Olhar para urgência no atendimento à depressão pode mudar realidade dos pacientes no Brasil

A depressão no Brasil tem se tornado um problema de saúde pública. O país é o quinto com maior incidência da doença no mundo, apresentando um número de casos superior ao de diabetes, segundo Pesquisa Vigitel 2021, do Ministério da Saúde. Além disso, dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apontam um aumento de 167% da utilização de serviços relacionados à saúde mental de 2011 a 2019. Para superar esse grande desafio, em específico para pacientes com depressão resistente ao tratamento no Brasil – quando há falha de dois tratamentos anteriores administrados em dose e tempo adequados – e ideação suicida, é preciso unir esforços para aumentar o entendimento sobre a urgência do tema, além de avançar nas discussões sobre a oferta dos cuidados necessários dentro de prazos mais adequados.

Segundo estudo recente publicado na revista The Lancet[1], até 80% das pessoas afetadas pela doença no mundo sequer sabem de seu diagnóstico. Já o levantamento realizado pelo Instituto Ipsos a pedido da Janssen, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson, que ouviu 800 pessoas com ou sem relação com a depressão de 11 estados brasileiros, revela que entre os diagnosticados entrevistados, o tempo médio para procurar ajuda foi de 39 meses (três anos e três meses). A demora ocorreu, principalmente, por falta de consciência de se tratar de uma doença (18%), resistência (13%) e medo do julgamento, reação dos outros ou vergonha (13%).

“A demora por buscar tratamento para a depressão pode trazer consequências devastadoras, como a cronificação da doença, agravamento dos sintomas, diminuição da eficácia dos tratamentos, perda de anos produtivos, impacto econômico e severa diminuição da produtividade, e todo um prejuízo em seu convívio familiar e social. A depressão precisa ser levada à sério”, Dra. Cintia de Azevedo Marques Périco, professora de psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC e integrante da Comissão de Emergenciais Psiquiátricas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Dados da pesquisa demonstram que ainda há falta de entendimento sobre sua gravidade e seu impacto na vida do paciente e de todos ao seu redor: apenas 10% acreditam que a depressão é uma doença com base biológica (e repercussões físicas no corpo). Outros 35% não acham que pode ser tratada com medicamento e 36% acreditam que para superar a doença é preciso força de vontade.

“No senso comum, existe uma banalização daquilo que se entende por ser psicológico, com uma falsa ideia que não precisa de tratamento. No entanto, atualmente sabemos o quanto ter uma função psíquica alterada impacta no indivíduo como um todo. Não tratar a depressão como uma doença grave e que pode resultar em uma emergência psiquiátrica pode trazer sérias consequências para os pacientes e para a própria sociedade”, afirma a Dra. Cintia.

Ainda pouco conhecida, a depressão resistente ao tratamento (DRT) é um transtorno que impacta cerca de 40% dos pacientes brasileiros, segundo dados do estudo observacional TRAL (Treatment-Resistant Depression in America Latina), realizado na América Latina com quase 1.500 pacientes. Se estudos apontam que pacientes com depressão podem ter um custo direto de 30% a 250% superior aos dos pacientes sem o transtorno, em casos de DRT, esse custo pode chegar a aproximadamente 400%[2]. Análise como esta demonstra o expressivo impacto social e econômico dessa condição.

A depressão enquanto emergência psiquiátrica também precisa de atenção por conta da relação com os casos de suicídio. Estudos apontam que cerca de 97% dos suicídios têm ligação com transtornos mentais, especialmente a depressão[3] e em casos de DRT estima-se elevação do risco de morte por suicídio em sete vezes[4]. No estado de São Paulo, são, em média, 7 tentativas de suicídio diárias, segundo o Corpo de Bombeiros. “Esses números são ainda mais altos, pois não estamos levando em conta as ocorrências do SAMU e da Política Militar. Desfechos como esses poderiam ser evitados em muitos casos se as pessoas tivessem um olhar mais humanizado, reconhecendo a depressão como um transtorno mental com causas e efeitos físicos que precisa de atendimento urgente e especializado”, diz o Major Diógenes Munhoz, que trabalha no Corpo de Bombeiros há 22 anos, atuou diretamente em mais de 55 ocorrências de tentativas de suicídio e é idealizador da Técnica Humanizada de Abordagem a Tentativas de Suicídio admitida e usada em mais de 15 Estados do Brasil pelo Corpo de Bombeiros.

