Sustentabilidade da saúde, incorporação de tecnologias e experiências internacional marcam segundo dia do 14º Seminário UNIDAS

Com presença recorde de público – 936 inscritos presencialmente e 964 pessoas que acompanharam o evento online – o 14º Seminário UNIDAS discutiu de maneira profunda os desafios para um sistema de saúde suplementar mais sustentável. Reunindo 39 palestrantes em 15 debates distribuídos ao longo de dois dias, o evento realizado pela União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde debateu os principais temas do setor em Brasília, no CICB – Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília. Entre o público presente estiveram 55 presidentes de operadoras de autogestão, 10 vice-presidentes, 23 CEOs, 160 diretores, 274 gerentes; 65 filiadas da entidade enviaram representantes para o evento que teve como tema “Por mais integralidade e equidade na saúde”.

“Encontrar uma saída para o cenário que a Saúde Suplementar vive hoje – com sinistralidade e inflação médica em alta e com o poder de pagamento do beneficiário em queda – demanda descontruir a maneira como atuamos até agora para aperfeiçoar o que funciona e encontrar alternativas para o que realmente está tornando a saúde suplementar um produto cada vez mais elitizado. Não existe bala de prata que vai salvar o setor. É preciso muito diálogo e visão de médio e longo prazo”, destaca o presidente da UNIDAS, Anderson Mendes. “A necessidade de começar a desenhar esses caminhos explica a alta audiência do evento, que dobrou de tamanho nesta edição em relação aos seminários que fizemos anteriormente em Brasília”, disse o executivo.

Destaques do 2º dia da programação

No segundo e último dia de seminário, a Comissão de Regulação e Normas Técnicas da UNIDAS fez o lançamento do E-book “Eventos adversos em atendimento hospitalar”. Josiane Aparecida Colombo, gerente nacional de saúde da ASSEFAZ – Fundação Assistencial dos Servidores do Ministério da Fazenda – e, coordenadora da comissão de regulação e normas técnicas da UNIDAS, destacou que “com esse material, mostramos a importância de fazer a auditoria in loco, de analisar o paciente no próprio leito e de investigar o prontuário para reforçar a segurança do paciente tanto no hospital quanto na operadora. Além disso, todo colaborador de filiadas tem acesso a coleção de manuais da UNIDAS que foram construídos especialmente para eles”. O material está disponível na intranet da entidade.

Painel – Saúde digital na jornada do paciente (sistemas de saúde)

O tema do primeiro painel do dia foi “Saúde digital na jornada do paciente (sistemas de saúde)”. Tendo como moderador Fernando Amaral, diretor de risco populacional, saúde e rede de atendimento da CASSI, a discussão reuniu o Dr. Chao L Wen, chefe da disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP e a presidente da Associação Brasileira e Adriana Ventura, deputada federal pelo partido NOVO/SP, professora da FGV e Empreendedora da Telemedicina e Telessaúde.

Fernando Amaral começou explicando que o Brasil tem três segmentos de saúde: a saúde pública, a complementar que envolve a saúde privada que tem convênio com o SUS e a suplementar, onde entram as autogestões e que não tem esse convênio. “Quando discutimos a saúde digital logo pensamos na telemedicina que, facilita muito a comodidade do paciente e, em alguns casos, é o único acesso aos médicos.” E foi com esse o gancho que ele pediu aos palestrantes para explicarem a diferença entre telemedicina e telessaúde.

A deputada Adriana Ventura, autora da Lei que autorizou o uso da telemedicina no Brasil durante a pandemia, comentou o quanto esse o período foi importante para mostrar que é preciso experimentar e não resistir a tecnologia e mudanças benéficas. Já o Dr. Wen explicou que a telemedicina só pode ser exercida por médicos, enquanto a telessaúde abrange todas as profissões de saúde que podem usar as terapias digitais em seus pacientes. “Nessa otimização digital, a saúde precisa participar, ter interoperabilidade e intercambialidade. É irreversível, os médicos terão que usar essa tecnologia no dia a dia. Acredito, ser inevitável, até 2030 que os atendimentos presencias sejam desestimulados e que os tratamentos híbridos, parte por telemedicina e parte por presencial ganhem destaque”, complementou.

