Um artigo publicado em janeiro deste ano, na revista The Lancet, importante periódico científico internacional, demonstrou que naqueles pacientes portadores de diabetes associados à obesidade, a perda de peso é o primeiro passo para controle da glicemia e para evitar a progressão da doença e de suas complicações, como a insuficiência renal e eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio e AVC (acidente vascular cerebral). Esta publicação foi importante para que as Sociedades Americana e Europeia de Diabetes propusessem um algoritmo apresentado durante a 82nd Scientific Sessions of the American Diabetes Association que o tratamento da obesidade é o passo inicial fundamental para o tratamento do diabetes. Os novos agentes farmacológicos, apesar de ainda com estudos com curto tempo de seguimento, têm resultados excelentes em relação à perda de peso e controle da glicemia. Porém, como acontece com qualquer tratamento médico, existem pacientes que não têm a resposta esperada ao tratamento medicamentoso. Assim, para aqueles onde o melhor tratamento não consegue o objetivo, a cirurgia metabólica aparece com destaque no novo algoritmo proposto.
O artigo do The Lancet contou com a participação do Dr. Ricardo Cohen, Coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, além de pesquisadores dos EUA, Australia e Irlanda. “Esta é a primeira vez que a perda de peso por meio da cirurgia metabólica é mencionada como passo inicial no tratamento do diabetes tipo 2, quando o melhor tratamento clínico não atinge o desfecho planejado. Antes, tratava-se primeiro a glicemia, agora dedica-se ao emagrecimento, que pode interromper a evolução da doença a longo prazo”, afirma Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e um dos autores da publicação.
Dr. Ricardo Cohen destaca que as cirurgias metabólicas, além da perda de peso, levam ao controle do diabetes através de mecanismos que melhoram a secreção de insulina pelo pâncreas e diminuição da resistência dos tecidos à ação da insulina, que levam ao controle dos índices de açúcar na corrente sanguínea. Pode ser realizado em indivíduos que não conseguiram ter o diabetes controlado por meio do melhor tratamento medicamentoso e da mudança de hábitos e que apresentam comorbidades associadas ao diabetes, resultando tanto na remissão da doença e auxiliando na prevenção e até tratamento das doenças renais e eventos cardiovasculares secundários à evolução do diabetes. As ações diretas em relação à perda de peso e os mecanismos de melhora da função do pâncreas e sensibilidade dos tecidos à insulina deixam a cirurgia metabólica como mais uma opção aos médicos, que poderão definir quais pacientes devem ter o acesso à cirurgia priorizado”, completa.
De acordo com Federação Internacional de Diabetes, em todo o mundo, um em cada dez adultos têm a doença. Ao todo são 537 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos que convivem com o diabetes. A estimativa é que em 2030 esse número passe para 643 milhões e em 2045, para 783 milhões. Só no ano passado, o diabetes tipo 2 causou 6,7 milhões de mortes. O Brasil ocupa a 6ª posição no ranking dos 10 países com mais casos, sendo que 15,7 milhões de pessoas vivem com a condição no país.