moema. “Além disto, durante uma reforma, o hospital está funcionando e a obra tem de seguir a logística já existente. Defendo a ideia que o arquiteto é a pessoa que mais domina o processo do planejamento, projeto e obra, assim, deve ser o coordenador de toda a tomada de decisões.”

De acordo com Moema, isolar a arquitetura da engenharia é outro grande erro. É preciso unir a arquitetura, a engenharia e a construção. Esta é a proposta do Curso de Especialização em Arquitetura para a Saúde, da PUC-Rio, idealizado e coordenado por ela, que terá início em março de 2020.

História

Há oito anos à frente de obras fundamentais para a Santa Casa de Juiz de Fora, a Arto foi responsável pelo desenvolvimento dos projetos da Unidade Neonatal, Hemodinâmica, Unidade Coronariana, Endoscopia, Espaço Clínico, Ambulatório do SUS, Central de Material Esterilizados e todo o setor de Hotelaria do hospital, entre outros. Nos últimos meses, o escritório está trabalhando na criação de 30 novos leitos de terapia intensiva (CTI), ampliação do Espaço Clínico PLASC, criação do Hospital Dia e Nova Portaria com a mudança do sistema viário do hospital.

“Esse cuidado minucioso, que une estudo de viabilidade, plano diretor, projeto de arquitetura completo, gerenciamento dos projetos complementares, assessoria na aquisição de materiais, equipamentos e fornecedores, design, comunicação visual e acompanhamento de toda a obra é refletido nos prêmios e citações em publicações internacionais que conquistamos ao longo dos anos”, salienta Moema.

Matéria originalmente publicada na Revista Hospitais Brasil edição 99, de setembro/outubro de 2019. Para vê-la no original, acesse: portalhospitaisbrasil.com.br/edicao-99-revista-hospitais-brasil

Redação

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