Um estudo realizado pelo grupo de pesquisadores da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), coordenado por Dr. Luciano Azevedo, médico pesquisador do Sírio-Libanês Ensino e Pesquisa, e publicado na revista Intensive Care Medicine, alerta sobre riscos após alta hospitalar de pacientes que estiveram internados em UTIs. “Pacientes que passam períodos maiores em UTI, como os que tiveram AVC, sepse ou pneumonia, precisam de atenção especial”, explica Dr. Luciano.
Com o título Increased risk of death and readmission after hospital discharge of critically ill patients in a developing country: a retrospective multicenter cohort study, o artigo demonstrou que pacientes admitidos em UTIs têm maior risco de morte e readmissão hospitalar em até 3 anos após a alta. A pesquisa, que analisou dados de pacientes que estiveram em UTIs do SUS em dez capitais brasileiras, considera esse risco a partir da comparação com doentes que estiveram internados em hospitais, mas sem passar pela unidade de terapia intensiva. Apesar de o estudo ter sido feito com pacientes do SUS, Dr. Luciano afirma que os resultados da pesquisa devem servir de alerta para os hospitais privados também. “Usamos dados do SUS para ter pacientes de todo o Brasil, mas pacientes que estiveram internados em UTIs de hospitais privados também merecem a mesma atenção”, diz. A revista é uma publicação da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva e da Sociedade Europeia de Terapia Intensiva Pediátrica e Neonatal. O artigo está disponível em versão on-line nesse link: doi.org/10.1007/s00134-018-5252-3
Para a pesquisa foram avaliados 324.594 pacientes (108.302 UTI e 216.292 não UTI). Os pacientes internados em UTI tiveram maior tempo de permanência hospitalar e mortalidade versus pacientes que não estiveram em UTI. Hoje, pacientes críticos que estiveram na UTI, de modo geral, recebem o mesmo acompanhamento pós-alta do que os internados no hospital sem passar pela unidade. Segundo Dr. Luciano, “a UTI atualmente não acarreta uma necessidade de acompanhamento mais constante dos pacientes após alta, exatamente porque não existe a noção bem estabelecida de que ser internado na UTI acarreta tanta morbidade futura”.
O alerta do estudo é que, por conta do risco maior de complicações pós alta, os pacientes com passagem pela UTI precisariam de maior acompanhamento médico, inclusive com políticas de reabilitação mais próximas e inclusivas que facilitem sua reinserção no contexto familiar e econômico e reduzam essa carga significativa para eles, familiares e sistema de saúde. “Essas complicações pós-UTI são normalmente desconhecidas dos profissionais de saúde e administradores de saúde no nosso país”, complementa Dr. Luciano.