A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) concluiu em maio de 2022 o primeiro depósito institucional de invenção com finalidade social. Trata-se dos modelos DIVA-EPM, que são dilatadores vaginais graduados desenvolvidos para o tratamento de agenesia vaginal e de outras condições similares. A agenesia vaginal é uma anomalia congênita caracterizada pela ausência da vagina, podendo estar associada com malformações do útero.
O projeto foi coordenado pela professora Marair Gracio Ferreira Sartori, do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Unifesp – Campus São Paulo, e contou com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os pesquisadores optaram pelo registro aberto, formato em que o produto criado é disponibilizado de forma gratuita para médicos que tratam dessa condição. Segundo a pesquisadora, “a agenesia vaginal é uma condição rara, afetando 1 em cada 5.000 mulheres. Ela faz com que não haja desenvolvimento do canal vaginal e, às vezes, do útero. As mulheres com essa condição não menstruam e têm dificuldades para manter relações sexuais com penetração vaginal”.
O tratamento visa construir um novo canal vaginal, que pode ser feito com cirurgias ou com a técnica de dilatação vaginal progressiva, a mais recomendada atualmente. Para isso, são utilizados dilatadores vaginais de tamanhos progressivos, que não são disponíveis de forma universal. “Muitas vezes são usadas próteses adaptadas de lojas de produtos sexuais o que pode trazer constrangimentos a essas meninas. Por isso, desenvolvemos um produto personalizado, que possui um custo menor que o das próteses adaptadas compradas nessas lojas”, pontua Marair.
O projeto disponibiliza modelos de desenho tridimensional para serem impressos em impressora 3D. De modo personalizado, o médico pode inserir as dimensões específicas para cada paciente e, à medida que atualizações forem necessárias, novas medidas podem ser inseridas para a confecção de um novo dilatador.
Para a pesquisadora, o produto permitirá que meninas tenham a oportunidade de serem tratadas de modo seguro e eficiente em qualquer lugar, sem precisar se deslocar periodicamente para um centro de referência. “O dispositivo pode ser impresso em qualquer local do mundo em que haja uma impressora 3D. Lugares como Moçambique, por exemplo, já nos procuraram para utilizar o DIVA-APM”, revela Marair.
Para o diretor da Agência de Inovação Tecnológica e Social (Agits) da Unifesp, Paulo Schor, o produto pode ser muito útil em localidades remotas, para situações específicas. “A importância de inaugurar essa aba do nosso mostruário de invenções é devolver para a sociedade, de modo ágil e sem limitação, um desenvolvimento feito na academia. Trata-se de uma descoberta compartilhada, com licença própria, entre a Unifesp e a sociedade”, ressalta Schor.