A primeira edição do Prêmio Internacional Fiocruz Servier de Neurociência teve como um de seus vencedores o neurocientista Stevens Rehen, pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O trabalho vencedor foi iniciado em 2016 e identificou, de forma inédita, a presença do vírus Zika ao desenvolvimento de microcefalia em bebês cujas mães foram infectadas durante a gestação. A cerimônia de premiação aconteceu na quarta-feira (12), no Rio de Janeiro (RJ).
Para mostrar a relação entre zika e microcefalia, a equipe liderada por Rehen utilizou organoides cerebrais, também conhecidos como minicérebros, que são um modelo importante para estudar o desenvolvimento do sistema nervoso central humano. “Células epiteliais foram retiradas da urina de voluntários e, em laboratório, fizemos com que voltassem ao estágio de células-tronco embrionárias, isto é, um estágio em que elas têm o potencial de se transformar em qualquer tipo celular. Depois, demos instruções a essas células para que se tornassem células do cérebro”, explica o cientista.
As células são cultivadas por cerca de dois meses até formarem pequenos aglomerados de cerca de cinco milímetros. Embora não possuam a complexidade de um cérebro humano formado, os organoides fornecem pistas valiosas sobre como esse órgão se desenvolve. Quando infectados pelo vírus Zika, os minicérebros têm seu crescimento comprometido.
Esta pesquisa faz parte de um esforço colaborativo entre o Instituto D’Or, a UFRJ, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e outras instituições para compreender o vírus Zika e seus impactos sobre a saúde humana. O trabalho contou com apoio do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, da Fundação Capes, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e da organização norte-americana Pew Charitable Trusts.
Valorização da ciência brasileira
A Fiocruz e o grupo farmacêutico francês Servier firmaram um acordo de cooperação do qual faz parte o prêmio de neurociência. As duas categorias escolhidas para esta primeira edição foram neurociência e infecção por vírus Zika e neurociência e distúrbios de neurodesenvolvimento. “O programa recebeu um número significativo de projetos, o que demonstra a alta qualidade da ciência brasileira”, disse o vice-presidente da Fiocruz Rodrigo Correia de Oliveira, durante a cerimônia de entrega dos prêmios.
Além de Rehen, a pesquisadora Flávia Alcântara Gomes, da UFRJ, também foi laureada, por suas pesquisas sobre as células gliais como novos alvos terapêuticos para doenças neurais.