Setor hospitalar privado encerra 1º semestre em queda

Os impactos da pandemia de Covid-19 no Brasil continuam a ser contabilizados. Na 2ª edição da Nota Técnica – Observatório Anahp, a Associação Nacional de Hospitais Privados atualizou os principais indicadores do setor, para mostrar como o vírus afetou os pacientes, a empregabilidade e as finanças. A análise foi feita com base nas informações fornecidas por 121 associados.

De março a junho de 2020, o número de casos suspeitos de Covid-19 nos Pronto Atendimentos (PAs) aumentou mais de 600%, passando de 2,7% em março para 19,5% em junho. Apenas em junho, 41,5% dos pacientes atendidos testaram positivo para a doença e 2,9% deles foram internados.

Com as recomendações dos órgãos responsáveis – como Ministério da Saúde, Organização Mundial de Saúde (OMS) e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – para suspensão de procedimentos e exames eletivos e devido ao receio de contaminação das pessoas, houve queda de 26,3% no total de internações, comparando os meses de janeiro a junho de 2020 com o mesmo período de 2019. Os hospitais da Anahp também registraram diminuição das internações relacionadas a doenças crônicas e do aparelho circulatório e nervoso – na qual estão classificados os cânceres e as doenças como infarto, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca, dentre outras de tratamento contínuo – de 27,3%, 31,6% e 34,9%, respectivamente.

“A interrupção inadequada de tratamentos de condições crônicas, postergar procedimentos cirúrgicos necessários e não procurar o pronto socorro por condições agudas, foram comportamentos prejudiciais à saúde das pessoas. Felizmente, desde abril, estamos notando mudanças, com retomada gradativa da procura aos hospitais. E isto é muito importante. As pessoas devem mesmo manter a retomada da confiança na capacidade dos hospitais de proporcionarem ambientes e práticas cada vez mais seguras neste cenário de convivência com a Covid-19”, destaca o médico Ary Ribeiro, editor do Observatório Anahp e CEO do Hospital Infantil Sabará.

Finanças – Resultado operacional teve queda de 60%

Além de a suspensão dos procedimentos eletivos colocar a vida das pessoas em risco, também afetou a saúde financeira dos hospitais associados. Com a queda no faturamento e o aumento do custo de insumos hospitalares de cerca de 300% e do consumo de equipamentos de proteção individual (EPIs) de mais de 200%, as despesas chegaram a ultrapassar as receitas.

Nos seis primeiros meses do ano, a redução da receita hospitalar, atrelada ao aumento das despesas variáveis e manutenção das despesas fixas, gerou um resultado operacional 60% menor, quando comparado ao mesmo período de 2019.

Empregos – Contratações caíram 20%

As estatísticas do mercado de trabalho mostraram que a pandemia do novo coronavírus também afetou a geração de empregos. O setor de Saúde, o segundo que mais contrata no Brasil, reduziu o número de novas vagas em 37%, passando de 69.034 no primeiro semestre de 2019 para 43.158 neste ano. “O setor de Saúde sempre foi muito dinâmico na geração de empregos. Embora tenha havido um crescimento menor em 2020, o saldo foi positivo. O número deste ano ainda é maior do que o saldo de 2017, por exemplo, que foi de 38.650 contratações”, compara André Medici, editor da Nota Técnica – Observatório Anahp, economista de saúde e consultor internacional.

Entre os hospitais Anahp, a taxa de admissões pelo efetivo total, que vinha subindo nos últimos anos em decorrência da melhora no mercado de trabalho, caiu 20%, passando de 2% de janeiro a junho do ano passado para 1,6% no mesmo período de 2020.

Preocupação do setor no pós-pandemia

A atual proposta da Reforma Tributária colocou um sinal de alerta vermelho na saúde. Caso seja aprovada na forma como está, haverá um aumento da carga de tributos em torno de 40% sobre os hospitais privados. Além disso, o texto não contempla a isenção de tributos da folha de pagamento, principal despesa dos hospitais (cerca de 40%), o que impacta diretamente na capacidade do setor de se manter como fonte empregadora em um momento de forte desemprego em todo o país.

Para a Anahp, é preciso tratar o setor com neutralidade e excepcionalidade, levando em consideração o atual cenário em que o Brasil se encontra: lutando contra uma pandemia sem precedentes e uma crise econômica ainda não mensurada. Caso contrário, a previsão é que os investimentos em pesquisa, tecnologia, infraestrutura e contratações sejam suspensos.

Redação

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