Os impactos dos problemas renais preexistentes em pacientes com Covid-19

Diversas patologias já são reconhecidas como potencialmente agravantes nos casos de pacientes com a Covid-19 e uma dessas doenças preexistentes é renal, explicou o Dr. Adagmar Andriolo, médico patologista clínico e professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

No início da palestra, o Dr. Adagmar mencionou que, no começo, a Covid-19 foi considerada uma doença infecciosa predominantemente pulmonar, porém a observação clínica classificou-a como uma doença sistêmica causadora de alterações significativas, principalmente nos sistemas da coagulação sanguínea e imunológico, caracterizadas por tromboembolismo e tempestade de citocinas.

Hoje, é entendida como uma doença sistêmica com repercussão em todos os órgãos e tecidos com intensidade e gravidade dependentes da resposta do próprio organismo, identificada como Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS).

As consequências da SIRS podem ser a falência de um ou mais órgãos, ou até mesmo dos sistemas de órgãos. As complicações incluem lesão renal aguda, choque, síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (MODS). “Quando a SIRS ocorre como resultado de uma infecção, é denominada sepse. A sepse grave ocorre quando há evidência de hipoperfusão ou disfunção de órgãos, incluindo diminuição da produção de urina, estado mental alterado e coagulação intravascular disseminada”.

Sobre a Covid-19 na função renal, a insuficiência renal aguda pode ocorrer em até 25% dos pacientes criticamente enfermos com infecção por SARS-CoV-2 e está associada às altas taxas de mortalidade, especialmente quando necessária terapia de reposição renal.

“Pessoas sem doença renal prévia podem apresentar lesão ou insuficiência renal aguda. Essa condição relacionada à Covid-19 adiciona alguma dificuldade aos desafios do atendimento aos pacientes durante essa pandemia. Um fato é que ainda não sabemos os impactos de longo prazo da Covid-19 nos rins, ou “se” e “como” os pacientes com Insuficiência Renal Aguda (IRA) causada pelo novo Coronavírus irão recuperar completamente a função renal”.

O especialista enfatiza que os pacientes com doença renal crônica, assim como outras comorbidades crônicas, têm maior risco de desenvolver manifestações mais graves da doença. “As pessoas portadoras de doença renal crônica, ou com uma nefropatia prévia, apresentam probabilidade cerca de 2,5 vezes maior de morrer do que pacientes hospitalizados com a Covid-19 sem doença renal prévia. As pessoas em diálise podem ter o sistema imunológico comprometido, tornando mais difícil combater eventuais infecções secundarias – esse é um dos maiores problemas da Covid-19”, explica.

As seções de hemodiálise devem ser mantidas regularmente e as precauções necessárias devem ser tomadas pelo paciente e equipe de saúde. Os transplantados renais também devem manter o mesmo esquema de imunossupressão habitual, exceto se ocorrer alguma intercorrência.

Do ponto de vista laboratorial, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e muitas outras organizações de saúde nacionais e internacionais preconizam a utilização da reação e cadeia por polimerase com transcrição reversa (RT-PCR) para o diagnóstico etiológico. “Graças ao rápido conhecimento do genoma viral foi possível o desenvolvimento de vários ensaios para sua identificação por RT-PCR. “Para o monitoramento do paciente, o que inclui estadiamento, prognóstico e monitoramento terapêutico, os testes laboratoriais auxiliam na avaliação da gravidade da doença e prever risco de evolução para SIRS e MODS”.

As alterações laboratoriais mais importantes incluem: hematológicos – a linfopenia, que ocorre em 83,2% dos casos; a leucocitose; neutrofilia; trombocitopenia, que ocorre em 36,2% dos casos; e VHS elevada. Bioquímicos – valores aumentados de PCR, que ocorre em 60,7% dos casos; DHL (41,0%); AST (22,2%); ALT (21,3%) e de Dímero D (43,2%), redução da taxa de albumina sérica.

Sobre a definição de Tempestade de Citoquinas, o médico fala que trata-se de um conceito que começou a ser estudado na década de 90 e em 2002, foi associada a várias infecções virais como um fator de alto risco à vida durante o surto de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). O termo foi cunhado em 2005, no período da epidemia da gripe aviaria causada pelo vírus H5N1. Esteve relacionada à elevada taxa de mortalidade devido a uma resposta pró-inflamatória exacerbada.

Foi descrita em várias doenças respiratórias causadas por vírus da família dos Coronavírus, como a MERS em 2012 e, mais recentemente, pelo SARS-CoV-2.

Também pode ser observada em algumas doenças não-infecciosas, como a esclerose múltipla.

Existe, ainda, uma outra síndrome chamada linfo-histiocitose hemofagocítica (sHLH – secondary Haemophagocytic Lymphohistiocytosis), pouco conhecida, mas caracterizada por hipercitocinemia fulminante, que evolui para insuficiência de múltiplos órgãos.

Ao comparar os grupos de pacientes com SRAG e com o novo Coronavírus, os resultados laboratoriais mostram diferenças significativas entre sobreviventes e os não-sobreviventes.

Redação

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