Pacientes bilíngues tem mais facilidade para guiar médicos em operação de tumor no cérebro

Pesquisadores da Mayo Clinic na Flórida reportaram diferenças em resultados clínicos entre pacientes “bilíngues tardios” e monolíngues com glioblastoma que passaram por cirurgia cerebral com o paciente acordado para remoção de tumor, uma informação que pode ajudar a guiar cirurgiões na sala de operação. Seus achados, publicados no Journal of Neuro-Oncology, sugere que pacientes bilíngues que aprenderam uma segunda língua depois dos seis anos, chamados de bilíngues tardios, tiveram menos complicações e uma melhor recuperação da cirurgia do que pacientes que falavam uma língua.

“Os resultados do nosso estudo destacam as diferenças entre as populações monolíngue e bilíngue de pacientes, o que informa nossa tomada de decisão cirúrgica”, diz o neurocirurgião da Mayo, Dr. Alfredo Quinones-Hinojosa, autor sênior do estudo e professor emérito William J. and Charles H. Mayo. “Com base nessa informação, podemos envolver o paciente e dar-lhe uma escolha sobre qual língua ele prefere preservar e usar na vida diária.”

Para o estudo, os pesquisadores analisaram dados de 56 pacientes que passaram por cirurgia de craniotomia do lado esquerdo em paciente acordado entre setembro de 2016 e junho de 2019. Esse tipo de cirurgia permite que os cirurgiões façam perguntas aos pacientes durante a cirurgia para ajudar a preservar movimento e fala. Desses pacientes, 14 eram bilíngues, tendo inglês, espanhol, francês, árabe, alemão, estoniano ou lituano como segunda língua, e 42 eram os controles monolíngues. Todos os participantes tinham tumores que invadiam as áreas do cérebro responsáveis pela linguagem. A demografia dos pacientes, o nível de instrução e a idade da aquisição da linguagem foram documentadas e avaliadas. Todos os pacientes tinham o equivalente a instrução superior ou além e relataram sua proficiência na segunda língua, que foi avaliada por tradutores certificados.

Os pacientes adquiriram sua segunda língua depois dos seis anos de idade e foram considerados “bilíngues tardios”. “Bilíngues precoces”, de acordo com a pesquisa citada no artigo, são pessoas que desenvolvem a primeira e a segunda língua simultaneamente antes dos seis anos e que são mais parecidos com pessoas monolíngues em termos do centro de localização da linguagem no cérebro.  

“Em uma analogia simples, se você considerar esses centros de linguagem como cidades e as estradas conectando-as como os neurônios, os bilíngues precoces são como uma cidade grande”, diz Karim ReFaey, pesquisador membro e primeiro autor do estudo. “Os bilíngues tardios seriam considerados as cidades satélites com muitas estradas conectoras no entorno. Reconhecer as diferenças nessas áreas espaciais do cérebro que controlam a linguagem pode ajudar a guiar a abordagem cirúrgica.”

Quando neurocirurgiões fazem cirurgia cerebral em paciente acordado, eles podem “testar” essas áreas do cérebro para saber quais evitar e preservar. Isso é feito por meio de mapeamento cerebral. O processo envolve o uso de simulação cortical elétrica direta. O neurocirurgião energiza as estruturas adjacentes do cérebro com correntes elétricas e ao observar a resposta do paciente, ele pode moldar o plano de cirurgia e determinar as áreas não condutivas para a remoção do tumor.

O estudo mostrou que nenhum dos pacientes bilíngues experienciou convulsão durante a cirurgia cerebral, uma complicação potencial do procedimento, ao passo que 7 por cento dos pacientes monolíngues foram afetados. Os pacientes bilíngues toleraram mais estimulação elétrica e níveis mais altos de corrente elétrica; no entanto, esses pacientes também tiveram menos de seus tumores removidos (quando medido em volume) do que pacientes monolíngues devido aos seus tumores terem limites menos definidos. Foi notado no estudo que os pacientes bilíngues tiveram notas maiores na Escala de Performance de Karnofsky, um índice padrão para medir a habilidade de pacientes com câncer de fazer tarefas comuns (84,3 para pacientes bilíngues contra 77,4 dos pacientes monolíngues). Uma nota mais alta indica que o paciente tem mais capacidade de fazer as atividades diárias.

A Mayo tem planos de ampliar esses achados com um estudo prospectivo envolvendo mais pacientes, com o objetivo final de criar um guia de abordagem e intervenção cirúrgica para a população de pacientes bilíngues.

Outros pesquisadores do estudo são Shaswat Tripathi, Adip Bhargav, o Dr. Sanjeet Grewal, o Dr. Eric Middlebrooks, David Sabsevitz, Ph.D., o Dr. Mark Jentoft, William Tatum, D.O., o Dr. Anthony Ritaccio e o Dr. Kaisorn Chaichana, todos da Mayo Clinic; e Peter Brunner, Ph.D., da Albany Medical College, e a Dra. Adela Wu, da Stanford University School of Medicine.

Essa pesquisa foi apoiada pela Cátedra e Prêmio de Clínico Investigativo da Mayo Clinic, pelo Florida State Department of Health Research Grant (Subsídio do Departamento de Pesquisa em Saúde do Estado da Flórida, pela Mayo Clinic Graduate School of Biomedical Sciences (Escola de Pós-Graduação de Ciências Biomédicas da Mayo Clinic) e pelo subsídios dos National Institutes of Health (Institutos Nacionais de Saúde).

Declaração de conflito de interesse: os Drs. Tatum, Quinones-Hinojosa e ReFaey aplicaram para uma patente comunicando um dispositivo e tecnologia de matriz circular. Os outros autores listaram no relatório artigo não terem conflitos de interesse.

Redação

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