Pesquisa mostra que cirurgia aberta garante mais sobrevida a pacientes com câncer de colo de útero em comparação às técnicas modernas

Com o avanço da medicina, a máxima “grandes cirurgiões, grandes incisões” vem caindo por terra. É quase unanimidade entre os profissionais da saúde que as incisões e cortes realizados para cirurgias complexas devem ser cada vez menores. Entre as evoluções que se apresentam, podem ser listadas as laparoscopias e cirurgias robóticas que resultam em pequenas cicatrizes, mas grandes avanços.

Porém, um estudo publicado no New England Journal of Medicine e conduzido pelo MD Anderson Cancer Center, nos Estados Unidos, com a participação de mais de 30 centros de referência em tratamentos oncológicos no mundo durante mais de 5 anos, incluindo o Hospital Israelita Albert Einstein, no Brasil, identificou que para o tratamento do câncer de colo de útero talvez o procedimento minimamente invasivo não seja o mais efetivo.

O câncer de colo de útero, também conhecido como carcinoma cervical, é o quarto câncer feminino diagnosticado com mais frequência e a quarta principal causa de morte relacionada ao câncer em mulheres de todo o mundo. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) registrou cerca de 16.370 novos casos diagnosticados em 2018. Causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano (HPV), este tipo de câncer tem como tratamento principal a cirurgia, quimioterapia e radioterapia.

Cerca de 600 mulheres diagnosticadas com tipos semelhantes de câncer de colo de útero participaram do estudo, que foi multicêntrico, randomizado e prospectivo. Metade delas foi submetida à cirurgia minimamente invasiva (84,4% para laparoscopia e 15,6% para cirurgia robótica) e as demais para a cirurgia aberta. O resultado mais importante observado foi uma taxa de sobrevida livre da doença 10% maior para as pacientes submetidas à cirurgia aberta em comparação à técnica mais moderna, cerca de 4 anos após a realização dos procedimentos.

“Este resultado nos serve como um freio a algumas tendências mundiais que podem surgir para um tratamento ou outro e que devem ser avaliados com um crivo científico ainda maior quando se trata de câncer”, afirma Mariano Tamura, ginecologista do Hospital Israelita Albert Einstein e um dos pesquisadores que conduziu o estudo no Brasil.

No Einstein, o estudo publicado na revista norte-americana avaliou cerca de 20 pacientes e recebeu incentivos da organização Amigo Einstein da Oncologia e Hematologia (AMIGOH), parte do Instituto Israelita de Responsabilidade Social Albert Einstein. Os resultados observados adaptaram diversos serviços onco-ginecológicos ao redor do mundo, inclusive no Brasil, que seguiam a tendência de optar pela cirurgia minimamente invasiva como forma mais segura de tratamento. “É um ajuste, não uma mudança de conduta. Acreditamos que seja um novo direcionamento da classe médica para oferecer a melhor técnica e uma uniformização no tratamento do câncer do colo de útero”, explica.

O estudo segue em andamento e o próximo passo é investigar o motivo principal que levou a este resultado, mas os pesquisadores já trabalham com uma hipótese. De acordo com eles, durante uma cirurgia oncológica, um dos grandes riscos é a disseminação de células tumorais causada pelo contato e atrito dos equipamentos.

Esses microtraumas podem ocasionar a soltura dessas células e o desgaste do tecido, espalhando as estruturas doentes para áreas próximas e, em alguns anos, evoluindo para uma recidiva. “Por não utilizar o manipulador uterino e evitar, assim, a fricção provocada pelo equipamento nos tecidos do organismo, a cirurgia aberta possibilita um acesso mais amplo para fazer a proteção dos tecidos nos arredores da área explorada”, explica Dr. Mariano.

Para o médico, a descoberta pode beneficiar o serviço público de saúde, uma vez que a cirurgia aberta depende menos de tecnologia e investimento financeiro do que a minimamente invasiva. “Queremos oferecer às pacientes uma técnica uniformizada com um melhor resultado que é a sobrevida livre da doença. Hoje, esta técnica é o tratamento padrão ouro para este tipo de câncer”, finaliza.

Redação

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