Projeto identifica mais de 60 “dores” na jornada das pacientes com câncer de mama

O Instituto Protea e o Instituto Tellus, em parceria com o Instituto Avon e a Roche, apresentam o CuidaMama, um projeto de Saúde Pública ancorado na abordagem do Design Thinking que visa reduzir a mortalidade por câncer de mama feminino, a partir de soluções que respeitam um olhar local, sensível e integrado para o cuidado. A inovação está em discutir o tema a partir da experiência real da usuária do sistema público de saúde ao longo da sua jornada, dando caráter aos dados e informações factuais sobre o câncer de mama.

No Brasil, 70% dos casos de câncer de mama são diagnosticados tardiamente, segundo o estudo Amazona III, do Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama (GBECAM). Trata-se de um câncer que possui grandes chances de cura se descoberto previamente, chegando a 95% para os casos descobertos em estágios iniciais. A pandemia do Covid-19, porém, dificultou ainda mais o acesso ao sistema de saúde. Na comparação do número de exames feitos na rede pública entre os meses de março a dezembro de 2019 e 2020, as mamografias tiveram queda de 50%, enquanto as biópsias diminuíram 39%. Entre 2015 e 2019, a cobertura de mamografias da população-alvo (mulheres entre 50 e 69 anos) no Brasil foi de apenas 23%, segundo dados do Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no SUS.

O CuidaMama se baseia em três pilares, que envolvem a facilitação da comunicação entre mulheres e profissionais da saúde, a (re)organização da experiência do serviço público de saúde, promovendo o acesso ao diagnóstico precoce e o cuidado integrado ao longo da jornada, e a identificação de novos parâmetros para o cuidado do câncer de mama, fomentando tecnologias e políticas públicas. O projeto mapeou, desde novembro de 2020, a experiência da usuária ao longo de todo o serviço de cuidado para o câncer de mama, identificando oportunidades para a realização do diagnóstico precoce.

Por meio de um estudo organizado a partir da Pesquisa em Design, foi possível perceber como as ações dos diferentes atores garantem – ou não – a eficiência do serviço, abrindo espaço para a proposição de novas soluções e a melhoria da qualidade de vida de todas as mulheres – com ou sem câncer de mama.

O projeto nasceu quando o Instituto Protea, diante de reflexões sobre a demora no diagnóstico do câncer de mama e o papel de cada serviço na atenção integral à saúde da mulher, buscou o Instituto Tellus e a Roche com o intuito de desenvolver iniciativas em rede que pudessem identificar gargalos e propor soluções para a jornada do rastreio ao tratamento do câncer de mama.

Em sua primeira fase, o CuidaMama desenvolveu ações de campo, por meio de conversas com mais de 400 mulheres, profissionais da saúde, gestores públicos e especialistas que trouxeram diferentes perspectivas sobre o tema do câncer de mama. Da análise, identificaram-se 69 “dores” relacionadas a diferentes aspectos do serviço, em diferentes locais e equipamentos, que foram classificadas e agrupadas em 15 categorias e sob olhar de autonomia, viabilidade e aderência ao projeto. A primeira fase aconteceu a partir de uma jornada regional em dois territórios: o município de Cotia, com uma análise da atenção primária e secundária; e São Paulo, com apoio do Complexo de Saúde do Hospital Santa Marcelina para análise das atenções secundária e terciária, e do ICESP (Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) para análise complementar da atenção terciária.

“Problemas públicos não são exclusivamente estatais”, afirma o cofundador e diretor presidente Instituto Tellus, Germano Guimarães. “Todos da sociedade fazem parte do problema e também da solução. O projeto CuidaMama é um exemplo de parceria virtuosa para o entendimento, cocriação e implementação de soluções inovadoras que colocam o cidadão/usuário no centro do processo”.

Para Ariel Macena, líder do projeto pelo Instituto Tellus, a abordagem do Design Thinking, quando aplicada nos projetos públicos, se apoia no processo participativo ao colocar o usuário no centro do desenho das soluções, trazendo a sua história e experiências para cada momento. “Essa aproximação não apenas é útil para o desenho de um novo serviço, criando soluções mais aderentes, mas também reforça a proximidade entre cidadão e governo, proporcionando um canal permanente de diálogo com a população”.

Ariel Macena esclarece que hoje, nas políticas públicas, a busca por processos participativos e inclusivos, que consigam dialogar com diferentes perfis e atores, é obrigatória. “Isso fica ainda mais evidente na área da saúde, que trabalha com uma grande diversidade de pessoas e precisa dar conta das dores trazidas por cada um de seus pacientes”, completa. O CuidaMama prioriza que a diversidade de mulheres seja representada no projeto, reconhecendo as diferentes formas de lidar com sua história, suas dores e vitórias e incorporando no serviço proposto todos os saberes e vivências de cada uma delas.

“O câncer de mama afeta milhares de mulheres, mas ao mesmo tempo, tem alternativas de cura e controle”, reforça a gerente de Patient Experience na Roche Farma Brasil, Tatiana Kim. “A mobilização por iniciativas como o CuidaMama, que nos permitem cocriar para entender profundamente as barreiras da jornada das pacientes na saúde pública e atuar colaborativamente para construir e viabilizar soluções nas próximas fases, correspondem exatamente à forma como trabalhamos a ambição de não deixar nenhum paciente para trás”, complementa a gerente, que se mostra honrada com a colaboração da Roche em um projeto transformador. “Estamos orgulhosos de poder fazer parte dessa parceria desde o início e do caminho que estamos trilhando com este projeto”.

“O Instituto Avon tem como missão colaborar para a diminuição do número de mortes de mulheres por câncer de mama em nosso país e, para isso, acredita que o empoderamento, por meio de informações sobre os sintomas, diagnóstico e opções de tratamentos, além dos direitos enquanto pacientes, é de extrema importância para a transformação desta realidade. Incentivamos e confiamos nas parcerias e na cocriação entre instituições da sociedade civil, do setor privado e do poder público para o desenvolvimento de ações, como as do projeto que, a partir da própria jornada da mulher, nos mostram obstáculos que podem ser superados e, com isso, as ações passam a ter impacto transformador e promovem avanços que beneficiam diretamente as mulheres”, explica Regina Célia Barbosa, gerente de causas do Instituto Avon. “Projetos como o CuidaMama permitem unir esforços para mudar as vidas das brasileiras e, para o Instituto Avon, significa ampliar a comunicação sobre navegação de pacientes e o cuidado integrado, fundamentais para o avanço da causa”, conclui.

A fase atual do CuidaMama, que conta também com o apoio do Instituto Avon, é um momento de cocriação, abrindo um diálogo para refletir sobre as melhores maneiras de viabilizar o diagnóstico precoce e os cuidados adequados ao longo da jornada. Em um projeto onde a qualidade das experiências dos usuários com equipamentos de saúde e seu território é essencial para garantir o cuidado, os organizadores acreditam que pensar soluções com empatia e responsabilidade é pré-requisito.

“O CuidaMama é um caminho para construção de políticas públicas mais empáticas e humanas para colocar a saúde da mulher como prioridade, atuando no diagnóstico precoce e, com isso, diminuindo a mortalidade e o sofrimento destas pacientes hoje cada vez mais jovens”, conclui Germano Guimarães, diretor do Tellus.

Redação

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