Para a deputada, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) é um ponto de atenção quando falamos sobre integração de dados no setor. “Não conseguimos fazer política pública sem dados e aí acabamos esbarrando na LGPD. Falta um debate maduro para harmonizar a lei principalmente quando falamos em saúde e educação”, afirmou.

Painel – Experiências internacionais no financiamento de saúde

O segundo painel do dia teve como tema “Experiências internacionais no financiamento de saúde”. Com a moderação de Márcio Mascarenhas, CEO da Versania Brasil, o painel trouxe uma visão dos modelos de financiamento à saúde de Portugal (apresentado por Claudia Rebelo, head of commercial relationships da CUF) e dos Estados Unidos (por Luciano Fochesatto, CEO da Justmiine).

Claudia Rebelo começou sua apresentação destacando que Portugal tem, aproximadamente, 10 milhões de habitantes o que é praticamente a população da cidade de São Paulo. No overview sobre a saúde em Portugal ela explicou o funcionamento do sistema português, comporto pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), por seguros de saúde e pelos subsistemas de saúde. “Esses, normalmente, são seguros associados à atividade profissional. Mas, mesmo assim, 35% da população tem dupla cobertura, ou seja, pública a particular”, afirmou. Ela também falou sobre o modelo de implementação de pagamento de saúde baseado em valor (VBHC). “Tratar o doente não é tratar a doença e sim, a pessoa. É preciso convergir os interesses entre prestador e pagador. Então que tal mostrar ao prestador que sua diferenciação clínica será um destaque no mercado? E ao pagador que os custos serão otimizados?”

Já o CEO da Justmiine apresentou o complexo funcionamento do sistema de saúde americano. Ele relembrou que o Obama Act padronizou as coberturas oferecidas pelo Medicare – o seguro de saúde público. Também explicou as diferenças entre o Medicare e o MedicAid, além de apresentar diferentes modelos de remuneração na relação entre prestadores e operadoras de saúde nos Estados Unidos. Para ele, “não se pode ter ansiedade em relação a implementação do VBHC. O mercado precisa amadurecer. O Fee-for-service, atual modelo de remuneração não é o ideal, mas falta estímulo para revê-lo. Antes de pensar em pagamento, devemos pensar em tratamento. Primeiro analisa o desfecho do tratamento oferecido ao paciente, depois se analisa o pagamento”, destacou.

Painel – Invertendo os papéis

Talvez o painel que despertou mais curiosidade sobre o nome, o “Invertendo os papéis” foi moderado por Núbia Tavares, diretora de estratégia da PUB Comunica. “Foi uma maneira que a UNIDAS encontrou para trazer para o centro de discussão quem realmente faz do Seminário um evento grandioso: o público”. A moderadora escolheu três convidados que foram entrevistados de surpresa no palco. Participaram da conversa Carmen Ribeiro, diretora comercial da Sodexo; Ana Beatriz Mendes, estudante de Medicina na Universidade Católica de Brasília; e Júlio César de Souza, gerente de unidade na CASSI MG, diretor de integração na UNIDAS MG e coordenador da comissão de modelos de remuneração e gestão de rede da UNIDAS.

Carmen que está no mercado de saúde há dez anos começou destacando a importância de se discutir assuntos tão importantes no dia a dia das pessoas e que ajudam muito na construção de um novo ecossistema de saúde. “Cada vez mais discutimos assuntos relevantes e, hoje é preciso pensar como colocá-los em prática principalmente nas autogestões. É preciso pensar como nosso beneficiário estará dentro dessa estrutura que queremos construir na saúde e como trazer mais modelos que na prática estão dando certo e como adaptá-los a nossa realidade.”

