A revolução open, como gosto de falar, segue se expandindo para outros setores. Tudo começou com os bancos e o sistema financeiro, foi estendido para o setor de seguros e agora vemos discussões sobre o seu potencial para outras áreas, como a da saúde. Nessas conversas podemos visualizar o Open Health como um sistema que ampliará as possibilidades de atuação da gestão pública de saúde, além de impulsionar a concorrência e inovação no setor privado. Contudo, junto com as novas oportunidades, surgem também novos riscos, que nos levam a discussões éticas profundas sobre o uso dos dados.
Com a minha expertise em Open Finance, vejo alguns pontos importantes para esta discussão. A primeira possibilidade é a de unificar os dados dos pacientes, o que pode reduzir filas, triagens, repetição de exames e até mesmo pode ocasionar a diminuição dos gastos na saúde pública e privada, já que todas as informações estarão concentradas em um único sistema. Isso pode facilitar também o dia a dia dos profissionais de saúde. Para as empresas deste ramo, a partir da coleta dos dados dos pacientes, como idade, localização, doença e prognósticos, será possível criar padrões, assim como no Open Finance, que tem uma série de regras já estabelecidas e usadas em todas as instituições, o que simplifica bastante a comparação de dados, como os tipos de produtos, serviços, pessoas e necessidades de cada um.
A padronização é muito importante e traz diversos benefícios, porém representa um grande desafio para as empresas do ramo. Isto porque há riscos maiores nessa área e a dificuldade de padronizar prontuários médicos, por exemplo, é uma realidade. Além disso, há uma certa contrariedade em fazer com que os funcionários e médicos reportem esses dados aos servidores, o que pode causar um desfalque de informações. A rotina de um hospital ou clínica de saúde é muito inconstante e temos a possibilidade deste registro cair no esquecimento dos funcionários.
Mas, voltando para os benefícios, consigo visualizar também que esse novo sistema vai auxiliar de forma direta as pessoas que fazem a gestão de saúde, e poderá fornecer uma boa gama de possibilidades às empresas da área, já que o consumidor final terá grandes possibilidades com a implementação dessa tecnologia.
Além disso, temos um excelente ponto a ser explorado: é possível utilizar essas informações de modo a realizar pesquisas que têm por objetivo auxiliar na implementação de políticas públicas que visem sanar os problemas elencados. É o caso, por exemplo, de estudos sobre o aumento de alguma doença ou permanência de problemas de saúde em alguns grupos de pessoas em relação a outras.
Por outro lado, esse assunto vem levantando muitas polêmicas no ramo, como a existência do risco de vazamento de dados, além da exposição de casos delicados e sensíveis à saúde. Mas pode-se dizer que cada empresa trata com responsabilidade todas as informações que lhe são disponibilizadas e se comprometem com os mais altos padrões de privacidade e segurança para manter a confiabilidade no sistema. Isso tudo garantido pela Lei Geral de Proteção de Dados.
Vale também destacar que quando falamos em segurança, é possível limitar o acesso aos dados para que eles não sejam explorados através de prontuários médicos individuais ou informações sobre o uso do plano contratado no passado por uma pessoa em relação aos serviços utilizados. Mesmo que os dados diretos sejam usados, é possível usufruir deles de forma global e agrupada e, assim, conseguir determinar um tipo de perfil ou comportamento que permite seccionar ainda mais a oferta de cobertura e prestar os serviços adequados às necessidades individuais de cada pessoa, principalmente quando se trata de saúde e bem-estar.
Caso o Open Health torne-se uma realidade, é de extrema importância que o seu funcionamento seja cuidadosamente pensado. A sua estruturação precisa respeitar e defender os direitos do cidadão, pois só assim teremos um sistema benéfico para todos, como é o princípio de todo sistema open. Acredito que o Open Health poderá revolucionar o sistema de saúde brasileiro, mas ainda há muito a ser discutido neste âmbito. Nós, players atuantes do Open Finance, podemos apoiar novos setores da economia que queiram se beneficiar por meio do uso dos dados. No ecossistema financeiro já estamos sentindo o impacto em diversos modelos de negócios, e tenho certeza que com o setor da saúde não será diferente.
Bruno Loiola é cofundador e CGO da Pluggy