A Maternidade Santa Isabel (MSI) conta agora com um serviço totalmente gratuito de inserção de contraceptivo de longa ação reversível para mulheres em situação de vulnerabilidade de Bauru (SP) que derem à luz na unidade. O projeto entrou em funcionamento neste mês e as puérperas atendidas, após expressarem o desejo de passar pelo procedimento, poderão escolher entre três métodos contraceptivos pós-parto diferentes, contando com o respaldo da equipe da MSI na escolha, baseado em orientações e indicações caso a caso. A facilidade de acesso a esses métodos contribui para redução das taxas de gestação não planejada. O novo serviço contará com R$ 381 mil, de recursos parlamentares, para custeio durante dois anos e, após esse prazo, poderá ser mantido com recursos da Secretaria de Estado de Saúde (SES). A estimativa é que 240 mulheres sejam beneficiadas no período.
Os LARCs (Long-acting reversible contraceptives) ou contraceptivos de longa ação reversíveis mantêm seu efeito por três anos ou mais e podem ser imediatamente reversíveis caso a mulher queira engravidar antes desse período. No projeto da Maternidade Santa Isabel (MSI) estão contemplados o DIU de cobre, o SIU levonorgestrel (Mirena / Kyleena) e o Implante de Etonogestrel, e de acordo com a coordenadora da Ginecologia e Obstetrícia da MSI, Mariane Nunes de Nadai, o procedimento é realizado na enfermaria, durante ou após o parto, e as características de todos os métodos disponíveis promovem benefícios à saúde da mulher. “Esses métodos de longa ação são reversíveis e têm alta eficácia, sendo comparáveis ou até superiores à laqueadura (método contraceptivo definitivo) em termos de proteção contra a gravidez, e possuem pouquíssimas contraindicações”, detalha. Com isso, as chances de a paciente estar apta ao uso são muito maiores. Outra vantagem é que essas opções de longa ação reversíveis são as que garantem as maiores taxas de proteção contra gravidez não planejada. “Nenhum dos métodos gera infertilidade ou reduz as chances de engravidar no futuro”, revela De Nadai, características que estão entre as mais interessantes desses tipos de contraceptivos, na avaliação da médica.
Além de Bauru, o serviço poderá ser estendido às mulheres de outros 17 municípios da região do Departamento Regional de Saúde de Bauru (DRS-VI) que são abrangidos pela Maternidade Santa Isabel (MSI), sob gestão da Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar (Famesp). “Após o procedimento, o serviço de saúde do município de origem da paciente precisa dar continuidade no monitoramento ginecológico de rotina, então, após firmar esse compromisso será possível oferecer para mulheres dessas cidades”, explica Robson Braghetto, assessor administrativo da MSI. A Maternidade Santa Isabel é referência em assistência materno-infantil para região de Bauru e após implantar diversas ações que integram políticas prioritárias do SUS, como a Política Nacional de Humanização (PNH) e a Política Estadual de Humanização (PEH), e modelos essenciais para a assistência perinatal, como o Método Canguru, a unidade foi classificada pela SES-SP como primeira maternidade pública do interior de São Paulo referência em humanização.
Protocolo de vulnerabilidade
Quando a mulher é internada em início do trabalho de parto na MSI, a equipe assistencial solicita avaliação do Serviço Social para abertura de um protocolo de vulnerabilidade, com identificação dos critérios indicação e/ou exclusão para receber um dos métodos contraceptivos de longa ação e verificação do desejo da paciente em aderir a um dos métodos contraceptivos no pós-parto. A paciente passa por uma entrevista social, recebe orientações e caso opte por algum dos métodos ofertados precisará formalizar sua decisão em um termo de consentimento.
Critérios de inclusão
Serão priorizadas para participar do projeto as seguintes pacientes:
- Pacientes em situação de rua;
- Pacientes em situação de vulnerabilidade social (econômica);
- Dependentes de substâncias psicoativas;
- Privadas de liberdade;
- Vítimas de violência doméstica;
- Adolescentes entre 14 e 19 anos e 11 meses e 29 dias;
- Mulheres soropositivas para HIV;
- Mulheres com contraindicação absoluta a outros métodos contraceptivos.
Quais são os tipos disponíveis?
Existem diversos tipos de contraceptivos disponíveis. O projeto da Maternidade abrange os seguintes:
- DIU de cobre – dispositivointrauterino pequeno, de cobre e em formato de T que é inserido no útero. Assim como os DIUs de prata, são os que não liberam hormônios e, portanto, têm menos efeitos colaterais. Pode ser utilizado em qualquer idade e não interfere na amamentação.
