O Dia Mundial da Saúde está se aproximando e pelo segundo ano consecutivo, os profissionais da saúde têm pouco a comemorar. Apesar do reconhecimento pela importância do seu trabalho, nunca se viram tão exaustos e pressionados emocionalmente. Não por acaso, a ONU decidiu ano passado designar 2021 como o Ano Internacional dos Trabalhadores de Saúde e Cuidados. A decisão da 73ª Assembleia Mundial da Saúde (AMS) é um reconhecimento da dedicação e do sacrifício de milhões de profissionais na linha de frente do combate à pandemia de Coronavírus.
Além do esforço diário em plantões exaustivos, a pressão psicológica em cima desses profissionais aumenta a cada dia. A distância da família, a tensão por estar próximo e com receio de contaminar alguém e a necessidade de uma atenção total ao trabalho, mesmo após muitas horas seguidas de dedicação. É preciso entender os impactos psicológicos que a pandemia pode trazer aos que estão na linha de frente. A saúde emocional desses trabalhadores necessita de cuidado. “Ao cuidar do profissional da saúde, você cuida de todo o sistema, pois é ele quem faz o sistema funcionar com menos falhas. É importante lembrar que cada pessoa reage às situações adversas de acordo com suas histórias, características individuais e capacidade de adaptação e resiliência, e é importante estarmos atentos aos sinais, físicos e mentais. Somente por meio dessa observação, embasada no autoconhecimento, é possível entender esses sentimentos”, ressalta Rosana Junqueira Morales, diretora executiva da Arte Despertar.
Um levantamento do Ministério da Saúde, que utiliza as bases de dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e Sivep-Grupe, de vigilância epidemiológica, aponta que o Brasil registrou 1,3 morte por Covid de profissionais de saúde por dia. O dado, já muito preocupante, não considera a semana mais recente de março, quando o país registrou os números mais altos da pandemia.
Após a primeira onda da pandemia no Brasil, as contaminações e mortes destes profissionais da saúde podem ser atribuídas a outros fatores. A exaustão é um deles. Segundo dados do CONFEN, em 2020, 44.441 enfermeiros, técnicos e auxiliares foram afastados do trabalho e colocados em quarentena após serem infectados pelo novo Coronavírus, um número significativo dentro de um universo de pouco mais de 2 milhões de trabalhadores da área. O ambiente de trabalho desgastante e tenso devido à pandemia, unido à falta de preparo dos colaboradores, gera elevados índices de rotatividade, absenteísmo e estresse. Esse cenário ocasiona, além da queda na qualidade do atendimento, insatisfação dos pacientes e elevados custos aos hospitais.
A Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília em parceria com o Hospital Universitário de Brasília, desenvolveu um estudo para avaliar o comportamento de médicos residentes que estiveram envolvidos, entre os meses de abril e junho, no atendimento de pacientes com suspeita de Covid-19. Dados preliminares apontaram que entre os três distúrbios analisados – ansiedade, depressão e insônia – a ansiedade é a que mais afeta os trabalhadores da saúde. Parte disso é consequência do medo de contaminar familiares que moram na mesma residência, por exemplo. Já os principais sintomas de depressão identificados foram cansaço, dificuldade para se concentrar, pouco interesse e sentir-se mal consigo mesmo. Além disso, 83,3% afirmaram que a qualidade geral do sono está prejudicada e 75% apresentam sonolência diurna.
E como pensar em soluções que possam cuidar da saúde mental dos profissionais, além dos cuidados básicos de EPIs? Buscar propostas que tenham um olhar mais amplo sobre o cuidador e que entendam a importância de um olhar mais apurado sobre o outro, mudando a visão de quem cuida e de quem é cuidado.
A Arte Despertar logo no início da pandemia, entendeu que, neste momento, era essencial cuidar de quem cuida, oferecendo apoio aos profissionais da saúde, que estavam na linha de frente desta pandemia, e aos pacientes que continuam hospitalizados. Diante desse cenário, criou propostas dentro dos seus projetos, para que, por meio da arte e da cultura, pudessem amenizar sentimentos de estresse e ansiedade, apoiando o fortalecimento emocional e a valorização dos vínculos afetivos a partir da realização de ações com profissionais da saúde, pacientes, acompanhantes e toda a sociedade.
Desde o início da pandemia realizou diversas ações que impactaram mais de 50 mil pessoas, entre profissionais, pacientes e acompanhantes, que puderam participar de lives, treinamentos de competências socioemocionais, atendimentos virtuais, saraus e tiveram acesso a vídeos com músicas e narração de histórias. As ações continuam em 2021, com conteúdo produzido pelos arte-educadores da organização, que atuam em hospitais públicos e filantrópicos da cidade de São Paulo, por meio do projeto Promovendo Cultura nos Hospitais (Lei de Incentivo à Cultura).
Presente no Instituto do Coração (Incor) há 23 anos, a Arte Despertar precisou adaptar seu trabalho no momento da pandemia. A ação com música e contação de histórias que era feita presencialmente, passou a ser realizada de forma virtual, conectando as famílias e os pacientes através de voluntários que atuam no hospital, mediando essa relação e o acesso aos conteúdos produzidos pela instituição. “Através disso a gente encontra pacientes que saem de momentos mais depressivos, de momentos de maior tristeza, de desesperança, com relatos extremamente significativos. Do tipo: eu estou reencontrando o lado bom na minha vida. Isso reacendeu a minha vontade de viver, isso me trouxe esperança”, relata Vera Bonato, coordenadora do Grupo de Humanização do Incor.
“Os níveis de estresse estão ainda mais altos. Diante desse contexto, entendemos que o nosso trabalho se torna ainda mais importante e necessário no ambiente hospitalar. A interação com a arte possibilita entrar em contato com memórias, emoções e sentimentos, proporcionando bem-estar, alívio do estresse e da ansiedade. Tudo isso contribui para a saúde emocional do paciente e do profissional da saúde”, Rosana Junqueira Morales, diretora executiva da Arte Despertar.
Sarau
O foco do trabalho da Arte Despertar é a Humanização na área da saúde e, devido o atual cenário, a proposta é acolher os profissionais da saúde, que continuam desempenhando um papel fundamental no enfrentamento da pandemia, por isso a Arte Despertar vai realizar no dia 9 de abril, às 18h, um Sarau com tema “Há abraços”. O objetivo é oferecer música e narração de histórias valorizando e acolhendo as pessoas durante um momento que proporcione o bem-estar.
Acesso gratuito via canal do YouTube: youtube.com/artedespertar