Pandemia: total de exames de glaucoma cai 30%, aumentando risco de complicações e cegueira

As restrições para receber pacientes em hospitais, a transferência de leitos para o tratamento da Covid-19 e o medo de pacientes de procurar ajuda médica por conta da pandemia derrubaram o número de exames para detecção precoce da principal causa de cegueira evitável no mundo: o glaucoma. Dados levantados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), com o suporte da consultoria 360° CI, indicam queda de quase 1,6 milhão de exames com essa finalidade diagnóstica somente no Sistema Único de Saúde (SUS).

Essa queda prejudicou a investigação de possíveis casos novos da doença, contribuindo para o atraso no tratamento, e o acompanhamento de situações confirmadas, que exigem monitoramento para evitar seu agravamento. “Um dos grandes desafios no diagnóstico do glaucoma é que nem sempre apresenta sintomas. Por isso, alertar sobre o assunto é sempre muito importante e buscar um oftalmologista para examinar os olhos é fundamental”, explica José Beniz Neto, presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.

Segundo ele, os números refletem o afastamento dos pacientes das unidades de saúde durante a pandemia, o que pode prejudicar o cenário da saúde ocular no Brasil no futuro. Os dados são divulgados pela entidade médica às vésperas da realização do projeto 24 horas pelo glaucoma, organizado pelo CBO em 22 de maio, neste sábado.

A intenção é sensibilizar os brasileiros para importância da prevenção e do tratamento precoces contra essa doença. “O glaucoma pode ser motivo de perda visual irreversível, isso porque quando a pressão intraocular aumenta – principal causa da doença – o nervo óptico é lesionando, levando à diminuição do campo visual”, conta Cristiano Caixeta Umbelino, vice-presidente do Conselho. “É como se o cabo de transmissão de informações de uma câmera para o computador fosse danificado (função do nervo ótico) “, exemplifica.

Prevenção – De acordo com o levantamento do CBO, oito tipos diferentes de exames realizados no SUS são utilizados pelos oftalmologistas para diagnosticar o glaucoma. Quatro deles são específicos para casos suspeitos (campimetria computadorizada ou manual com gráfico; curva diária de pressão ocular (CDPO); gonioscopia; e o teste de provocação de glaucoma).

Outros quatro podem diagnosticar não só o glaucoma, mas também outras doenças da visão: mapeamento de retina; retinografia colorida binocular; retinografia fluorescente binocular; e tomografia de coerência óptica. De acordo com a análise do CBO, em 2019, a produção desses exames na rede pública chegou a 5,9 milhões de procedimentos. Durante a pandemia, no entanto, essa produção em nível nacional teve uma queda de 27%. Em oito estados, a redução superou os 50%.

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Distribuição – Ao avaliar os números do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS, o CBO identificou que, em 2020, a redução de exames preventivos para glaucoma afetou todas as Regiões brasileiras. Em valores absolutos, o impacto foi mais sensível em São Paulo (348,6 mil a menos), Bahia (-202,4 mil) e Rio Grande do Sul (-122,5 mil). Em termos percentuais, a redução foi mais significativa no Amazonas (-67%), Piauí (-67%) e Acre (-64%).

Nas capitais, a quantidade de exames também diminuiu 542.238 nas capitais, o que representa uma redução de 33%, se comparado ao ano anterior. “Os números revelam que o descuido com a saúde aumentou durante o período de pandemia, tanto na prevenção com idas ao médico para acompanhamento das doenças e prevenção pelos exames, como pelos cuidados com uma vida mais saudável”, ressaltou Beniz Neto.

Ainda segundo o levantamento, todas as faixas etárias tiveram redução no número de exames. Entre o público com mais de 60 anos, a queda foi de 700 mil exames. Na faixa que vai entre 20 e 59 anos, a redução foi de 551,5 mil exames em 2020. Entre crianças e adolescentes, o impacto foi de 168,7 mil procedimentos. Entre os pacientes do sexo feminino, a redução foi de 29% nos exames preventivos, enquanto no sexo masculino a queda foi de 25%.

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Tratamento em queda – Pelo menos 6,5 mil cirurgias que são indicadas pelos oftalmologistas para tratar ou reverter o glaucoma também deixaram de ser realizadas no SUS em 2020. A queda, segundo números analisados pelo CBO, foi de 22%. Com a flexibilização do isolamento social na maior parte do País e a retomada das operações, os oftalmologistas temem alta expressiva da demanda e pacientes com a doença em estágio agravado.

“O maior problema é o agravamento da condição dos pacientes, que pode ter consequências irreversíveis”, aponta Caixeta Umbelino. “O sistema público já tem filas enormes de atendimento. Com o represamento das cirurgias, infelizmente haverá aumento das filas”, avalia.

Foram analisados quatro tipos diferentes de cirurgias realizadas no SUS e que são utilizadas para tratamento do glaucoma: iridectomia cirúrgica, iridotomia a laser, trabeculectomia e fototrabeculoplastia a laser. De acordo com a análise, todas as Regiões registraram redução no número de procedimentos. Só no Sudeste, houve diminuição de quase 3,7 mil (cerca de 27%) dos procedimentos para tratamento do glaucoma em 2020.

São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul foram os estados que tiveram maior queda absoluta. Proporcionalmente, a redução foi mais significativa no Acre, Amazonas, Mato Grosso do Sul e Piauí. Na contramão da maior parte do País, Rio Grande do Norte, Rondônia e Santa Catarina foram os únicos estados que aumentaram o número de cirurgias no período.

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Redação

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