Entra ano, sai ano e a sensação de que os problemas da saúde no Brasil continuam os mesmos é nítida. Fato é que enquanto o tempo passa, esses problemas ficam cada vez mais difíceis de serem resolvidos. Há desafios que crescem de tamanho como o envelhecimento da população e custos crescentes trazem novos obstáculos.
Para entender melhor esse cenário, conversamos com a médica Martha Regina Oliveira, diretora de estratégias e novos negócios da Qualirede, empresa nacional que atua nacionalmente na gestão de saúde para operadoras e empresas. Martha já atuou como especialista em regulação de saúde suplementar e diretora de desenvolvimento setorial na Agência Nacional de Saúde (ANS), além de diretora na Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). Especializada em pediatria e saúde pública (UFRJ), mestre em epidemiologia (UFRJ) e doutora na área de envelhecimento humano (UERJ), Martha aponta algumas saídas para antigos problemas. Confira.
Quais são os desafios que exigem maior urgência de resolução?
R: Temos alguns desafios. O primeiro é o desafio da qualidade, pois, precisamos aumentar a qualidade do setor, expondo quais são as operadoras e prestadoras realmente qualificadas. O segundo é mexermos na forma como a saúde está sendo realizada e como está sendo paga, que é o desafio do modelo de remuneração e modelo assistencial. E um outro desafio que temos é como reorganizar o sistema no Brasil. Enfim, os desafios são grandes e têm diferentes perspectivas.
Às vezes temos a impressão que os desafios são sempre os mesmos. Qual a razão dessa sensação?
R: Exatamente, os desafios são os mesmos. É que construímos a saúde suplementar, durante 60 anos de uma forma e agora esse modelo precisa ser mudado. Como esses desafios são complexos, é necessário soluções amplas, ou seja, podemos iniciar a organização estrutural aos poucos, mas, não teremos todos os problemas resolvidos de uma única vez.
Quais investimentos deveriam ser feitos?
R: Um dos investimentos é em relação à qualidade. Além disso, é necessário sair do modelo que sempre utilizamos: entrada não organizada no sistema de saúde. O ideal é termos um modelo com porta de entrada e atenção primária. A saída do sistema também precisa de mudança, ou seja, em relação ao cuidado de longa permanência e paliativo, que não possuem investimentos.
Em 2030, 20% da população terá 60 anos. Estamos preparados para atender esses pacientes?
R: Não estamos e é necessário que estejamos preparados em todos os sentidos: tanto na questão social, quanto na parte da saúde. O idoso é quem mais utiliza o sistema de saúde e um sistema desorganizado é mais cruel com ele do que com qualquer outra faixa etária, pois o idoso sofre todas as consequências do sistema de saúde de uma forma mais impactante.
Nos últimos anos, os gastos com o sistema de saúde suplementar ficaram maiores e as receitas menores. Além disso, a exigência por qualidade só aumenta. Como equilibrar a balança entre receitas e gastos no sistema de saúde?
R: É preciso mudar a organização e a forma como fazemos assistência. Ou seja, esse novo modelo assistencial deve ter uma nova forma de remuneração, que privilegie o resultado ao invés do volume.
A atenção à saúde primária é geralmente o primeiro ponto de contato que as pessoas têm com o sistema de saúde. Qual a avaliação que a senhora faz sobre esse aspecto no Brasil?
R: Este deveria ser de fato o primeiro ponto de contato, mas infelizmente não é. Se tivéssemos a atenção primária como organizadora, teríamos um sistema muito mais articulado. Além disso, a figura do concierge, auxilia o paciente com a coordenação do cuidado e com a organização do sistema.
Atualmente são mais de 65 mil propostas de mudanças na saúde tramitando no Congresso e no Senado. Precisamos de tantas mudanças assim ou o caminho seria mais curto?
R: Com certeza o caminho é mais curto. Não precisamos de lei ou regulamentação para fazermos o que é preciso.
É possível pensar em iniciativas entre a saúde pública e a privada para amenizar os problemas na saúde?
R: A articulação entre os dois sistemas é importante e necessária e ela deve ser feita, especialmente em um país que temos a saúde pública utilizada por 75% da população.
Em 2018, a redução de beneficiários cresceu menos. No entanto, ainda há mais perdas do que receitas. Qual a projeção para 2019?
R: A projeção é ter uma reorganização do setor e que ele volte a crescer. Mas, isso vai depender muito de como será organizado a saúde suplementar e a pública.