“Sem proxalutamida nem nada, a palavra da ciência é vacinação”, destaca professora de farmacologia

Enquanto a onda permanente de casos de Covid-19 no Brasil não reduz e a vacinação dos brasileiros, embora tenha avançado, esteja longe de alcançar o patamar desejável para diminuir o número de hospitalizações e óbitos, o presidente Jair Bolsonaro divulga agora uma ‘nova cloroquina’. O remédio da vez é o proxalutamida. “Trata-se de mais uma sugestão sem qualquer comprovação. Aliás, chamar de cloroquina é até um exagero, já que esta, ao menos, tem eficácia comprovada no tratamento da malária. Já para a proxalutamida, não há qualquer tipo de eficácia a ela relacionada”, destaca Soraya Smaili professora de farmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do centro SOU_CIÊNCIA.

A droga está em estudo para o tratamento do câncer de próstata, e ainda sem comprovação. “Para demonstrar a eficácia de um fármaco, são necessários os estudos de fase pré-clínica (em laboratório e animais) e depois estudos de fase clínica em 3 fases. A proxalutamida não tem estudos de fase clínica para o tratamento do câncer e muito menos para a Covid-19. O estudo que utilizou a droga para o tratamento da Covid-19 foi publicado em 19 de julho, em uma revista científica chamada Frontiers in Medicine (www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmed.2021.668698/full)”, explica Soraya.

“Em que pese que teve sua análise por pares, ainda são necessários muitos estudos em diferentes centros de pesquisa, com controles e metodologia atestada para dizer que ela é realmente eficaz contra a Covid-19. Ou seja, sem comprovação científica, sem seguir o método científico, não tem conversa”, avalia a coordenadora do SOU_CIÊNCIA. Ela complementa: “a vacinação segue claramente como a forma mais eficaz de diminuir os óbitos, como já comprovaram vários estudos, a exemplo do realizado no Reino Unido, onde os óbitos foram drasticamente reduzidos na terceira onda, após vacinação da população. As vacinas não evitam 100% a doença, mas são extremamente eficazes para evitar a hospitalização e as mortes.”

Abaixo, quadro que mostra a redução de morte por Covid-19 no Reino Unido com o avanço da vacinação:

A vacinação é o caminho certo para se evitar o surgimento de novas variantes no Brasil e no mundo. Um estudo publicado recentemente no Financial Times, reforça essa necessidade de imunização, ao mostrar que Reino Unido, EUA e Israel, entre outros países que vacinaram fortemente sua população, estão às voltas com um novo aumento no número de casos de Covid-19 devido à variante Delta (quadro abaixo), e ainda buscam saber se a vacinação protegerá a maioria da população da doença grave. É o que os cientistas investigam.

“Portanto, não há saídas mirabolantes. Temos que vacinar pelo menos 80% da população brasileira com duas doses (para as vacinas que requeiram duas doses), utilizar medidas de distanciamento social e zelar para a distribuição de máscaras apropriadas para toda a população. Ao mesmo tempo, dar suporte ao SUS, aos profissionais de saúde e apoiar os estudos científicos para a busca de novas e verdadeiras soluções, o que já estão em andamento nos laboratórios de nossas universidades. Na mesma linha, não há motivos para se falar em terceira dose da vacina ou dose de reforço, uma vez que temos o compromisso primeiro de vacinar toda população com pelo menos duas doses”, ressalta Soraya, que conclui: “a palavra da ciência é vacinação. É preciso imunizar toda a população e tratar os casos graves com fármacos que têm evidências científicas de fato. Proxalutamida está bem longe disso”.

Comentário para os links: www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2021/07/20/proxalutamida-os-questionamentos-e-as-suspeitas-sobre-a-nova-droga-defendida-por-bolsonaro-contra-a-covid-19.htm; oglobo.globo.com/sociedade/saude/anvisa-autoriza-estudo-de-terceira-dose-da-astrazeneca-nova-cloroquina-defendida-por-bolsonaro-25116407

Redação

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