Mulheres vêm sendo protagonistas no enfrentamento da Covid-19 no país

A pandemia alterou a vida de bilhões de pessoas no Brasil e no mundo, e talvez dentre os mais afetados pelas mudanças foram as mulheres, que tiveram de se desdobrar em suas rotinas pessoais e profissionais, em meio ao período mais difícil dos últimos tempos. Em especial para aquelas que estão na linha de frente do combate à doença na rede de Saúde brasileira.

“Essa foi uma pandemia enfrentada por mulheres”, defende a infectologista e chefe da unidade de Infectologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sônia Raboni, deixando claro que a afirmação não diminui a participação do homem, a qual considera muito importante.

Segundo a médica, apesar de não ser uma afirmação nova e exclusiva, a participação feminina no atendimento assistencial à Covid-19 foi e vem sendo grande, já que as equipes de profissionais de saúde no Brasil são majoritariamente compostas por elas. De acordo com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), as mulheres representam 65% dos mais de seis milhões de profissionais atuantes no setor público e privado de saúde, em todos os níveis de complexidade da assistência.

A neurologista Flávia Follador conta a angústia e sofrimento vividos no auge da crise, e se emociona ao lembrar do carinho e o apoio recebidos pelas equipes. “Além de médica, eu tive a experiência familiar, meu pai teve Covid grave, foi muito intenso. Mas, na medida em que eu ia vivendo isso, simultaneamente havia uma grande corrente de apoio. Me senti carregada pelos amigos, pela família e pelos familiares de pacientes que estavam junto, ligando, pedindo notícias”.

Lígia Palu, enfermeira do Centro de Terapia Intensiva, também do Hospital das Clínicas – UFPR/PR, confessa que apesar da experiência acumulada nos vários anos dedicados ao trabalho na unidade, ficou impressionada com a rotina instalada e a gravidade dos casos da doença. Ela precisou se mudar de casa para um hotel no período, deixando a filha de cinco anos com o pai e a avó.

“Minha filha queria chegar perto para dar o abraço e eu dizia, não vem! Certamente esse foi o momento mais difícil, de ter que deixá-la”, conta. Mas acrescenta que foi muito intenso quando, enfim, pôde se reaproximar dela. “Só quem passa por isso é capaz de valorizar esse momento. Havia o medo de faltar na vida dela e, se eu tivesse que pedir somente uma coisa a Deus, pediria que me deixasse voltar para casa todo dia para cuidar dela”, comenta.

Sônia, Flávia e Lígia são algumas das pessoas entrevistadas pelo projeto ‘Vida – Histórias da Pandemia’, idealizado e realizado pela Montenegro Produções, com roteiro e direção de Eduardo Ramos.

Ao longo de 2021 foram ouvidas pessoas comuns de diversos setores da sociedade civil com intuito de registrar suas vivências durante a pandemia, e as atuais reflexões em relação a esse momento histórico. Ao todo, 24 histórias compõem a iniciativa que ajudou a dar vozes a temas comuns do cotidiano sob o viés de temas como Casa, Educação, Crença, Arte, Trabalho e Saúde, no contexto das mudanças vividas com a Covid-19.

Um projeto multiartes

Além dos minidocumentários, a iniciativa ainda conta com livro, fotografias e exposição interativa. “Com o projeto fizemos uma análise completa dos efeitos da pandemia, por todas as óticas e sob uma perspectiva comportamental do que se passou na vida das pessoas ao longo desse período”, afirma Carolina Montenegro, idealizadora do projeto.

O livro “Vida – Histórias da Pandemia” é uma reedição do volume de 2021 e foi lançado na última semana. Ele traz uma atualização dos textos e novos capítulos, todos escritos com base em entrevistas com médicos, psicanalistas, terapeutas, economistas, sociólogos e filósofos, numa análise dos cenários e efeitos da pandemia, com uma perspectiva comportamental do que se passou na vida das pessoas ao longo desse período complexo.

Parte dos depoimentos também está presente na exposição interativa, atualmente em exibição no Estádio Athletico Paranaense, em Curitiba – PR, que faz um mix entre projeções em vídeo, fotografias de Brunno Covello e as instalações do artista visual Gustavo Krelling. Elas remontam, simbolicamente, conceitos como Morte, Vida, Ciência e Fé, sendo algumas delas inspiradas em obras icônicas de Rembrandt e Van Gogh, com cenários construídos com materiais hospitalares, tais como gazes, luvas, máscaras, radiografias, além de outros, recicláveis.

O projeto expográfico e a cenografia são do arquiteto e urbanista Felipe Guerra. “A arte nos salvou e acredito que é o combustível para a mudança e a transformação. Escolhemos um lugar e formato totalmente inéditos para contar essas histórias e oferecer uma grande experiência imersiva para as pessoas, com um jeito novo de apresentar conteúdo”, assinala o autor.

MINIDOCUMENTÁRIOS 

Os vídeos já estão disponíveis no canal da Montenegro Produções no YouTube.

LIVRO

Publicação Já disponível para download gratuito. Clique aqui.

Redação

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