- SIU de levonorgestrel (Mirena) ou DIU hormonal (progestagênio) – dispositivointrauterino pequeno, de plástico e em formato de T que é inserido no útero, liberando o hormônio progesterona, indicado para prevenir gravidez. Contribui para a diminuição do risco de câncer do endométrio, redução do fluxo de menstruação e alívio das cólicas menstruais.
- Implante de etonogestrel (Implanon – progestagênio) – canudo de plástico fino, de aproximadamente 4 cm, que é inserido logo abaixo da pele do braço. Contém 68 mg da etonogestrel e libera pequenas quantidades de forma contínua na corrente sanguínea, impedindo que o óvulo seja liberado do ovário e também altera a secreção do colo do útero, dificultando a entrada dos espermatozoides.
Dados
- O custo de uma gravidez não planejada no Brasil é de R$ 2293,00. O governo gasta cerca de 4,1 bilhões de reais ao ano com gestações não planejadas (até o parto), segundo estudo de 2017 do professor Luis Guillermo Bahamondes, ginecologista da Unicamp.
- Um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 36 países descobriu que dois terços das mulheres sexualmente ativas que desejavam adiar ou limitar a gravidez deixaram de usar contraceptivos por medo de efeitos colaterais, preocupações com a saúde e subestimação da probabilidade de concepção. Isso levou a que uma em cada quatro gestações fosse não intencional.
Quais são os LARCs existentes e os benefícios desses métodos contraceptivos para a saúde das mulheres que fazem a adesão?
Temos os DIUs, tanto o DIU de cobre ou cobre com prata, como o DIU com progestagênio, que é o Mirena ou Kyleena, e tem o implanon que é aquele bastãozinho de progestagênio que fica sob a pele do braço. Os LARCs são os métodos de maiores taxas contra proteção de gravidez não planejada. Esses métodos de longa ação reversíveis têm alta eficácia, sendo comparáveis ou até muito superiores à laqueadura (método contraceptivo definitivo) em termos de proteção contra a gravidez, tem pouquíssimas contraindicações e a paciente tem mais chances de podar usar esses métodos contraceptivos de longa ação do que qualquer outro método contraceptivo. Se a gente for pensar em contraindicações, relacionadas ao uso de medicamentos, dos históricos pessoais, ou alguma outra patologia que possa influenciar, o método não depende da tomada diária da paciente, o que permite à paciente maior aderência ao tratamento, pois não depende de ela tomar um comprimido por dia ou aplicar uma injeção todo mês. Já está lá funcionando, independente da atitude da paciente. Ao mesmo tempo eles são altamente reversíveis, ou seja, a partir do momento que eu removo esse método, a paciente volta a ter chances de engravidar como se não tivesse utilizado nada em nenhum momento. Nenhum desses métodos reduz infertilidade ou reduz as chances de engravidar no futuro, essa é a parte mais interessante dos métodos de longa ação reversíveis.
Qual é a finalidade do projeto na Maternidade Santa Isabel?
O projeto que estamos desenvolvendo na MSI inclui métodos reversíveis como um todo, então engloba o DIU, o Mirena e o Implanom. Neste primeiro momento estamos iniciando inserções do Implanom nas pacientes que são contempladas, aquelas que estão em alguma situação de vulnerabilidade, social, econômica ou com alguma patologia mais grave, ou seja, as que estão inseridas conforme os critérios de inclusão. Esta é a primeira parte do projeto. Mas temos que lembrar que a grande maioria das pacientes pode utilizar esses métodos contraceptivos no pós-parto. A gente só está utilizando em pacientes vulneráveis porque nós temos uma limitação de verba pra conseguir ofertar esses métodos pra todas elas. Então os métodos são inseridos na Maternidade e nesse momento nós iniciamos as inserções do Implanom que tem duração de três anos. Alguns estudos mostram que ele pode ter duração de até cinco anos.
É preciso fazer o acompanhamento médico após a aplicação desses métodos contraceptivos? E como a mulher deve proceder para retirar o contraceptivo após o prazo de vencimento, ou antes, caso a mulher mude de ideia e decida engravidar?
O seguimento dessas pacientes vai ser feito nas unidades de saúde convencionais, onde eram atendidas antes, e a remoção desse método também vai ser feita nas unidades de saúde. Caso a mulher queira engravidar antes do período de vencimento desse método, ela pode sim procurar uma unidade de saúde e retirar esse método a qualquer momento. Não é porque a gente inseriu e ele dura três anos que ela precisaria ficar esses três anos com ele. Ela pode sim remover antes caso ela tenha desejo de gestação.