O número de suicídios e de casos de depressão resistente ao tratamento somados a falta de entendimento sobre a doença e a demora em buscar ajuda evidenciam a gravidade do cenário da depressão no Brasil. Mas, esse panorama pode mudar com o avanço de políticas de atenção à doença, como, por exemplo, a criação de uma metodologia de práticas clínicas que seja padrão ao atendimento a depressão e que seja reaplicável nas unidades básicas de saúde, o desenvolvimento de mais pesquisas na área da saúde mental e o oferecimento de novos tratamentos para a doença.

Novas perspectivas no tratamento da depressão

Esse cenário evidencia que os esquemas de tratamento disponíveis até então, em sua maioria compostos por medicamentos orais, necessitam de uma evolução para proporcionar melhoras mais significativas para mais pacientes. Visando algumas das necessidades de tratamento para depressão ainda não atendidas, a Janssen recentemente apresentou ao mercado brasileiro o SPRAVATO® (cloridrato de escetamina intranasal), indicado para Depressão Resistente ao Tratamento e para a rápida redução dos sintomas depressivos em pacientes adultos com Transtorno Depressivo Maior (TDM) com comportamento ou ideação suicida aguda. Desenvolvido pela Janssen, o spray nasal de escetamina é o primeiro de sua classe a receber aprovação regulatória do FDA e da ANVISA, sendo considerado uma das principais inovações para o tratamento da doença em décadas[5],[6].

O medicamento age nos receptores de glutamato N-metil-D-aspartato (NMDA), ajudando a restaurar as conexões sinápticas em células cerebrais de pessoas com depressão. Devido ao novo mecanismo de ação, o medicamento funciona de maneira diferente das terapias atualmente disponíveis para o TDM. Resultados de dois ensaios clínicos idênticos de Fase 3 demonstraram que a escetamina intranasal em conjunto com a terapia padrão reduziu os sintomas depressivos em até 24 horas após a primeira dose[7]. “Além de ter um início de ação mais rápido do que outros medicamentos disponíveis, o Spravato tem o regime de dosagem menos frequente e a administração intranasal facilita a aplicação, por se tratar de uma via não invasiva, e também a metabolização da substância pelo organismo”, complementa Dr. Humberto Corrêa, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Para assegurar seu uso correto, a escetamina intranasal é administrada exclusivamente em hospitais e clínicas autorizadas, sempre sob supervisão de um profissional de saúde. “Isso tanto para reduzir o risco de uso indevido e abuso, uma vez que a melhora é rápida e significativa, quanto para monitorar efeitos colaterais. Com sua chegada ao Brasil, coloca o país na rota das novas tecnologias, respondendo às necessidades não atendidas de grande importância que são os casos de DRT”, finaliza Dr. Corrêa.

Nos ensaios clínicos, os efeitos colaterais mais comuns incluíram dissociação, tontura, náusea, sedação, ansiedade, falta de energia, aumento da pressão arterial e vômitos.

Pesquisa

O Instituto Ipsos realizou a pesquisa para entender como a população geral percebe a depressão e a relação da doença com os casos de suicídio. Entre junho e julho de 2020, por meio de questionário aplicado online, foram entrevistadas 800 pessoas, representando 11 estados brasileiros (Bahia, Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Goiás). A margem de erro considerada foi de 3,5 pontos percentuais.

Referências:

[1] The Lancet 

[2] PILON, D.; et al. US Integrated Delivery Networks Perspective on Economic Burden of Patients with Treatment-Resistant Depression: A Retrospective Matched-Cohort Study. PharmacoEconomics Open, n. 4, p. 119-131, 2020. Disponível em: link. Acesso em: 13 maio 2021.

[3] Müller V. Transtornos mentais e suicídio em jovens: ansiedade, frustração e insegurança [Internet]. Blog VTM Neurodiagnóstico. 2018 ago. 27 [citado em 2020 ago. 13]. Disponível em: link

[4] CHISHOLM et al., 2016.

[5] Duman RS. Ketamine and rapid-acting antidepressants: a new era in the battle against depression and suicide. F1000Research. 2018 ; 7 : F1000 Faculty Rev – 659.

[6] Dubovsky SL. What Is New about New Antidepressants? Psychotherapy and Psychosomatics. 2018 ; 87 (3) : 129 – 139.

[7] The Jornal of Clinical Psychiatry. Esketamine Nasal Spray for Rapid Reduction of Major Depressive Disorder Symptoms in Patients Who Have Active Suicidal Ideation With Intent: Double-blind, Randomized Study (ASPIREI). Available at: link.

Redação

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