Júlio César de Souza, gerente de unidade na CASSI MG, já tem a visão das autogestões, área em que trabalha há 17 anos.  “Percebo que nos últimos 10 anos, estamos discutindo mudança de modelos de remuneração, mas de três anos para cá, talvez pela pandemia, muita coisa mudou. Já temos avanços nesses modelos que ainda temos muito que mudar.”

Já a estudante de Medicina, Ana Beatriz Mendes, por ser filha do presidente da UNIDAS (Anderson Mendes) diz que, justamente por ter um conhecimento “nato” das autogestões sente falta deste assunto ser abordado na Faculdade.  “Agora que estou estagiando, percebi que as pessoas ainda são relutantes com algumas mudanças em relação ao cuidado integrado e algumas preferem seguir o que já está no sistema.”

Outro assunto abordado por Núbia Tavares foi o momento crítico que as autogestões estão enfrentando para se manterem sustentáveis. Júlio, como gestor, disse que a judicialização, o rol taxativo e a necessidade de envolver a associada na discussão principalmente quando se fala no uso racional da saúde é essencial.

Painel – Quem são os verdadeiros atores da saúde suplementar?

No último painel do dia o tema foi “Quem são os verdadeiros atores da saúde suplementar?” O moderador Everton Ermogenes Nunes da Silva, gerente executivo de negociação na CASSI, já começou o painel falando que o tema em si já era provocador. “O ator é quem tem papel ativo em algum acontecimento e, agora esse momento é de mudanças. Falamos muito em colocar o cliente no centro, temos que buscar soluções técnicas para isso.”

Para a palestrante Nathalia Pompeu, diretora executiva corporativa, diretora de governança corporativa, diretora de contratos e regulatório do Grupo Hapvida Notredame Intermédica, o ator central dessa discussão é e deve ser o usuário. “Fazendo uma analogia a uma peça de teatro: cada ator corre para cumprir seu papel e ninguém está lá para fazer o espetáculo acontecer. O consumidor final não participa dessas discussões e, como saúde suplementar, temos que representá-los. Falar para quem está acostumado a ouvir é fácil”, afirmou.

Já o médico Antonio Carlos Endrigo, diretor de tecnologia da informação da Associação Paulista de Medicina e presidente da comissão organizadora do Global Summit, destacou os desafios na carreira médica. “Um dos pontos que nos preocupa é a quantidade e a velocidade que foram criadas as Faculdades de Medicina. Infelizmente não teremos vagas suficientes para residência médica e nem eles estão acostumados a buscar cursos de especialização. E, isso impacta os beneficiários e os planos de saúde. Porque o volume de médicos que estão indo para o setor é grande e a conta não vai fechar. Os convênios não terão como incluí-los na rede credenciada. Isso pode gerar a diminuição nos honorários médicos e, consequentemente termos médicos de menor qualidade”, disse.

Já o outro palestrante, Dr. Wilson Shcolnick, presidente da Abramed, instituição que representa cerca de 60% do mercado de laboratórios clínicos e de imagem, ressalta que um dos grandes problemas enfrentados por ele é o não conhecimento, por parte dos pacientes e beneficiários, de que a não utilização de maneira correta dos recursos gera um impacto no valor, um reajuste. “Essa repetição frequente de exames e os métodos de análise não serem padrão são grandes barreiras. Desde 2011, a Abramed adotou a terminologia Loinc que é a padrão do Ministério da Saúde, mas não avançamos e, essa padronização é essencial, também, para a saúde das pessoas”, complementou.

Entrega do prêmio IDSS

Cleudes Freitas, vice-presidente da UNIDAS, entregou os prêmios as 35 filiadas que obtiveram as maiores notas no Índice de Desempenho das operadoras da ANS (IDSS), que avalia a qualidade do atendimento delas. São elas: AFRAFEP, AMAGIS SAÚDE, ARCELORMITTAL BRASIL S/A, ASSEFAZ, CABERGS, CABERJ, CAFAZ, CASACARESC, CASEC, CASEMBRAPA, CASF, CASU, CAURN, CELOS, CEMIG, COMPESAPREV, COPASS – SAÚDE, ECONOMUS, ELOSAÚDE, EVIDA, FACEB, FAPES, FISCO SAÚDE, FUNDAÇAO COPEL, FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER, FUNDAFFEMG, JUDICEMED, PASA, REAL GRANDEZA, SAMEISA, SAÚDE BRB, SERPRO, SINDIFISCO (UNAFISCO), UNISAÚDEMS. O grande destaque da premiação ficou para a ABERTTA Saúde que, pelo quarto ano consecutivo obteve nota máxima – 10 – e foi a única filiada a conseguir o índice em 2022.

