Síndrome Pós-Covid: 25% dos recuperados apresentam sintomas meses após fim da infecção

Diversos estudos apontam que pelo menos um quarto das pessoas infectadas pela Covid-19 apresentam algum sintoma que afeta a saúde e a qualidade de vida mesmo após a fase aguda da doença. Os problemas da chamada síndrome Pós-Covid ou Covid Longa persistem até 90 dias após a cura e vão de fadiga, cefaleia, sequelas respiratórias, cardíacas, renais até sintomas neurológicos que prejudicam a cognição e a capacidade de concentração.

“Quanto mais grave foi a doença, por exemplo, se a pessoa ficou internada em terapia intensiva, necessitou de oxigênio, maior o risco de apresentar problemas respiratórios, como fibrose pulmonar, ou redução da função cardíaca”, explica a médica infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

O cardiologista Hélio Osmo, gerente executivo da área médica da Farmacêutica Zambon e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica, concorda com a médica e diz que sem dúvida alguma o principal órgão afetado é o pulmão. “Oitenta por cento das pessoas que ficaram internadas têm falta de ar por um período prolongado. Muitas ficaram intubadas e apresentam depois fibrose pulmonar. Outras têm dificuldade de absorção de ferro, o que gera anemia, infecções virais frequentes ou desenvolveram sarcopenia, que é a perda de massa muscular”. Para recuperação total desses pacientes, segundo Dr. Osmo, será preciso muita fisioterapia por seis meses ou até um ano.

Além das questões muscular e respiratória, há relatos nos estudos de uma variedade de outros sintomas. A fadiga e a dificuldade de realizar tarefas simples são queixas comuns inclusive em pessoas que tiveram quadro leve a moderado, em especial nas mulheres, revela a infectologista. Podem persistir, também, alterações de olfato e paladar, queda acentuada de cabelo, zumbido no ouvido, palpitações, ansiedade e depressão. Aliás, o cérebro é um dos órgãos mais afetados no pós-Covid.

Lapsos de memória, falta de foco e concentração são frequentes, prejudicando o desempenho profissional e abalando a confiança dos pacientes. Dra. Rosana explica que o problema é conhecido como ‘brain fog‘ por criar uma névoa cerebral. “Quando a pessoa não consegue produzir uma planilha ou fazer cálculos matemáticos com a mesma agilidade, e o tempo passa e ela não está recuperando essa habilidade, ela percebe que a sua capacidade cognitiva está prejudicada. Isso gera ansiedade e depressão, porque ela quer de volta a vida que tinha antes”, alerta Dra. Rosana Richtmann, fazendo um apelo aos colegas médicos para valorizar a queixa dos pacientes. “Esses sintomas não podem ser desprezados. Não é frescura. É preciso acolher e dar esse conforto ao paciente porque realmente ele está sofrendo”, afirma.

A infectologista diz que o Brasil não está preparado para lidar com a Síndrome Pós-Covid porque o país não possui centros de atendimento multiprofissional que reúnem num mesmo local especialidades como psiquiatria, cardiologia, pneumologia, endocrinologia, infectologia e clínica médica. “Os poucos centros existentes já não estão dando conta do atendimento. Isso faz com que o paciente tenha que percorrer vários consultórios médicos e isso pode fazer com que ele desanime”, lamenta.

Redação

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