Pandemia evidencia importância da fisioterapia respiratória

O número de recuperados da Covid-19 foi um dos indicadores que trouxeram algum conforto durante a pandemia. No entanto, isso não significa que os pacientes recuperaram de imediato a condição física que tinham antes da infecção. Segundo uma pesquisa feita em 2020 pela universidade de Leicester, no Reino Unido, sete em cada dez pacientes que foram hospitalizados ainda tinham sequelas cinco meses após a alta. É nesse contexto que muitas pessoas foram apresentadas à fisioterapia respiratória, especialidade que tem se tornado cada vez mais importante para a recuperação total da doença.

Trata-se de uma das especializações da fisioterapia, voltada para o tratamento de disfunções respiratórias agudas ou crônicas. “Profissionais que atuam nessa especialidade contam com técnicas manuais e recursos instrumentais destinados à reexpansão pulmonar e à desobstrução das vias áreas superiores e inferiores, a citar o aparelho EPAP, que ajuda na expansão pulmonar; e o flutter, voltado para a mobilização de secreções nas vias aéreas inferiores. Também são muito utilizadas as técnicas manuais desobstrutivas, como as que foram criadas e difundidas pelo fisioterapeuta belga Guy Postiaux, uma das grandes referências da área”, explica a doutora Isabela Sclauser, especialista em reabilitação cardiopulmonar e professora no Centro Universitário Newton Paiva.

Isabela destaca ainda o conceito de reabilitação pulmonar, que também compõe o escopo de trabalho do fisioterapeuta respiratório. “Apesar de ser aplicada pelo mesmo profissional, são abordagens distintas. O Programa de Reabilitação Pulmonar tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida do paciente e, para isso, apresenta componentes importantes como: treinamento de força e resistência da musculatura periférica e dos músculos respiratórios, treinamento aeróbico e o plano educacional”. São as atividades que auxiliam no fortalecimento dos músculos associados à respiração e também do restante do corpo, como treinos de força e exercícios funcionais e aeróbicos, tais como esteira e bicicleta ergométrica.

No tratamento pós-Covid, Isabela explica que, a maioria dos pacientes que ficaram internados ou intubados apresentam uma necessidade de fisioterapia imediata. Isso acontece porque a doença impõe uma fibrose pulmonar que reduz a reserva ventilatória, condição popularmente conhecida como “fôlego curto” e, também, fraqueza muscular e perda de funcionalidade. Nesse caso, são utilizadas técnicas de fisioterapia respiratória e a reabilitação pulmonar para trabalhar os sistemas respiratório, cardiovascular e músculoesquelético.

Apesar de ter sido colocada em evidência devido à Covid-19, a fisioterapia respiratória também é utilizada para tratamento de várias outras doenças. Algumas agudas, como a pneumonia, que causa sintomas como falta de ar, acúmulo de secreção e tosse. E outras crônicas, como asma, fibrose cística, sequelas de tuberculose ou condições relacionadas ao tabagismo de longo prazo, como enfisema pulmonar ou bronquite crônica.

Feita em casa?

Com o aumento do número de pessoas em busca de reabilitação devido à Covid, surgiram vários vídeos na internet com orientações sobre fisioterapia pulmonar que supostamente poderiam ser feitas em casa. No entanto, Isabela alerta que é preciso tomar cuidado ao consumir esse tipo de conteúdo. “Existem sim exercícios simples que podem ser feitos em casa. No entanto, não existe receita de bolo. É importante que a pessoa tenha passado por um treinamento com o fisioterapeuta antes. É ele que fará uma avaliação individualizada das necessidades e capacidades do paciente”, avalia.

Por fim, a especialista reforça a importância de desmistificar a ideia de que é preciso um encaminhamento médico para buscar tratamento com fisioterapeuta respiratório. Apesar de muitas doenças exigirem um tratamento multidisciplinar, o fisioterapeuta é um profissional de primeiro contato e está apto a avaliar e prescrever a fisioterapia respiratória.

Redação

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