Feriados, Copa do Mundo, Natal e Ano Novo. À medida que as festividades de fim de ano se aproximam, a tendência é que muitas pessoas saiam da rotina, viagem e, com isso, o impacto nos estoques de sangue de hemocentros de todo o país parece ser inevitável. O problema se repete justamente no período em que a demanda por sangue cresce devido ao maior tráfego de veículos nas estradas e consecutivo aumento de acidentes. De acordo com o DataSUS, são registradas mais de 3,5 mil mortes no trânsito, a cada mês, no país. Mas em dezembro, esse número pode aumentar até 12%, especialmente nos últimos dias do ano.
Vítimas de acidentes de trânsito correspondem a cerca de 12% da demanda do Pronto Socorro do Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR). Em 2022, até metade de novembro, foram mais de 3,5 mil pacientes que entraram na unidade por esse motivo. A demanda tão elevada se explica porque a instituição é referência no atendimento de traumas na capital e região metropolitana. O que também faz com que as doações de sangue sejam essenciais para salvar a vida das pessoas que chegam à instituição. “Os acidentados são os que mais precisam de transfusão sanguínea. E se faltarem bolsas de sangue, as vidas desses pacientes podem ficar em risco”, explica o coordenador médico do hospital, José Arthur Brasil.
A baixa em estoques de sangue acaba interferindo na rotina de todos os hospitais, que contam com um banco para realizar a gestão do consumo de hemocomponentes. Para garantir a segurança do processo de atendimento aos pacientes, são estabelecidos estoques mínimos de cada tipo sanguíneo. No Hospital Universitário Cajuru, que também é referência no atendimento SUS em Curitiba, são realizados cerca de 147 mil atendimentos por ano – entre urgências, emergências, cirurgias e consultas laboratoriais. Para isso, utiliza por volta de 410 bolsas de sangue todos os meses no atendimento aos pacientes.
Apesar da doação de sangue ser considerada um ato de preocupação com a saúde pública, apenas 19% dos brasileiros doam regularmente, segundo levantamento feito pela farmacêutica Abbott. Tanto o medo do processo quanto a falta de informação são impeditivos para que 48% dos brasileiros não tenham o costume de visitar hemocentros. O número diminui ainda mais quando se faz um recorte das pessoas com sangue raro dispostas a fazer a doação. Presente em apenas 1% dos brasileiros, o tipo AB- é ainda mais difícil de ser encontrado, quanto mais ser doado.
Primeiros passos para doar sangue
Considerando que são apenas 14 doadores regulares de sangue para cada mil brasileiros, o estoque está em constante estado de emergência. De acordo com o Ministério da Saúde, no ano passado, 3,1 milhões de doações de sangue foram contabilizadas no país. Para doar, a pessoa deve ter entre 18 e 65 anos, pesar acima de 50 quilos, ter boa saúde, não usar medicamentos e, nos últimos 12 meses, não ter feito tatuagem, endoscopia ou colocado piercing. Antes da coleta, o doador deve dormir, no mínimo, seis horas, não ingerir bebida alcoólica no dia anterior, nem ter praticado atividade física ou fumado poucas horas antes da doação. Ao procurar um hemocentro, deve apresentar o documento de identidade.
Uma única doação pode salvar até quatro vidas. Por isso, é um gesto solidário que dá uma nova chance para pessoas que se submetem a tratamentos e intervenções médicas de grande porte e complexidade, como transfusões, transplantes, procedimentos oncológicos e cirurgias. “É importante que haja a sensibilização de todos nesse processo de doação, afinal sangue não se compra e nem se fabrica. Um ato simples como esse, quando faz parte da rotina, é uma ajuda essencial para que os hospitais sigam no cuidado aos pacientes”, reforça José Arthur Brasil.