Litígio médico: como a assistência obstétrica humanizada ajuda a evitá-lo

Com 97,85% dos partos no Brasil realizados em hospitais, de acordo com o DATASUS, do Ministério da Saúde, a conduta dos profissionais de assistência médica neste momento marcante para a gestante determinará como essa experiência será lembrada.

No ranking mundial como o segundo país que mais realiza cesarianas, chegando a 84% do total de partos no setor privado de saúde, indo contra o recomendado de 15% pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil possui taxas elevadas de violência obstétrica, com 45% das mulheres atendidas pelo SUS afirmando terem sofrido este tipo de violência, junto a 30% da rede privada, de acordo com a pesquisa “Nascer no Brasil”, da Fiocruz.

Estes números fizeram com que houvesse um aumento nos casos de processos contra profissionais da obstetrícia, e que novas práticas fossem buscadas por aqueles que querem evitar este cenário, tanto para o bem profissional, quanto para a saúde da mãe e do bebê, que é afetada pela má conduta. Isto abriu espaço para a difusão da assistência obstétrica humanizada.

“O parto ideal é aquele em que a mulher participa das escolhas, é ouvida e consultada antes de qualquer ação que interfira em seu corpo. Somente a paciente poderá indicar suas sensações físicas e preferências e sinalizar qual é o procedimento que deseja seguir de acordo com suas expectativas e necessidades biológicas. Por isso, cenários em que o protagonismo feminino é deixado de lado em prol de intervenções médicas desnecessárias não fazem sentido e devem ser evitados”, explica o Dr. Hemmerson Magioni, médico obstetra responsável pelo Instituto Nascer, clínica especializada na obstetrícia humanizada.

É preciso lembrar que esta é inclusive uma forma de assegurar os Direito Humanos previstos em lei, uma vez que a violência obstétrica infringe o direito dos cidadãos de não serem submetidos a tratamento cruel ou degradante.

Como a base da humanização é a autonomia da mulher, nesta abordagem ela está no centro do cuidado e é a responsável por decidir seu plano de parto, ouvindo as indicações da equipe multidisciplinar, que serão sempre baseadas em evidências científicas, e usando as tecnologias de acordo com suas necessidades, a fim de assegurar que tudo ocorra bem.

“A vulnerabilidade emocional e física da gestante na hora do parto deve ser respeitada, invés de abrir espaço para que a posição de domínio dos profissionais da saúde interfira na tomada de decisão. É preciso criar um ambiente acolhedor, de carinho, onde a empatia e a atenção estejam presentes, já que este momento será lembrado por toda vida e os procedimentos realizados serão permanentes no corpo da mulher”, complementa o Dr. Hemmerson.

Seguindo essas diretrizes, a probabilidade de insatisfação das pacientes com a assistência obstétrica é reduzida, o que evita processos indesejados para os profissionais de saúde e problemas na carreira. Fora isso, por ser baseada em evidências científicas, aumenta as chances de sucesso no parto e garante uma boa saúde para mãe e para o bebê.

“Precisamos caminhar para uma medicina centralizada no ser humano, em que a tecnologia é usada a favor do paciente e não apenas para facilitar procedimentos e a experiência para o profissional. O futuro da obstetrícia depende desta mudança de abordagem, que interfere inclusive na formação física e emocional daquele futuro adulto, uma vez que um parto realizado de maneira humanizada pode evitar uma série de complicações de saúde e gerar maior conexão entre mãe e filho”, acrescenta o Dr. Hemmerson.

Existe um problema estrutural que condiciona os médicos a repercutirem as más condutas e que precisa ser quebrado. “Durante sua formação e residência, os futuros profissionais da saúde aprendem técnicas obsoletas e que não passam pela adaptação dos novos estudos e evidências científicas. Hoje, infelizmente, existem poucos cursos e instituições que ensinam as práticas e fundamentos da obstetrícia humanizada, para que possam ser executados de forma mais ampla. Esta é inclusive uma das missões do Instituto Nascer neste ano, criar espaços e eventos para discutir estes temas e difundir o conhecimento, porque além de praticá-los, queremos  que mais profissionais tenham acesso aos princípios da humanização para gerar um impacto a longo prazo e a transformação na medicina”, finaliza o obstetra.

Redação

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