Presidente da SBP participa de evento voltado ao combate às fakes news sobre vacinas

Desde 2015, o Brasil tem enfrentado dificuldades com relação às baixas coberturas vacinais, que se agravaram com a pandemia de Covid-19 em 2020. As causas dessa queda são inúmeras, mas a hesitação vacinal, gerada pelas fake news (notícias falsas), vem se fortalecendo como uma das principais preocupações de médicos e pesquisadores nacionais e internacionais. Para discutir sobre o assunto, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em parceria com o Instituto Questão de Ciência (IQC) realizou na sexta-feira (29), o curso “Hesitação vacinal: o que realmente funciona para aumentar a adesão aos programas de vacinação”, cujo objetivo foi debater o aspecto histórico, as causas e as consequências da hesitação vacinal, bem como buscar estratégias mais eficazes para combater a desinformação.

Participaram diversos profissionais especialistas da área de imunizações do país, além de comunicadores, gestores, representantes da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) Brasil, do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Conass e Conasens, da Fiocruz, e de sociedades médicas de especialidade, entre elas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que esteve representada pelo presidente Dr. Clóvis Francisco Constantino, e contou com a participação do presidente do Departamento Científico de Imunizações, Dr. Renato Kfouri.

Na abertura, o presidente da SBIm, Dr. Juarez Cunha, destacou que a hesitação vacinal foi listada pela OMS — em 2019, antes da pandemia — como uma das dez maiores ameaças à saúde pública. O médico também celebrou a oportunidade de dialogar com importantes atores do setor.

Dr. Clóvis classificou o evento como necessário, especialmente nas circunstâncias políticas conturbadas pelais qual o Brasil passa. “O ideal é que não fosse preciso promover esse encontro, mas nossas crianças, cujos pais foram vacinados, não estão sendo vacinadas. Isso nos preocupa. Vamos seguir em frente. Vamos trabalhar”, convocou.

Vice-presidente da SBIm, dra. Isabella Ballalai disse que esse assunto seja talvez o mais importante de toda essa pandemia. “Mais grave do que a pandemia da Covid-19 é a infodemia. Uma pandemia de informação, incluída a informação criminosa, buscando destruir a confiança da população na saúde e nas vacinas”, declarou.

A presidente do IQC, Dra. Natalia Pasternak, afirmou que, apesar de ser um fenômeno recente no Brasil, a desconfiança sobre vacinas não é nova. Estados Unidos e França lutam contra o problema de forma intensa há muitos anos. “Esse evento muito importante nesse momento do país, onde pela primeira vez, o Brasil se vê realmente ameaçado por um sentimento antivacinas que nunca foi presente aqui. E médicos e profissionais de saúde não foram preparados para lidar com esse momento, porque realmente o Brasil sempre foi favorável à vacinação. Lidar com hesitação vacinal requer treinamento, reflexão”, pontuou.

Presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP, Dr. Renato Kfouri, destacou que a SBP tem um papel crucial nesse cenário porque os pediatras constituem a principal fonte de informação. “Os estudos apontam em todo mundo e de maneira inequívoca que são os pediatras os principais responsáveis pela informação de qualidade e convencimento das famílias em vacinar seus filhos”, frisou.

CIÊNCIA EM DESCRÉDITO? – Para o presidente do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, Dr. Stuart Firestein, a ciência não está em descrédito. Ele afirma que as pessoas continuam a confiar na ciência. Um bom indicativo é o alto número de produtos que utilizam a expressão “comprovado cientificamente” como atrativo para vendas. O pesquisador, no entanto, vê um grande desconhecimento da população sobre medicina e em outras áreas. No evento, ele citou pesquisas que indicaram que 25% dos ingleses não sabiam a temperatura da água fervente e que 60% não sabiam o autor da Monalisa.

Dr. Firestein vê problemas no sistema educacional. Aos alunos é ensinada nas salas de aulas uma ciência baseada em certezas, em que o conhecimento de cada átomo permite entender tudo, como se o universo funcionasse como um relógio pontual. “Mas a incerteza é uma certeza no universo. A ciência com que trabalhamos hoje não traz uma resposta final. Ela começa e segue”, explica.

Um evento novo, como a pandemia de Covid-19, faz os olhos da população se voltarem para a ciência. Diante do medo, os especialistas são ouvidos em busca de respostas. Mas o que fazer quando ainda não há informações suficientes para esclarecer as dúvidas?

O professor defende uma comunicação transparente, em que seja transmitido o que for “suficientemente verdadeiro em relação às circunstâncias em que se encontram”. Dra. Pasternak complementa: “Comunicar não é manipular a opinião pública. Deve haver honestidade. O discurso não deve ser moldado de acordo com o que o comunicador acha que a população interpretará. Deve haver honestidade”.

COMUNICAÇÃO ASSERTIVA – Para o presidente da SBP, pesquisadores e médicos não se comunicam adequadamente com o público em geral. Em sua conversa com o professor Firestein, ele ponderou que é preciso mostrar ao público o que é a metodologia cientifica. “Nós mostramos o resultado de pesquisas. E como isto é o que é transmitido, pode ocorrer uma contestação. Acredito ser possível reverter isso a médio e longo prazos, porque acredito que a melhor forma de fazermos esse trabalho é mostrarmos ao público em geral cada vez mais como chegamos aos resultados, com que metodologia isso pode ser possível. Frequentemente citamos coisas muito difíceis do público entender. Portanto, acho que estamos também, além de outras coisas, pagando um preço de um certo elitismo da nossa parte”, observou.

*Com informações da assessoria de comunicação da SBIm.

Redação

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