Um estudo brasileiro alerta para o risco de pessoas que ficaram internadas em unidades de terapia intensiva (UTI) desenvolverem o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Segundo a pesquisa que analisou dados de 7.152 ex-pacientes adultos, um em cada cinco indivíduos (20%) que ficam internados na UTI apresenta, ao longo do primeiro ano pós-alta, sintomas de TEPT. O estudo envolveu pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), da Fundação Oswaldo Cruz, do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, do Hospital Moinhos de Vento, do Hospital Federal dos Servidores do Estado, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Hospital das Clínicas de Porto Alegre.
Os pesquisadores observam que o cenário retratado é comparável, por exemplo, à prevalência de 20% de transtornos mentais após emergências humanitárias estimadas pela Organização Mundial de Saúde. O estudo ainda cita que somente nos EUA 5,7 milhões de pacientes são internados anualmente em UTI. Como a mortalidade média varia de 10 a 29%, é possível estimar que aproximadamente um milhão de norte-americanos desenvolve TEPT após ser internado.
Se por um lado os avanços no atendimento em UTI aumentaram as chances de sobrevivência em casos graves, por outro, conforme o estudo aponta, pode provocar impacto negativo na saúde mental dos pacientes. O TEPT é um distúrbio de ansiedade, que pode provocar isolamento social, taquicardia, tonturas, dor de cabeça, distúrbios do sono, dificuldade de concentração, irritabilidade. Fatores esses que prejudicam diretamente a qualidade de vida da pessoa. Para os pesquisadores, é preciso considerar a possibilidade de realizar triagem de pacientes na UTI para sintomas de TEPT, seguida de apoio e tratamento adequados.
“Seria fundamental que fossem avaliados já na UTI estressores comuns em pacientes gravemente enfermos, como insuficiência respiratória, inflamações, delirium e barreiras de comunicação. Pois eles podem contribuir para a ocorrência de TEPT, e a prevenção e o manejo adequado desses fatores podem reduzir a incidência da doença após a alta”, destaca o pesquisador do IDOR Fernando Bozza.