Tema: Liderança inovadora: como promover a cultura de inovação nas empresas

Carinhosamente conhecido como professor Pachecão, o professor & palestrante corporativo José Inácio da Silva Pereira tem mais de vinte anos de dedicação ao ensino, é precursor do estilo “aula show” e, foi professor de cursinho em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Joinville e lecionou Física para aproximadamente 250 mil jovens durante 25 anos. Percorrendo o Brasil há mais de dez anos ministrando Palestras Motivacionais, ele contou que nasceu em uma casa humilde, sem água encanada, estudou em uma escola bem humilde, mas que isso nunca o impediu que pensar grande, pelo contrário. “Não importa sua condição, o que importa é a sua decisão. É na dificuldade que você encontra saídas para a vida, então seja grato as dificuldades. Se a sua vontade de vencer as dificuldades for igual a sua de respirar se estivesse morrendo você vai longe. Eu, por exemplo, gravei música na Poligram sem saber cantar, fiz novela na Rede Globo sem saber atuar”, disse, arrancando risos da plateia. 

Talks Patrocinados

O segundo dia também contou com um Talks patrocinado pela Janssen com o tema “O atual panorama e o futuro do mieloma múltiplo”. Nele, Dr. Ângelo Maiolino, professor de Hematologia da UFRJ, coordenador da linha de pesquisa em mieloma múltiplo e gamopatias monoclonais do programa de pós-graduação em clínica médica (UFRJ), ressaltou que o mieloma múltiplo corresponde a 1% dos tipos de câncer que acometem as mulheres. “Um dos maiores problemas é o diagnóstico tardio, que acontece muitas vezes por ter seus sintomas confundidos com outras doenças e por acometer mulheres com idade avançadas.” Ele ainda afirmou que os tratamentos evoluíram muito nos últimos anos com as quimioterapias, medicamentos imunobiomoduladores, anticorpos monoclonais e outras terapias, mas que “ainda existem necessidades médicas não atendidas, onde novas terapias são necessárias para o aumento da sobrevida dos pacientes com esse tipo de mieloma mesmo porque, a cada recaída temos uma reemissão”.

Já o Talks patrocinado pela Merck abordou “A jornada do câncer de colo de útero (end to end) – da prevenção ao tratamento paliativo”. Radioterapeuta de formação, o Dr. Marcos Santos, presidente da Sociedade Brasileira de Auditoria Médica, presidente do Conselho Consultivo do Capítulo Brasil da ISPOR e, editor-chefe do Jornal Brasileiro, foi o palestrante. “O câncer de colo de útero é o tipo de câncer mais prevenível, seja por vacinação, rastreamento, diagnóstico precoce ou tratamento da lesão. Ele demora, em média, dez anos para se tornar incurável e, mesmo assim ainda causa óbito. Isso é preocupante mesmo porque sabemos que a vacinação sofre interferência do poder econômico de cada país”, finaliza.

Encerramento

O encerramento do 14° Seminário UNIDAS foi feito por Cleudes Freitas, vice-presidente da UNIDAS. Em seu discurso ele ressaltou que essa edição bateu o recorde de inscritos, já que foram 936 inscrições presenciais e 964 conferiram as discussões virtualmente. “Aproveito a oportunidade para adiantar que o prêmio UNIDAS deste ano terá como tema modelos e práticas para o futuro da saúde suplementar e convido a todos para participarem do 26º Congresso UNIDAS, que será nos dias 4, 5 e 6 de outubro no Centro de Convenções Salvador.”

Redação

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