JAMA Network Open publica estudo de hospital brasileiro sobre otimização na assistência a potenciais doadores de órgãos

Para melhorar a assistência a pacientes que tiveram morte encefálica e foram identificados como potenciais doadores de órgãos, o Hospital Moinhos de Vento realizou o Projeto Donors. O estudo avaliou se o uso de uma série de medidas clínicas à beira leito impactava ou não na perda desses indivíduos por parada cardíaca. O trabalho foi publicado, em dezembro, no JAMA Network Open.

A iniciativa, viabilizada via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), surgiu da necessidade e da constatação de que muitos potenciais doadores eram perdidos em razão de problemas ou desajustes no cuidado desses pacientes, destacou o autor principal do estudo, o médico intensivista Glauco Westphal – à época, integrante do corpo clínico do Hospital Moinhos de Vento. De acordo com Régis Rosa, médico intensivista e pesquisador do Hospital Moinhos de Vento, a parada cardíaca de potenciais doadores é um fator importante para que não ocorram mais doações de órgãos no Brasil.

“Existem cuidados dentro do contexto da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para evitar essas perdas de doadores até a retirada dos órgãos”, diz Rosa.

Os achados, no entanto, não apresentaram significância estatística na redução das perdas entre o grupo intervenção – que adotou o checklist de ações – e o controle – que manteve a assistência usual a esses pacientes. Contudo, após análise detalhada sobre a adesão dos hospitais do grupo intervenção às medidas do pacote, os resultados foram bem diferentes.

“Quando alguém afirma que aplicou o checklist, mas não assinalou e realizou o que deveria, é como ir ao supermercado com uma lista de itens a serem comprados, mas não fazer a compra”, explica Westphal.

“Se compararmos o checklist com um ‘medicamento’, sabemos que só obteremos efeito se usado na ‘dose’ e na ‘frequência’ certas. Naqueles hospitais que adotaram as medidas na forma correta, observamos uma diminuição muito importante na perda de doadores. Caiu pela metade, quando comparados aos que não aderiram e ao grupo controle”, completa o autor do trabalho.

Conduzido entre novembro de 2017 e junho de 2019, o projeto avaliou 1.535 pacientes com morte encefálica com potencial para a doação de órgãos, de 61 hospitais que atendem exclusivamente o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil e mais outros dois não-exclusivos SUS.

Entraram no levantamento instituições de 19 estados brasileiros e do Distrito Federal, de todas as regiões. Com esta publicação, o projeto Donors entrega à sociedade uma alternativa simples e de baixo custo que pode contribuir para o incremento da efetivação da doação de órgãos no país.

“Nos orgulha muito o fato de ser o maior ensaio clínico randomizado com essa população de pacientes, testando medidas clínicas de manutenção do potencial doador de órgãos. Isso é extremamente importante em um país continental como o nosso e com tantas diferenças socioeconômicas e culturais”, finaliza Westphal.

O material pode ser conferido no link jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2812886.

Redação

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